Estudo aponta presença de metais e contaminação por esgoto na Bacia do Rio dos Sinos após enchente
Análises revelaram a presença de bactérias e coliformes em 100% das amostras; pesquisa segue em andamento por acadêmicos da Unisinos
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Uma pesquisa realizada pela Unisinos revelou dados preocupantes sobre a qualidade ambiental da Bacia do Rio dos Sinos após a enchente de maio. As análises físico-químicas e microbiológicas identificaram traços de metais acima do permitido e presença significativa de bactérias em sedimentos, levantando alertas sobre a contaminação em áreas urbanas e nas margens do rio. A pesquisa segue em andamento, com o monitoramento das áreas.
De acordo com o professor da Escola Politécnica da Unisinos e responsável pelo Sistema de Gestão Ambiental da Unisinos, Marcelo Caetano, estudantes e professores da universidade saíram a campo em julho, logo após as águas baixarem, para realizar coletas em diversos pontos da bacia, desde Taquara até Canoas. No total, foram coletadas 11 amostras de água superficial e 13 de sedimentos. As coletas focaram em áreas afetadas pela enchente, com o objetivo de identificar possíveis contaminantes bioquímicos, como metais pesados e microrganismos, prejudiciais à saúde pública.
Os materiais coletados foram analisados pelo Instituto Tecnológico de Paleoceanografia e Mudanças Climáticas e mostraram que os metais cádmio, cromo, cobre e níquel foram detectados acima dos valores de prevenção em diversos pontos da bacia. No aspecto microbiológico, as análises conduzidas no Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde revelaram a presença de bactérias e coliformes em 100% das amostras de sedimentos. Embora não exista legislação específica que determine os limites aceitáveis desses microrganismos em solos, esses níveis podem ser um indicativo de contaminação por esgoto ou resíduos orgânicos que foram trazidos pelas águas da enchente.
"Sabíamos que o impacto havia sido grande porque o rio subiu em muitas áreas, atingindo postos de combustíveis, indústrias e comércios. Um dos motivadores da pesquisa foi a identificação de água preta e cheiro forte em muitos pontos. Acessamos locais onde havia só lama; outras áreas não conseguimos chegar como, por exemplo, na Praia do Paquetá, em Canoas. Estava inacessível." Segundo Caetano, o resultado da coleta surpreendeu os estudantes diante do alto valor de metal que se fez presente na área urbana.
"O metal ficou acumulado no solo. Isso é preocupante porque, em excesso, causa grande impacto na saúde das pessoas. Pode interferir no sistema nervosos e causar problemas no fígado, se ingerido por alimentos contaminados." O professor da Unisinos destaca que este é um momento de olhar com atenção para o problema que está diante da gente.
Ele explica que o simples fato de ter o contato com a pele, beber a água contaminada, comer uma hortaliça que ficou em contato por dias com a água da enchente, consumir peixes é um indicativo e um alerta de risco para a saúde. "Esse é o objetivo deste estudo. Chamar atenção das pessoas para o risco que a enchente trouxe. É preciso pensar em ações de prevenção e de mitigação. Em termos gerais, a velocidade que as ações de retenção e contenções estão sendo realizadas não é a mais adequada. É preciso investir na mata ciliar em vários pontos do rio para reduzir os impactos ambientais. Isso é prevenção para o futuro."
Conforme o professor, os dados preliminares reforçam a necessidade de monitoramento contínuo dos sedimentos e da água da Bacia do Rio dos Sinos, especialmente em áreas urbanas impactadas pela enchente. O acúmulo de metais e a contaminação bacteriológica podem representar riscos à saúde pública e ao meio ambiente, caso não sejam acompanhados de medidas preventivas.