Comunidade do bairro Anchieta, em Porto Alegre, destaca a força da solidariedade durante a enchente

Comunidade do bairro Anchieta, em Porto Alegre, destaca a força da solidariedade durante a enchente

Moradores destacam falta de preparação de órgão da prefeitura, além da demora para uma solução diante da crise

Paula Maia
A padaria existia há três anos no bairro

A padaria existia há três anos no bairro

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"Era um sonho que estava em pé há três anos e foi destruído. Eu perdi tudo”, disse Eduardo Hass, após a devastação causada pela enchente de maio, em Porto Alegre. Conhecido como ‘Carioca’, Eduardo e a esposa Adriana Pires eram proprietários de uma padaria e minimercado no bairro Anchieta, na zona Norte.

O casal vive a angústia de testemunhar suas vidas serem viradas de cabeça para baixo em questão de horas. A região que abriga muitas empresas, comércios e residências foi bruscamente afetada.
Emocionada, Adriana contou que o sonho de um negócio próprio foi construído com as economias dos dois. O espaço de 38 metros quadrados, cuidadosamente decorado com referências ao Rio de Janeiro, cidade natal de Hass, era um ponto de integração entre os moradores e funcionários do entorno.

Para Adriana também há a frustração com a ineficácia das medidas governamentais para lidar com a situação, como falta de preparação e a demora para uma solução diante da crise. Agora, ela teme uma nova chuva e o risco de que todo o entulho retirado, e que está em pilhas nas calçadas, seja levado pelas águas.

Cervejaria no bairro Anchieta | Foto: Ricardo Giusti

Próximo da padaria, Walcrios Grings da Silva vive uma situação parecida com sua cervejaria. Ele está no bairro há seis anos e revelou que seus 16 tanques de fermentação foram tombados pela água, alguns deles com cerveja.

Silva, assim como Carioca, destaca que a comunidade do bairro só passou pela crise por causa da união e a forma solidária como reagem à situação.

Moradores e empresários locais uniram forças para oferecer suporte mútuo, disponibilizando recursos como jet skis para ajudar nas operações de resgate. Um morador local organizou um grupo de WhatsApp para coordenar esforços de pressão e assistência às autoridades locais para garantir respostas às necessidades urgentes. Para o empresário, a urgência por assistência era só da comunidade, pois não havia retorno imediato da prefeitura.

Cervejaria no bairro Anchieta | Foto: Ricardo Giusti

Silva encara as adversidade como oportunidades de aprendizado: "às vezes, mesmo com essas coisas, elas vêm não só para nos atrapalhar, elas vêm para a gente aprender". "Para mim, foi um momento importante. Sabe, é um trauma, é uma tristeza, mas saber que eu posso contar com amigos e familiares é um alívio”, falou emocionado.

A tragédia sem precedentes também atingiu uma empresa familiar de transporte, que tem um de seus armazéns localizado no bairro Anchieta, e está sob o comando do casal Anderson dos Santos e Vanessa Velasco. Cerca de mil produtos não chegaram aos seus destinos pois foram destruídos pela força da água que ultrapassou os dois metros.

Cervejaria no bairro Anchieta | Foto: Ricardo Giusti

A carga tem seguro, mas muitos itens pessoais e afetivos, como móveis, eletrodomésticos e pertences de sua filha falecida, que estavam em uma parte do galpão, não têm.

Apesar da devastação, ela afirma que todo o dano material pode ser recuperado com trabalho. "Mas te digo de coração, trabalhando conquistaremos tudo de novo. É uma empresa familiar, todo mundo trabalhando unido. O que não tem volta, não tem volta. Isso aqui foi o que menos me abalou na vida”, relatou emocionada.


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