Centro Humanitário de Acolhimento Recomeço recebe as primeiras famílias atingidas pela inundação em Canoas

Centro Humanitário de Acolhimento Recomeço recebe as primeiras famílias atingidas pela inundação em Canoas

As famílias serão transferidas para o local maneira gradativa, a partir desta quinta-feira; os primeiros 500 acolhidos chegarão até 10 de julho

Fernanda Bassôa

O espaço conta com serviços de água, saneamento, energia elétrica e wi-fi

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Foi inaugurado nesta quinta-feira o primeiro Centro Humanitário de Acolhimento (CHA), em Canoas que vai acolher, de forma digna, famílias que perderam suas casas na enchente de maio. Denominado Recomeço, o espaço conta com 126 unidades habitacionais cedidas pela Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), com capacidade para receber cerca de 630 pessoas. As famílias serão transferidas para o local maneira gradativa, já a partir desta quinta-feira. Os primeiros 500 acolhidos, que também incluirão mães solo e homens solteiros, chegarão até 10 de julho. A lotação total do espaço deve estar completa até 15 de julho. As famílias desta etapa estavam abrigadas nas dependências da Universidade Ulbra, Clube Fênix e Sesi Cachoeirinha. Esse processo gradativo permite um acolhimento mais próximo e atento da população.

O vice-governador e coordenador do projeto, Gabriel Souza, lembrou que as pessoas encaminhadas para morar provisoriamente no espaço estão dormindo no chão de ginásios de esportes. "A partir de agora, estas famílias terão camas, individualização e aconchego de um lar. Mesmo que de forma provisória, terão principalmente mais dignidade." Gabriel Souza fez muitos agradecimentos e disse que muitas das unidades vieram do Panamá, da Colômbia e de Roraima por meio de voos solidários. "Os abrigos não são locais preparados para receber pessoas por tanto tempo. São locais que tem muito amor, muito carinho, mas não tem estrutura. A palavra que nos move hoje é dignidade."

O prefeito de Canoas, Jairo Jorge se referiu à abertura do Centro como uma semente de esperança lançada diante de momento de muita dificuldade. "Há 60 dias, na madrugada do dia 4 de maio, nós vivemos esta tragédia. Foram momentos difíceis que, em questão de minutos, arrancou sonhos de milhares de famílias. Foram 66 mil pedidos de socorro. Chegamos a 24 mil pessoas acolhidos em 97 abrigos improvisados, que surgiram através da solidariedade e do trabalho incansável de voluntários." Jairo Jorge citou também a etapa da retirada de entulhos e da limpeza da cidade. "Cada caminhão carrega parte da vida das pessoas, de sonhos e de passado. Hoje, estamos diante do recomeço."

Por fim, o Governador Eduardo Leite, enfatizou que para que um projeto possa dar certo é preciso organização, mas acima de tudo sensibilidade e fundamentalmente carinho e cuidado. "Carinho com as pessoas e cuidado com as estruturas. Não é porque é que público que pode ser de qualquer jeito. Tem que ser com capricho. Por trás de todos estes números existem pessoas, gente, seres humanos e vidas. E em uma situação de emergência que a gente vivência, isso é mais fundamental."

Eduardo Leite lembrou que o Estado chegou a registrar 81 mil pessoas acolhidas em abrigos. Hoje, ainda são 6 mil. "Não é ainda o ideal o que se está apresentando aqui, mas é mais um passo, atendendo com mais carinho e dignidade estas vidas, com o oferecimento de estrutura adequada e melhores condições. É preciso que cada cidadão seja visto para além de números."

Com uma área de 30 mil metros quadrados, além das casas modulares, o espaço também conta com 28 containers, que incluem sanitários e chuveiros, refeitório, lavanderia coletiva, berçário, fraldário, posto médico, policiamento 24 horas, ambientes multiuso e espaços para crianças e animais de estimação. Tem, ainda, serviços de água, saneamento, energia elétrica e wi-fi gratuita. Também haverá assistência médica, social e atividades de integração. Os militares da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, do estado do Paraná, realizaram a montagem das unidades. A ação foi realizada por cerca de 50 militares em um período recorde de 30 dias.

Raquel de Moura Ribeiro, ao lado do marido, do pai e dos dois filhos, que passou 60 dias no abrigo da Ulbra depois de perder a casa no bairro Mathias Velho, agora pode ter seu cantinho com a família com mais atenção e privacidade. "É um sentimento de esperança e de alegria, pois vamos ter um pouco de privacidade. A intenção agora é olhar para frente e recomeçar."


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895