Fumaça: aumenta procura por atendimentos de saúde na Região Metropolitana de Porto Alegre
Cuidados devem ser redobrados para pessoas que já possuem problemas respiratórios, cardíacos ou imunológicos
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Os ventos do quadrante norte que trouxeram a fumaça das queimadas da região amazônica para o Rio Grande do Sul, além de reduzir a luminosidade deixando manhãs e tardes mais escuras por conta da cor cinzenta no céu, a fuligem que avança pelo Estado já provoca reflexos no aumento dos atendimentos de saúde em algumas cidades da Região Metropolitana.
Em São Leopoldo, a secretária de Saúde, Paula Silva, orienta a população a tomar precauções diante do quadro, principalmente quanto a idosos, crianças, gestantes e pessoas com problemas respiratórios ou cardiovasculares.
Os casos por sintomas respiratórios e a busca por atendimentos têm aumentado na rede de atenção primária do Município. "Na primeira semana de setembro foram atendidos 70 usuários por infecção aguda das vias aéreas superiores. Já nesta semana, até quarta-feira, constam 36 atendimentos pelo mesmo motivo."
A titular da pasta explica que quem apresentar sintomas respiratórios como tosse, falta de ar ou respiração acelerada, deve procurar atendimento médico na unidade básica mais próxima. "Os cuidados devem ser redobrados para pessoas que já possuem problemas respiratórios, cardíacos ou imunológicos, mantendo ao alcance os medicamentos para uso em crises agudas."
Em Montenegro, a fuligem proveniente das queimadas alterou a paisagem da cidade desde o começo da semana e seus efeitos também se manifestam nas unidades de atendimento médico. Desde segunda-feira, vem sendo registrado um leve aumento, de até 5% em alguns dias, na procura dos serviços por adultos e crianças. Os sintomas mais comuns são irritação nos olhos, no nariz e na garganta.
A Secretaria Municipal de Saúde emitiu um alerta para a comunidade, com sugestões para reduzir os efeitos da fumaça. A principal é a hidratação. "É preciso aumentar a ingestão de água para manter as vias respiratórias úmidas", afirma a secretária Andreia Coutinho da Costa. Outra recomendação importante é evitar exercícios e atividades físicas ao ar livre e, na medida do possível, manter portas e janelas fechadas.
Nos momentos de maior poluição, a ordem é usar máscaras de tipo cirúrgico. Modelos como N95, PFF2 ou P100 são adequados para reduzir a inalação de partículas finas. "Os grupos mais vulneráveis, como crianças, idosos e gestantes, devem estar atentos a sintomas respiratórios e procurar atendimento médico se necessário", conclui a secretária Andreia.
A qualidade do ar em Canoas também sofreu alterações com a fumaça resultante das queimadas na região Sul da Amazônia e os casos de Síndromes Respiratórias Agudas representam 18% de todos os atendimentos registrados nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), no período de 1º a 10 de setembro.
De acordo com o Escritório de Resiliência Climática (Eclima), a qualidade do ar teve uma significativa perda, inclusive chegando a ser classificada como ruim a muito ruim, em especial, por conta da quantidade de partículas no ar.
O diretor de monitoramento do Eclima, Alexandre Braz, a cidade não possui uma estação de mediação da qualidade do ar, mas as informações são obtidas pela Administração das estações particulares que existem em algumas cidades da região. "Nossa orientação é que as pessoas façam o uso de máscara, foquem na hidratação, que evitem exposição prolongada na rua, bem como os exercícios físicos ao ar livre."
Braz disse ainda que existem cinco pontos na cidade, desde a enchente, que seguem fazendo a distribuição de água e que as pessoas podem fazer a retirada para se manterem hidratadas. "Caso este cenário se mantenha pelos próximos dias ou se agrave, devemos criar um plano de ação em que esteja inserida também a distribuição de máscaras para os moradores."
Exposição à fuligem traz complicações
O pneumologista e diretor médico do Hospital Dom João Becker, em Gravataí, Fernando Issa, alerta que a exposição à fuligem traz complicações, principalmente para crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias pré-existentes, como asma e alergias. No entanto, não só os grupos de risco, mas também qualquer pessoa pode sentir os efeitos da inalação desse material.
"A fuligem proveniente dos incêndios contém partículas finas que penetram profundamente no sistema respiratório, exacerbando condições como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. A aspiração desse conteúdo pode causar tosse, falta de ar e dor no peito, além de aumentar o risco de infecções respiratórias", garante o pneumologista.
Segundo ele, a irritação nas vias aéreas pode provocar inflamação e broncoespasmo. Com isso, o paciente apresenta sintomas como tosse, sibilos (chiado no peito) e falta de ar. Por isso, torna-se fundamental ficar atento aos sinais do organismo.
"No cenário atual é importante acompanhar um possível agravamento da doença respiratória de base e adotar algumas providências", ressalta Issa. Segundo ele, se faz necessário buscar emergência médica quando, em uma crise respiratória, o paciente experimentar sintomas como respiração rápida e superficial, lábios e unhas azulados, sensação de ansiedade ou pânico, tosse incontrolável e incapacidade de falar frases completas.