Após acordo de paz, Colômbia tenta equilibrar as finanças

Após acordo de paz, Colômbia tenta equilibrar as finanças

País precisa com urgência de reforma tributária para aliviar rombo fiscal gerado pela queda do preço do petróleo

AFP

Após acordo de paz, Colômbia tenta equilibrar as finanças

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Quase tanto como a paz, a Colômbia precisa com urgência de uma reforma tributária para aliviar o enorme rombo fiscal, gerado pela queda prolongada do preço do petróleo. "A reforma é absolutamente necessária. A estrutura tributária colombiana é ineficiente, desigual e arrecada menos que a média da América Latina. Além disso, descansa sobre os altos preços do petróleo, mas essas receitas desapareceram", resume o economista César Ferrari.

Após meses de demora, o governo colombiano apresentou na semana passada um projeto de reforma "estrutural" que aumenta a arrecadação em 2,4 bilhões de dólares (0,8% do PIB) para 2017, enquanto "protege o bolso" dos colombianos mais desfavorecidos.

Entretanto, os críticos, que acusam o governo de ter aplicado nesses anos uma política econômica irresponsável e de não ter preparado o país para a queda dos preços das matérias-primas, consideram que a proposta sobrecarrega os mais pobres e prolonga a desigualdade crônica da Colômbia, resultante, em grande parte, do conflito que atinge o país há mais de cinco décadas.

O Congresso começará logo a debater a proposta e deverá aprová-la antes do final do ano, em meio a um ambiente muito turbulento após a rejeição dos colombianos nas urnas ao acordo de paz firmado entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Embora conte com uma folgada maioria nas duas casas do Congresso, não será fácil para Santos: seu desgaste político após o revés no plebiscito, vozes discordantes em sua coalizão e a feroz oposição do revitalizado líder do "Não" ao acordo, o senador e ex-presidente Álvaro Uribe, poderiam complicar sua aprovação. "O uribismo não quer a aprovação, porque isso torna mais difícil o manejo do país. Se entramos no ano que vem sem reforma, a situação política e econômica se complica, enquanto faltará pouco para as (eleições) presidenciais de 2018", adverte Ferrari, professor da Universidade Javeriana.

A desclassificação mais tarde

O projeto contempla aumentar o IVA de 16% para 19% (com exceção dos produtos da cesta básica), somar 500.000 contribuintes rebaixando o patamar para declarar renda (de 1.165 a 942 dólares, mais de quatro salários mínimos), acrescentar novos impostos aos dividendos e rebaixar os tributos às empresas para melhorar a competitividade.

Embora proponha pela primeira vez prisão de até nove anos para a sonegação de impostos -algo que representa para o governo uma perda anual de entre 3 e 4% do PIB-, o texto não prevê mais recursos para a fiscalização. Também não mexe nos benefícios tributários que os últimos governos concederam às grandes transnacionais para atrair investimentos.

"A proposta prejudica trabalhadores e consumidores de rendas mais baixas e beneficia as grandes empresas, pois mantém seus benefícios tributários que geram o rombo fiscal todos os anos", explica Mario Valencia, porta-voz de Justiça Tributária, uma rede de economistas especialista no tema.

Para Valencia, a Colômbia, que segundo ele tem uma sociedade que classifica seus cidadãos por estratos, "precisa de uma reforma tributária para que os mais ricos paguem mais". A reforma busca satisfazer as demandas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), na qual a Colômbia está prestes a entrar, e das grandes agências de classificação de risco dos Estados Unidos, que alertaram que poderiam rebaixar sua nota ("BBB"), o que encareceria o futuro endividamento. "Com essa proposta provocariam tamanha inflação e queda do PIB, que por essa razão resultaria em uma desclassificação mais tarde", ironiza o economista Ferrari.

Convicto de que o projeto tinha que incluir medidas impopulares, o ministro de Fazenda, Mauricio Cárdenas, esperou os resultados do plebiscito para apresentá-la. O governo, que enfrenta um déficit fiscal de quase 4%, uma inflação acumulada de 5,25% e uma queda da previsão de crescimento de 3 para 2,5% para 2016, esperava a vitória do 'Sim' ao acordo de paz para receber investimentos milionários, empréstimos a juros baixos de instituições financeiras e ajuda internacional para financiar o custoso pós-conflito, algo que por enquanto foi congelado.

Em uma entrevista à imprensa local na segunda-feira, Cárdenas admitiu que parte da arrecadação adicional de impostos será destinada aos recursos que "o pós-conflito requer".

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