Trabalhadores rodoviários cruzam os braços e fazem vigília em Canoas

Trabalhadores rodoviários cruzam os braços e fazem vigília em Canoas

Conforme o presidente do sindicato, os trabalhadores deverão permanecer no local por tempo indeterminado

Fernanda Bassôa

A decisão de greve foi acordada com a categoria no último sábado

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Cobradores, motoristas, fiscais e demais trabalhadores da empresa Sogal, que presta serviço de transporte coletivo em Canoas, cruzaram os braços nas primeiras horas desta quarta-feira. Eles se posicionaram em frente ao portão da empresa como forma de protestar contra o não pagamento do 13º salário, das horas extras, parte do vale-alimentação, férias e do salário do mês de novembro.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Canoas (SITROCAN), Marcelo Nunes, diz que não foi apresentada nenhuma nova proposta e, portanto, os trabalhadores deverão permanecer no local por tempo indeterminado. “Se for necessário, passaremos o Natal aqui juntamente com as famílias. Faremos vigília em frente à empresa”.

A decisão de greve foi acordada com a categoria no último sábado, caso em um período de 72 horas a empresa não liberasse os depósitos aos funcionários. Duas audiências de mediação foram realizadas juntamente com o Ministério Público, na segunda e terça-feira. Porém, não se chegou a um acordo. Não há previsão de retomada dos serviços. A empresa Sogal se pronunciou em nota.

"A empresa Sogal, através de sua diretoria, vem por meio desta nota, manifestar sua posição para a comunidade canoense, frente ao movimento de greve no sistema de transporte coletivo. Importante reafirmar que o ano de 2020 foi e está sendo muito difícil para todos, em especial para a classe trabalhadora, e os setores considerados essenciais, como o transporte coletivo. Enfrentamos esta pandemia e conseguimos chegar até este momento, mas precisamos esclarecer alguns pontos para que não pairem dúvidas sobre a real situação do transporte coletivo em nossa cidade. Com efeito, é forçoso reconhecer que o 13° salário não será pago na integralidade até o final do ano, como ocorreu nos últimos anos.

O município de Canoas, sensível ao problema, assumiu o compromisso de destinar R$200.000,00 na próxima segunda-feira para pagamento desta parcela, que corresponde a cerca de 25% da verba devida a todos os funcionários, assumindo a empresa a obrigação de pagar o restante em 2021. A proposta, porém, não foi acolhida por uma minoria de trabalhadores presente em assembléia, contrariando vários outros acordos coletivos de trabalho formalizados entre outras empresas e categorias funcionais, cujo pagamento se dará, na maioria dos casos, em até 6 parcelas ao longo do ano de 2021, havendo consenso entre as partes envolvidas.

A Prefeitura de Canoas assumiu este compromisso porque reconhece o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão do transporte coletivo, processo este que tramita  no Ministério Público Estadual  (PA 00739.000018/2019), com este montante devido a empresa, poderemos quitar estas parcelas de forma antecipada já em janeiro de 2021 e equilibrar o contrato de concessão, dever previsto em contrato.

A situação vivenciada pela Sogal não se diferencia das demais empresas do setor, a exemplo de Porto Alegre, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Dois Irmãos e demais cidades da região metropolitana, e outras pelo país, que foram auxiliadas com o aporte financeiro público para fazer frente as debilidades econômicas dos contratos de concessão.

Para deixar clara a grave situação do sistema de ônibus, importante dizer que estamos operando com somente 45% da demanda de passageiros, cuja arrecadação não cobre os custos da folha dos funcionários, aquisição de combustível, pneus e demais insumos, todas as obrigações com empréstimos para aquisições e atualizações da frota, foram renegociados e postergados para o próximo ano, por não ser posível o seu pagamento com esta demanda de passageiros impactada pela pademia.

Com esta receita não há como pagar o 13° salário integralmente até o final do ano. Há necessidade de compreensão, de bom senso por parte da classe trabalhadora e do seu Sindicato. O quadro mais dramático é o do confronto, da greve, da paralisação dos serviços, que determinará um grave abalo na arrecadação da empresa, inviabilizando, por completo, a programação de pagamentos do mês de dezembro. Não se trata de não querer pagar a verba devida aos funcionários, mas do pagamento dentro das reais condições, da possibilidade da transportadora.

A empresa, como é de conhecimento geral, vem realizando enorme esforço para arcar com estas obrigações.
Entendemos, assim, que a decisão de paralisação, não foi a melhor escolha e deve ser refletida pela maioria dos trabalhadores.

Primeiro porque, causa grave colapso na comunidade canoense, que fica desprovida de atendimento essencial para deslocamento aos serviços básicos, com nefastos reflexos no comércio, indústria e demais serviços locais, impactando negativamente toda cadeia de consumo, frustrando legítimas expectativas. Depois, porque a greve não gerará os recursos financeiros para pagamento do 13° salário, ao contrário, agravará a situação da empresa e pode colocar em risco os empregos dos nossos 680 funcionários. O quadro que se desenha é grave e exige compreensão de todos os envolvidos, pelo que contamos com o apoio e consideração neste momento tão difícil."

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895