Cidades

Noturnos e inofensivos, gambás sofrem com matança e desinformação em Porto Alegre

Aliados da natureza, estes marsupiais, comuns na primavera, fazem controle de pragas, se alimentando de cobras, ratos e escorpiões

Gambás no Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres da Ufrgs
Gambás no Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres da Ufrgs Foto : Pedro Piegas

A primavera e o verão são períodos propícios para a reprodução dos gambás, animais cuja adaptação ao ambiente urbano já é conhecida, embora haja uma luta permanente contra a desinformação, o abandono e a matança por parte dos seres humanos. Estes mamíferos marsupiais estão presentes em toda Porto Alegre, buscando espaços em meio à invasão humana aos seus habitats. De hábitos noturnos, eles são vistos com um preconceito injustificado, dizem especialistas, já que são geralmente inofensivos para pessoas, e considerados excelentes no controle de pragas, pois se alimentam de insetos, escorpiões e inclusive cobras.

Na Capital, é mais comum o gambá-de-orelha-branca, de nome científico Didelphis albiventris, também conhecido como timbu, cassaco ou saruê. “Eles prestam o que chamamos de serviço ambiental. As pessoas precisam entender que gambás não fazem mal algum”, diz a chefe da equipe de Fauna da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), Soraya Ribeiro, também doutora em Diversidade e Manejo de Vida Silvestre pela Unisinos. Além destes pequenos animais, gambás têm uma dieta vasta, composta ainda de filhotes de ratos, frutos pequenos, e inclusive lixo e ração de pets.

E ao contrário do senso comum, os animais vistos na Capital não exalam um mau cheiro, ao contrário dos cangambás, de características completamente diferentes. “A agressão aos gambás, além de ser um crime ao meio ambiente, também gera problemas, como, para cada animal morto, há por volta de dez filhotes que precisam ser resgatados, reabilitados e reintroduzidos”, comentou ainda Soraya, aludindo à vocação matriarcal deste animal, já que as fêmeas carregam os filhotes em suas bolsas, onde se amamentam e permanecem até se desenvolverem plenamente.

O trabalho da Smamus e organizações não-governamentais, como o Coletivo Preserva Redenção, incluem desmontar armadilhas contra gambás e orientar quem as instala, como ocorreu em fevereiro de 2023, no Parque da Redenção. Por isso, para evitar a presença deles, o mais recomendado, segundo Soraya, é o afastamento e o manejo correto do ambiente, não deixando expostas rações ou lixo. Caso haja cachorros na casa, deve-se prendê-los, pois os gambás podem se sentir acuados e intimidados. Caso sejam vistos de dia, provavelmente estão dormindo.

Recuperação

"No final da madrugada, eles acham um canto que pode ser um telhado ou uma árvore em um jardim, pois são adaptados a circular nelas. À noite, vão embora", diz a especialista. Há três locais que recebem gambás órfãos ou resgatados: o zoológico de Canoas, na região Metropolitana; a ONG Voluntários da Fauna e o Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Preservas, ambos na Capital. Neste último, há cerca de 80 gambás atualmente, o maior número entre os animais resgatados, e a maioria de pequenos exemplares.

"Quando uma mãe dessas é atropelada ou mesmo agredida por um ser humano ou animal, as pessoas acabam encontrando ninhadas dentro da bolsa. E aí, claro, com a mãe ferida ou morta, estes filhotes precisam ser encaminhados, e estamos com um número bem expressivo deles agora, dos mais diversos tamanhos", contou o coordenador do Preservas, Marcelo Meller Alievi.

"Infelizmente os bem pequenos acabam morrendo porque são muito imaturos, porém os maiores conseguimos tratar com veterinários e recuperar". Depois do tratamento, eles são reintroduzidos na natureza. "Pela sua importância ecológica, é importante que as pessoas não os agridam e evitem machucá-los, já que eles estão muito próximos de nós e não oferecem nenhum risco", diz ainda o coordenador.

O que fazer caso encontre um

Em caso de necessidade de resgate, em Porto Alegre podem ser contatadas a Divisão de Fauna da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), no telefone (51) 98593-1288; a Patrulha Ambiental da Brigada Militar de Porto Alegre (Patram), no telefone (51) 98501-6672, ou a própria Smamus no número (51) 3289-7517.