Como tradicional cervejaria do 4º Distrito busca se reerguer após enchente em Porto Alegre

Como tradicional cervejaria do 4º Distrito busca se reerguer após enchente em Porto Alegre

Fundada em 2012, Alcapone teve prejuízo superior a R$ 1 milhão, e precisou jogar fora 30 mil garrafas prontas para venda

Felipe Faleiro

Andrews, da Alcapone, ajudou em resgates e apostou na força da equipe para retomar empreendimento

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Uma das cervejarias mais tradicionais de Porto Alegre, a Alcapone, no 4º Distrito, a exemplo de muitos empreendimentos da região, busca plena recuperação após as enchentes que devastaram o negócio. O negócio, fundado em 2012 pelo empresário Andrews Calcagnotto e outros dois sócios, e desde 2017 na zona Norte, registrou prejuízos superiores a R$ 1 milhão, estimou Calcagnotto, somente em perdas de maquinário e matéria-prima, sem contar a frustração no faturamento.

A produção mensal, que era de cerca de 40 mil litros mensais, reduziu por ora pela metade. Mas nada disto diminuiu o sentimento de resiliência do empreendedor, que comercializa as cervejas da marca para dez estados do Brasil, e que recebeu apoio de todas as partes, desde a logística até a produção, feita em parte no interior do estado. Quem vê, hoje, panelas e tanques fervilhando a todo vapor no interior da fábrica, não imagina que, há pouco menos de três meses, o local estava revirado, com água na altura do peito.

Na ocasião, tudo parecia perdido. “Colocamos algumas coisas para cima, na altura da cintura, pensando que a inundação chegaria na altura do joelho. Nunca imaginávamos outro cenário”, afirmou o empresário. Logo, as câmeras de monitoramento pararam de funcionar, fazendo com que a equipe não soubesse o que encontraria quando retornasse. “Tínhamos certo otimismo, mas quando desci na frente da fábrica me dei conta do que havia acontecido. Não havia nada de pé”.

O time adquiriu botes infláveis e Calcagnotto conta que ajudou em diversos resgates de pessoas. Dentro da cervejaria, quando a água baixou, foi possível ter uma ideia mais clara do prejuízo. A Alcapone precisou jogar fora 30 mil garrafas prontas para venda, assim como outras 15 mil vazias. Ao todo, o lixo acumulado lotou 15 caminhões. A equipe passou a atuar na limpeza, que já é delicada, dadas as características do produto, mesmo nos intervalos da produção regular. Com a passagem da enchente, houve reforço.

Nenhum dos cerca de 40 funcionários foi desligado, conta o empresário, e ao menos cinco deles foram diretamente afetados, recebendo ajuda da empresa. “Nos solidarizamos com eles, e podemos dizer que estamos fazendo eventos, alguns com milhares de pessoas, ainda para auxiliar este pessoal. Sempre fomos bem organizados neste ponto”. A loja virtual da marca foi suspensa, pois os pedidos não podiam ser entregues. Durante a tragédia da cheia, a cervejaria criou ainda um clube de assinaturas, com primeiras entregas previstas para agosto.

“Foi algo que nos ajudou muito”, relatou. Com a expertise de 12 anos de mercado, a diversificação de canais de contato foi um importante alento a fim de obter algum recurso, conta o sócio. Ainda agora, há trabalho a ser feito, já que algumas geladeiras e chopeiras da tradicional marca seguem em conserto e outros retornaram há poucas semanas, a exemplo de uma envasadora. “Há mais ou menos umas três semanas voltamos a produzir aqui e a envasar na semana passada”.

Após o mês de maio com faturamento zero e junho com 20% do que era estimado no começo do ano, chegou a hora da retomada. A intenção é buscar financiamentos governamentais para ajudar no retorno. O público pode ainda não ter voltado plenamente, mas a vontade da equipe da cervejaria sim. “Isto aqui é nossa vida. Vamos nos reerguer e trabalhar para isto. O 4º Distrito ainda está de luto, porém acreditamos que conseguiremos retornar com tudo”, afirma o sócio da Alcapone.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895