Consumidores gaúchos reclamam da redução das entregas de compras online após a enchente

Consumidores gaúchos reclamam da redução das entregas de compras online após a enchente

Além disto, reclamação também se estende ao alto valor dos fretes

Felipe Faleiro

Procon da Capital registrou 1.321 reclamações sobre problemas com entregas após a inundação

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Depois das enchentes de maio, consumidores de Porto Alegre e do interior gaúcho relataram um aumento preocupante no tempo de entrega de produtos após a compra em lojas online, fato que tem causado frustração aos usuários. Embora a situação já esteja próxima do normal, também segundo os relatos, o Procon da Capital afirma que as falhas de entregas têm o maior número de reclamações entre todos os segmentos aferidos.

A funcionária pública aposentada Aline Caiaffo mora em Atlântida Sul, balneário do município de Osório, no litoral norte. Ela contou que, além da demora, as rotas de entrega mostradas por sites eram “totalmente confusas e sem lógica”. “Quando vim morar longe de centros urbanos se acentuou mais ainda a dependência das entregas. Depois da enchente, ficou bem complicado fazer uma compra mesmo em sites que eu já estava acostumada a adquirir”, contou ela, que diz comprar desta forma desde 2000.

O caso chama a atenção pelo fato de que a região não foi diretamente atingida pela inundação, mas recebeu muitas pessoas de outras partes do Rio Grande do Sul. “Acompanhei toda a evolução do sistema de entrega, e foi como se depois da enchente tivéssemos voltado aos anos 2000, quando era demorado receber uma compra”, acrescentou. Os fretes também aumentaram. A aposentada Lúcia Moraes, moradora do bairro Humaitá, em Porto Alegre, disse que, logo depois da inundação, as compras levavam de 60 a 90 dias para entrega.

“Quando se comprava online, mesmo colocando um endereço onde não estava mais alagado, a mensagem que aparecia era de que ali não entregavam. Comprei um móvel pequeno que custava R$ 700, e o frete era de R$ 275. Coloquei o endereço do meu irmão e ficava em R$ 75. Têm coisas que não chegam. Algumas compras no começo de junho não chegaram até hoje. É uma falta de respeito”, salientou ela.

Gigantes do comércio online, como Amazon, Mercado Livre e Shopee, também foram afetadas pela cheia, e, segundo levantamento da consultoria Neotrust Confi, o segmento teve redução de 46% no faturamento em relação ao período anterior às chuvas. Em Porto Alegre, a queda chegou a 58,9%. Já os Correios reduziram até 70% a entrega de remessas e correspondências, priorizando o transporte de doações no período mais agudo da enchente.

O diretor do Procon de Porto Alegre, Rafael Gonçalves, aponta que, após a calamidade, já foram registradas 1.321 reclamações sobre problemas com entregas, colocando esta categoria na liderança absoluta das demandas. No último trimestre antes da enchente, foram 571. “Acredito que ficou represada e acumulada esta grande quantidade, e a logística não estava preparada para isto. Às vezes, o produto chega com defeito por talvez ter ficado armazenado empilhado, ou, dependendo da situação, a entrega acaba sendo para o vizinho. Gerou um certo tipo de desorganização nas empresas”, salientou ele.

Gonçalves diz ainda que o órgão não recebeu reclamações sobre os valores dos fretes. “Talvez as pessoas tenham absorvido melhor esta situação, e pago um pouco a mais por um frete para garantir a entrega, que mesmo assim teve problemas”, diz o diretor, que ainda dá algumas dicas aos consumidores. “Procurar comprar sempre em sites mais seguros e evitar fazê-lo em páginas de catálogos de empresas”.


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