Três meses depois da enchente, legado é de ruínas e abandono no Túnel Verde, em Porto Alegre

Três meses depois da enchente, legado é de ruínas e abandono no Túnel Verde, em Porto Alegre

Moradores afetados deixaram suas residências após invasão da água do Arroio do Salso

Felipe Faleiro

Áreas atingidas pela enchente no Túnel Verde bairro Ponta Grossa.

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A enchente de maio ainda mostra suas marcas em diversos pontos da zona Sul de Porto Alegre. Ainda que a reconstrução já tenha sido feita em vários bairros, prosseguem entulhos de casas em vias como a rua Jacipuia, no bairro Guarujá, bem como residências destruídas pela força da água no loteamento Túnel Verde, bairro Ponta Grossa. Neste local, são várias as moradias em que sobraram apenas as paredes externas e lixo, sem portas, janelas ou portões, refletindo o abandono por parte dos antigos moradores, que optaram pelo recomeço longe do pesadelo.

O aposentado Luiz Domingos Serris contou que morando na casa do enteado, na rua Evaldo Queirós de Figueiredo, a última antes do Arroio do Salso, área bastante afetada pela cheia. A moradia, segundo Serris, é provisória, já que, muito em breve, ele e a esposa se mudam para Tramandaí, no litoral norte, onde ambos têm um terreno. A casa onde eles estão teve a piscina deslocada pela água, e, por isso, os moradores originais tiveram de retirá-la do chão, deixando-a sobre o pátio, formando um enorme buraco abaixo do piso.

Em seguida, se mudaram para a Vila Cruzeiro antes de ceder a residência ao casal. “Desde 2010 estamos na luta para que possa ser feita alguma melhoria aqui na Ponta Grossa”, afirmou ele, que obteve nesta semana o bônus-moradia da Prefeitura, no valor de R$ 127 mil, ainda da enchente de setembro de 2023. “Aqui em Porto Alegre não se encontra imóvel neste valor, não com escritura, averbação, sem qualquer dívida”, salientou Serris.

Originalmente, ambos moravam ao lado, em outra casa cujo exterior está limpo, mas no interior, todos os móveis estão como a cheia de maio os deixou, seja em cima de pallets e outras estruturas. Serris e a esposa ainda não conseguiram retirá-los de lá. Fogão, geladeira e uma máquina de lavar estragaram, enquanto os armários estão desmanchando. Ao menos uma prateleira foi doada por amigos para manter organizados talheres e outros itens.

O que ainda puder ser aproveitado vai ser doado a uma instituição de caridade, contou o morador. “Nunca entrou água assim aqui. Agora, vamos ter que praticamente recomeçar do zero. Vim para cá em 2009, vindo de Barra do Ribeiro e faz 15 anos que peço para limparem este arroio, e ninguém faz nada”, disse ele. Procurado para comentar, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) afirmou que trabalha no projeto das obras de macro e microdrenagem no Túnel Verde.

O órgão disse que a Secretaria Municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos (SMPAE) formalizou, junto ao Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), um financiamento de R$ 45 milhões para o projeto, que terá investimento total de R$ 47,3 milhões. A previsão, prossegue o Dmae, é que a licitação seja iniciada até o final de 2024, e que as obras se estendam por três anos.


Correio do Povo
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