Alimentação: o desafio de separar o que é modismo das tendências reais

Alimentação: o desafio de separar o que é modismo das tendências reais

No último dia de feira em Paris, organizadores já se preparam para a próxima edição da Sial

Guilherme Baumhardt, de Paris

No último dia de feira em Paris, organizadores já se preparam para a próxima edição da Sial

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Uma das marcas de eventos como o Salão Internacional da Alimentação (SIAL) é inovar e apontar tendências, ou seja, antecipar aquilo que sai dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento para enfrentar o teste da vida real e, quem sabe, virar um produto de sucesso. Nem sempre é uma tarefa fácil. Mas alguns caminhos já ficaram mais claros.

Em 2018, ano do último SIAL (em 2020 ele foi cancelado devido à pandemia) a aposta era a inclusão de insetos na alimentação de seres humanos. Ricos em proteína e de proliferação rápida, muitos apontavam os pequenos bichos como o futuro. Hoje, em 2022, quase ninguém mais toca no assunto. Uma lição, porém, foi aprendida: no ramo da alimentação o pilar mais importante (mais até do que o custo) é o prazer. E por isso os insetos não decolaram – ao menos como alternativa de comida para seres humanos.

No último dia de feira (encerrada nesta quarta-feira), a organização já se preparava para a próxima edição. “O salão de 2024 deve trabalhar para trazer tutoriais de como as pessoas podem se alimentar de forma rápida, em casa, mas sem abrir mão do sabor. É uma das ‘heranças’ da pandemia. Muita gente passou a cozinhar em casa, mas não tem tempo para ficar horas na cozinha. E a indústria precisa estar preparada para atender esta demanda”, afirma Audrey Ashworth, diretora do evento.

Neste sentido há uma grande expectativa para a participação de empresas do continente africano. “Na busca por sabor, as pimentas ganham destaque e cumprem esse papel”, lembra Audrey. Se a presença chinesa despencou – apenas 10% do número verificado quatro anos atrás, resultado das restrições impostas pela ditadura comunista –, a parcela africana aumentou. Na edição que encerrou houve um salto neste sentido: metade dos novos expositores vieram da África.

Outro desafio é o de estabilizar preços e custos. Pesquisas apontam que 19% dos consumidores franceses não estão dispostos a gastar mais para ter qualidade. Se pensarmos que a imensa maioria (81%) ainda coloca produtos com qualidade superior como prioridade, a preocupação surge da comparação com o dado de 2018: na época apenas 2% estavam dispostos a abrir mão de qualidade a favor de preços mais baixos. É um claro sinal do estrago causado pela inflação.

“Temos aí uma ótima oportunidade para o Brasil, que tem qualidade a um custo competitivo”, conclui Audrey Ashworth.

Inflação europeia

Este jornalista costuma usar um shampoo que está disponível no Brasil, mas que tinha preço mais em conta na Europa. Para efeito de comparação: em 2018 uma embalagem de 200ml custava 7 euros. Hoje, o mesmo produto sai por 14 euros. A inflação é um fenômeno mundial.

Internacionalização

O número de empresas brasileiras que buscam o comércio externo vem crescendo. “É um processo longo, que demanda no mínimo 18 meses até ser concluído”, afirma Sarah Saldanha, gerente de internacionalização da Confederação Nacional da Indústria. O foco principal são produtos naturais e orgânicos. Entre eles ganham destaque café ou os preparados (pão de queijo, massas congeladas etc). Para as pequenas empresas, os maiores desafios são a adaptação à legislação e normas. No caso de companhias de maior porte, mudar os processos internos representa o maior esforço.

Start-ups

Há um espaço na SIAL destinado às start-ups, empresas pequenas ou que ainda não passam de uma ideia. O Salão Internacional da Alimentação proporciona o encontro entre duas pontas, quando a criatividade localiza o dinheiro. De um lado, a solução para um problema. Do outro, alguém disposto a investir até que ela se torne, de fato, em algo rentável. Na plateia há curiosos, jornalistas, outros empreendedores e, claro, investidores. Ao final da fala, abre-se uma janela para perguntas. Entre as invenções há novas bebidas não-alcoólicas, como champagne que usa apenas ingredientes orgânicos, até uma água em lata que promete repor o colágeno. Ou ainda uma linha de farinha pouco comum, feita de vegetais como cenoura ou tomate, que é adicionada à farinha de trigo. A ideia é aumentar o nível de proteína e fibras nos pães fabricados pela indústria.  As rodadas têm uma dinâmica interessante. Cada apresentação não pode durar mais do que cinco minutos.


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