Seminário Operação Taquari se encerra com reflexões sobre experiências decorrentes de crises

Seminário Operação Taquari se encerra com reflexões sobre experiências decorrentes de crises

Aprendizados com gerenciamento de desastre no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e na Espanha foram debatidos no evento organizado pelo Comando Militar do Sul

Correio do Povo
Painel “Gerenciamento de desastres: outras experiências em crises” contou com depoimentos de equipes que estiveram na linha de frente no Estado e, também, em outras catástrofes

Painel “Gerenciamento de desastres: outras experiências em crises” contou com depoimentos de equipes que estiveram na linha de frente no Estado e, também, em outras catástrofes

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No último dia do Seminário Operação Taquari 2, organizado pelo Comando Militar do Sul (CMS), que reúne especialistas, representantes de instituições e de comunidades locais para tratar das lições aprendidas na enchente de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, o painel “Gerenciamento de desastres: outras experiências em crises” contou com depoimentos de equipes que estiveram na linha de frente no Estado e, também, em outras catástrofes, como de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e de Valência, na Espanha.

O gerente de operações da Proteção e Defesa Civil de Santa Catarina, Coronel Aldrin, iniciou relatando o trabalho da organização, que se deslocou ao Rio Grande do Sul para prestar auxílio. “Quando observamos as primeiras imagens do que estava acontecendo, veio um sentimento de que algo grande iria acontecer. As próprias imagens do monitoramento davam conta de que, realmente, era um evento de magnitude ímpar, e nós começamos o trabalho de conversação com as forças do Estado”, disse.

Santa Catarina já havia passado por alguns eventos extremos, como pela enchente de março de 1974 registrada na cidade de Tubarão, considerada a maior enchente do século 20, em que vitimou 179 pessoas. Em 2008, chuvas torrenciais e deslizamentos de terra provocaram 135 mortos em Blumenau, evento considerado um “divisor de águas” para a Proteção e Defesa Civil. Todos esses eventos, para o coronel, trazem lições, mas também preparações para eventos futuros – como foi o caso da enchente no Rio Grande do Sul.

“Tenho certeza que o Rio Grande do Sul vai sair desse evento muito mais forte. Os próximos que virão, e virão, o estado não vai mais estar tão vulnerável quanto dessa última vez”, diz. Ele defende que as diferentes forças, independente de onde vêm, devem ser vistas como uma equipe só.

Tão importante quanto trabalhar na resposta ao desastre, a secretaria preza pela preparação. Anteriormente, o órgão era nomeado de Secretaria de Defesa Civil, e em sua nomenclatura foi adicionada a palavra “Proteção” para otimizar a resposta aos desastres. “É muito mais importante do que até a própria resposta termos a prevenção”, disse o coronel Aldrin. Na resposta, independentemente do tamanho dos municípios e da estrutura de cada Defesa Civil, a Secretaria de Proteção segue o mesmo foco: "o nosso ativo principal da proteção é a redução do sofrimento das pessoas", disse.

Em Santa Catarina e em diversos estados, a Secretaria conta com outros órgãos de apoio, como o Grupo de Ações Coordenadas (GRAC), grupo de trabalho que atua no estado para discutir e definir estratégias de prevenção e resposta a situações de emergência em âmbito estadual, regional e municipal. Há, também, parceria técnico-científica com universidades, para auxiliar no escopo científico nas ações.

Ao desastre do Rio Grande do Sul, foram deslocadas do GRAC o Corpo de Bombeiros, Secretaria de Estado e Proteção da Defesa Civil, Centrais da UF de SC, Polícia Civil, Polícia Penal, Companhia de Água e Saneamento e a Polícia Militar. A operação contou com objetivos estratégicos: além de apoiar equipes, as ações contemplaram envio de donativos para o Rio Grande do Sul, como água, fralda, ração animal, e realizaram monitoramento e alerta.

Passado o desastre, a equipe da Secretaria começou a organizar o 1° Simulado Geral de Gestão de Desastres, com previsão de acontecer no dia 18 de maio deste ano. Uma pergunta norteava a organização: "e se fosse em Santa Catarina? A estratégia da equipe daria conta?". Para o coronel Aldrin, as ações de SC na enchente foram uma oportunidade ímpar para colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos pela Secretaria.

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Operação Valência

Na mesma mesa, o Coronel Francisco Javier Moreno Miguel trouxe as experiências e aprendizados do Exército Espanhol na Operação Valência, no desastre que aconteceu em outubro do ano passado. O apoio e resgate contou com a atuação da Unidade Militar de Emergências (UME), corpo integrante das Forças Armadas Espanholas criado por acordo do Conselho de Ministros criado em 2005.

Em uma junção de alta temperatura da água e tempestades potentes, a inundação que começou em 29 de outubro foi descrita como um “tsunami” pelo coronel. Foram acumulados cerca de 700 litros por m² em 10 minutos, afetando principalmente a zona Oeste do município. As inundações provocaram 227 mortes. Os municípios afetados chegaram a 70, com 380 mil desabrigados e perda de 7 mil edifícios e 125 mil veículos.

O exército é preparado para liderar emergências, como para enfrentar incêndios, inundações e problemas meteorológicos, problemas em usinas e refinarias, riscos tecnológicos, e também fornecer apoio logístico em energia. Dependentes titular do Ministério da Defesa, a equipe é composta por 3.346 militares, entre Comando, Tropa e Fuzileiros Navais.

Segundo o coronel, as equipes do Exército passaram por diversos desafios, que começaram desde o deslocamento das equipes até o local, e perpassou pela ausência de informação sobre a situação de desaparecidos e vítimas devido aos problemas na comunicação. Porém, tiveram ajuda das Forças Armadas, de responsabilidade do estado federal, e, no total, foram 8.561 soldados trabalhando dia e noite, somando com 2.800 bombeiros da Espanha.

Entre as principais ações, foram um sem-número de resgates e seguiu pela recuperação de corpos, estabelecimento e manutenção de necrotério, retirada de objetos e veículos e liberação de boas, realização de bombeamentos, desobstrução de coletores, lavagem e limpeza e distribuição de ajuda humanitária. Também auxiliaram na montagem de pontes militares e organizaram envio de donativos e auxílio nos centros de distribuição. Médicos e enfermeiros apoiaram o sistema de saúde regional.

O coronel Francisco relatou ações que não podem ser registradas em dados: o auxílio na recuperação da esperança da população atingida. Além de resgatarem um “Caramelo”, assim como ocorreu na enchente de maio do Rio Grande do Sul, as equipes auxiliaram a combater fake news que invadiam as mídias sociais, e também realizaram ações solidárias, já que o período antecedeu o Natal.

Desastre de Petrópolis

Ainda no painel, o Major Leonardo de Andrade Batista, da 4° Brigada de Infantaria Leve de Montanha do Exército Brasileiro, relatou como foram os trabalhos na operação do desastre de Petrópolis, município da região serrana do RJ, em fevereiro de 2022, com as experiências e lições aprendidas com operações de ajuda humanitária. Com deslizamento de terras após as chuvas, a catástrofe afetou principalmente a região do Morro da Oficina, mas teve desdobramentos em todos os bairros da cidade, especialmente na região Central. Foram 235 mortos, e mais de 4 mil famílias desabrigadas.

O Major perpassou como um diário todas as ações feitas pela Brigada nas horas seguintes ao desastre. Em 2023, a equipe organizou o Manual de Operações de Ajuda Humanitária. “Muito do que a gente fez serviu de base doutrinária para esse documento”, ele reconhece.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895