Sessenta dias após enchente histórica, professor do IPH aponta medidas emergenciais para combater novas cheias em Porto Alegre

Sessenta dias após enchente histórica, professor do IPH aponta medidas emergenciais para combater novas cheias em Porto Alegre

Reflexos e desafios relacionados à cheia seguem presentes na rotina dos porto-alegrenses

Correio do Povo

Dois meses após enchente em Porto Alegre, Centro Histórico ainda guarda marcas da cheia

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Passados os 60 dias da cheia histórica, Porto Alegre ainda convive com o temor de que novos episódios possam acontecer. Desde então, novos repiques do Guaíba foram registrados no final de maio e no final de junho, mantendo milhares de porto-alegrenses apreensivos com a possibilidade de que mais estragos sejam contabilizados, principalmente em regiões que já foram duramente atingidas, como a Zona Norte, a região Central e o Extremo Sul.

Conforme o professor Fernando Dornelles, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), algumas medidas emergenciais e de curto prazo podem ser tomadas para evitar estragos relacionados com novas cheias. Ele aponta como necessário, de forma emergencial, retomar o monitoramento das estações fluviométricas atingidas em maio para recuperar a coleta de dados, além da redução de pessoas e animais em abrigos.

“Onde há sistema de diques e muros, é importante realizar intervenções, mesmo que de caráter temporário, para que não tenhamos ingresso de água. Onde o dique está mais baixo, como nos bairros Sarandi em Porto Alegre e Rio Branco em Canoas, a situação é mais preocupante. Em um novo evento de cheia de igual magnitude, haverá inundação. Por isso, neste caso é fundamental a previsão de nível, para que haja ação de evacuação coordenada”, relatou.

Questionado se serviços de desassoreamento podem ajudar a prevenir cheias, Dornelles destacou que não é possível ter uma recomendação definitiva sem um estudo técnico que indique elementos como o efeito na redução do nível, custo, periodicidade, impactos ambientais e quanto deve ser rebaixado. “Por fim, é necessário comparar com outras alternativas de controle. Assim, de posse destas informações, podermos tomar a melhor decisão, que tenha o maior efeito em reduzir os prejuízos pelo menor custo”, completou.

Apesar de ser um tema complexo, o professor do IPH afirmou ser favorável à regionalização, através de um serviço único, dos sistemas de proteção contra inundações na região metropolitana. Atualmente, cada prefeitura, como Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo, é responsável por operar e realizar manutenções nos seus sistemas. “Isso melhoraria o serviço e tornaria mais eficiente por ter um único corpo técnico para toda a região, que ao padronizar procedimentos e equipamentos, tonaria mais fácil toda a atividade de operação e manutenção dos sistemas”, reforçou.

Além disso, Dornelles ressaltou sobre a necessidade do planejamento para este momento do retorno de moradores atingidos para suas casas. Segundo ele, é preciso avaliar cada caso e a estrutura disponível para a área. Onde não há proteção por sistema de diques e comportas, como na região das Ilhas e no Extremo Sul, a recomendação seria não retornar para casas que foram destruídas.

“É zona de passagem de cheia, onde a água tem grande velocidade e gera grandes profundidades de inundação, com poder destrutivo e grande risco de morte. Já nas regiões mais altas onde a inundação foi menor, não atingindo o 2º pavimento, há a possibilidade de retorno. Porém, é preciso rever os protocolos de contingência com melhoria no sistema de previsão e alerta de cheias, e analisar se deve se permitir novas construções nestes locais”, alertou.

Já nas áreas onde há sistema de proteção, o professor entende que o retorno não deve ter nenhum tipo de impedimento. Entretanto, deve-se implementar um protocolo de contingência no caso dos sistemas falharem, como ocorreu em maio. “É necessário que, ao se ter uma previsão de níveis em que a cota de água fique significativamente alta, a população fique de prontidão para uma eventual evacuação da área. E que isso seja realizado de forma coordenada”, finalizou.

Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, a região das Ilhas, que não é protegida pelo sistema de contenção de cheias da Capital, passará por um estudo específico que será contratado via Projeto de Cooperação Técnica Internacional com o Plano de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD).

Ele reforça que o projeto foi concebido ainda antes da enchente, ponta conta da demanda local no processo de revisão do Plano Diretor. O prazo previsto para o desenvolvimento do plano é 18 meses a partir da contratação.

“Ele é composto por um plano emergencial, para buscar uma solução rápida para a população local; um plano urbanístico ambiental, que contará com propostas de mitigação e recuperação das áreas; e um plano de monitoramento e avaliação permanente do território, o qual inclui um plano para a gestão de riscos e desastres e gerenciamento de emergências. Os resultados poderão se refletir também para os padrões de ocupação no Sul e Extremo Sul da Capital”, salientou Bremm.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895