Moradores de Eldorado do Sul temem nova enchente e desejam sair da cidade

As ruas de Eldorado do Sul estão vazias. Principalmente as do bairro Cidade Verde onde as águas de maio chegaram nos telhados das casas, causando prejuízos incalculáveis e gerando medo aos moradores.

Eva da Rosa é moradora do bairro Cidade Verde há 35 anos. A casa do filho, que fica no mesmo terreno, foi totalmente destruída pela enchente, e agora os dois dividem a mesma residência. A aposentada conta que perdeu tudo, foi resgatada com a água na altura do pescoço e que seu maior desejo é sair da cidade. Ela tenta vender ou alugar a propriedade, mas acha que ninguém vai se interessar devido à condição ruim do local.

"Agora tenho muito medo. Dizem que em setembro vai chover muito. Eu queria sair daqui, mas quem vai querer vir. O pobre não vai querer vir pra cá e perder tudo”.

Valcir Junior critica promessas não cumpridas de melhorias e soluções para as frequentes enchentes na cidade. “Faz anos que eu ouço a mesma história de dique e muro de contenção", desabafa.

Valcir Junior critica promessas não cumpridas de melhorias e soluções para as frequentes enchentes na cidade | Foto: Ricardo Giusti

Thays Soares chegou na cidade com um ano de idade. Hoje com 32 anos deseja ir embora para Santa Catarina. Ela tem uma casa no Centro Novo, um bairro considerado mais alto e que nunca havia registrado enchente, mas que desta vez também foi atingido. Thays revela que não sabe de onde tirou forças para enfrentar os três dias à beira da estrada com a filha de quatro anos, caminhando apenas de meias pelo asfalto.

"Bate aquele medo de uma nova enchente. A grande maioria dos vizinhos não voltaram, nem para limpar as casas. Então tem muita casa ainda que está fechada”, disse Tahys que também observa que os valores dos imóveis sofreram uma queda, o que dificulta a saída da cidade.

A preocupação atual de Thays é com os pais. A sua mãe Maria Lucia, 67 anos, tem uma casa no bairro Cidade Verde e está morando em Porto Alegre, mas seu pai, de 59 anos, continua na casa que foi totalmente preenchida pelas águas e não quer sair do local.

Maria Lucia afirma que já estava acostumada com as enchentes. Ela conta que erguia os móveis e depois comprava outros que tivessem sido danificados, mas que agora chegou no limite do aceitável e que se sente muito mais segura na Capital. Com o valor dos benefícios do governo Federal e Estadual ela comprou duas máquinas tanquinhos para lavar roupas e mandou arrumar a geladeira. A dona de casa afirma que tem muito medo das tradicionais enchentes do mês de setembro e tenta convencer o marido a sair do local.

Thays Soares chegou na cidade com um ano de idade. Hoje com 32 anos deseja ir embora para Santa Catarina | Foto: Ricardo Giusti

Daniela Oliveira mora há três anos em Eldorado do Sul. Ela veio do Piauí e não vê o dia de mudar de cidade. A dona de casa contou que estava viajando nos primeiros dias da enchente e que só teve notícias da situação da casa por mensagens. Ela revela que recebeu apenas o benefício federal como auxílio e destaca que, apesar das enchentes dos anos anteriores, é a primeira vez que recebe algum tipo de ajuda financeira. Daniela teme uma nova enchente e observa que apenas alguns vizinhos voltaram para as suas casas, além de poucos mini mercados próximos para a compra de mantimentos. "A gente tá pagando a casa. Não tem como sair e pagar aluguel”.