Moradores das Ilhas e empresários do 4º Distrito temem retorno das enchentes
A previsão de chuva deixa a população temerosa

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Cristina Cardoso, moradora da Ilha do Pavão há 30 anos, começa a ver a água subindo no entorno da sua casa e teme uma nova enchente. O alta do Guaíba é devido as chuvas do final de semana do Rio Grande do Sul. Cristina contou que em enchentes anteriores, o segundo andar da casa nunca foi atingido. No entanto, a gravidade do episódio de maio fez com que ela saísse de barco de casa. Ela continua abrigada com amigos no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre. Só vai voltar para a sua residência na Ilha após a retirada completa das marcas da enchente.
Mesmo com a ligação da água restabelecida recentemente, há incerteza quanto à sua continuidade, pois novas chuvas podem ameaçar a estabilidade da infraestrutura local.
Além da falta de água, a ausência de luz elétrica por mais de duas semanas complicou ainda mais a vida dos moradores. "A água começou a vir agora nos canos, mas os canos estão quebrados, e cada um quer que arrumar", ela explica, destacando que apenas caminhões-pipa estavam fornecendo água à ilha, um processo que está longe de atender a todas as necessidades.
A expectativa de Cristina é que a situação melhore em breve e que as pessoas possam retornar a suas casas de forma segura. Mas ela afirma que não descarta a possibilidade de sair da Ilha do Pavão, se tiver alguma ajuda do governo para isso. A dona de casa observa que muitas pessoas estão saindo dos abrigos e não têm casa para voltar e afirma que não quer passar por outra enchente novamente.
Uma transportadora, localizada no 4º Distrito, em Porto Alegre, foi fortemente impactada pela enchente. O local foi invadido por 1,70 metros de água, danificando severamente mercadorias e equipamentos eletrônicos destinados a clientes diversos, incluindo hospitais e empresas.
Os prejuízos são incalculáveis, atingindo milhões de reais, conforme relatou Felipe Ferraz, funcionário da empresa. Embora parte dos danos seja coberta por seguros, a cobertura não é total, deixando a empresa com uma enorme carga financeira para lidar.
Ferraz contou que os alagamentos na frente da empresa eram comuns e questiona a ação das autoridades para evitar os transtornos. "A gente entender que existe uma mudança climática é uma coisa, a gente entender que tem altos volumes esperados é outra coisa, mas a gente entender que uma comporta estoura, que casa de bomba não funciona, que limpeza está demorando mais de 40 dias para funcionar, isso é negligência, não tem outra explicação”, disse contando que até ontem a via estava totalmente bloqueada com os entulhos de diferentes empresas ocupando os dois lados das calçadas.
”Havia pilhas de entulhos de três metros. Começaram a limpar ontem a tarde. Contamos com a sorte. Se tivesse chovido, o que se esperava para o final de semana, talvez nem estivéssemos aqui nesse momento”, destacou observando que a possibilidade da empresa sair do bairro não está totalmente descartada.
A força-tarefa do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) para limpar a cidade após a enchente chegou a 19 locais atendidos nesta terça-feira. Desde 6 de maio, quando o trabalho começou nos pontos de resgate, até a noite de segunda-feira, 17, foram retiradas 70.781 toneladas de resíduos das ruas, como restos de móveis estragados, raspagem de lodo acumulado e lixo de varrição.