Após quedas seguidas, dólar volta a subir e fecha em R$ 5,38

Após quedas seguidas, dólar volta a subir e fecha em R$ 5,38

Com política e exterior, Ibovespa terminou o dia em baixa de 1,13%, a 86.949,09 pontos

AE

No mercado à vista, moeda americana fechou com valorização de 1,97%

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O dólar voltou a subir após fechar em queda por seis pregões seguidos. O noticiário político interno pesou nesta quinta-feira, de acordo com profissionais das mesas de câmbio. O embate entre Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) fez o real ir na contramão de outras moedas emergentes, que ganharam força ante o dólar. No final desta tarde, notícias de que o presidente Donald Trump fará uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira para falar sobre as tensões com a China fizeram a moeda americana acelerar a alta e bater máximas. O real teve o pior desempenho nesta quinta-feira no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas. No mercado à vista, o dólar fechou com valorização de 1,97%, cotado em R$ 5,3832. No mercado futuro, o dólar para junho foi a R$ 5,3975.

Bolsonaro pediu um "basta" ao Supremo e disse que "ordens absurdas não se cumprem, temos que botar um limite", sobre as ações recentes do STF, no inquérito das fake news. Na tarde de hoje, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que as declarações de Bolsonaro "são muito ruins" e vão no "caminho contrário contra tudo o que começamos a construir com todos os poderes", além de gerarem insegurança.

"O fator político pesou, essa guerra entre STF e governo está ficando pesada, investidores estão vendo com preocupação", afirma o responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagen. "O exterior também não ajudou." Nesse ambiente, os investidores aproveitaram para realizar lucros das quedas recentes, ressalta ele. No mês, o dólar ainda acumula queda de 1%.

No exterior, o dólar caiu ante divisas fortes e emergentes, em meio a nova rodada de indicadores ruins da economia americana e aumento da tensão com a China, que hoje aprovou uma lei de segurança nacional para Hong Kong. Após a notícia da entrevista de Trump amanhã sobre a China, os ativos de risco pioraram e o dólar reduziu a queda ante emergentes.

Os estrategistas do banco NatWest avaliam que Trump pode optar por uma resposta mais "simbólica" para retaliar a decisão chinesa sobre a Hong Kong, como sanções contra indivíduos, mas também pode adotar medidas mais duras, como elevar novamente tarifas sobre produtos chineses. Qualquer que seja a alternativa da Casa Branca, pode haver impacto nos ativos de risco, sobretudo em um momento de otimismo alto dos mercados com o processo de reabertura das economias europeias e dos estados americanos, ressaltam eles.

Sobre o real, o coordenador do centro de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), José Julio Senna, disse em vídeo hoje que as últimas semanas têm sido marcadas por forte depreciação do real e o BC tem procurado agir "sem muita agressividade", tendo injetado ao redor de US$ 40 bilhões este ano no mercado de câmbio. "Tirar a mão do câmbio totalmente não é recomendável, porque não sabemos a velocidade com que a moeda nacional se depreciará. É um território desconhecido, como nos juros perto de zero."

Ibovespa

O Ibovespa fechou em baixa de 1,13%, a 86.949,09 pontos, acentuando as perdas na reta final, enquanto Nova York devolvia os ganhos observados mais cedo e passava a terreno negativo, com a expectativa criada para uma entrevista nesta sexta-feira do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a China. Assim, o principal índice da B3 encerrou esta quinta-feira mais perto da mínima (86.766,92 pontos) do que da máxima da sessão (88.090,67 pontos). As ações de bancos cederam entre 0,36% (BB ON) e 2,59% (Santander), enquanto as PN (-0,80%) e ON (-0,44%) de Petrobras se firmaram em direção única, negativa, e Vale cedeu 1,09% no fechamento. Na semana, o Ibovespa sobe agora 5,81%.

Nesta quinta, os investidores na B3 voltaram a ponderar, ainda que pouco, a emergência de riscos políticos, em semana agitada por sinais de confronto entre o governo e o Supremo Tribunal Federal em torno de operações de busca e apreensão junto a aliados e simpatizantes do presidente Bolsonaro, em inquérito que apura a disseminação de notícias falsas. A retórica se agravou desde ontem à noite quando o deputado Eduardo Bolsonaro fez menção à possibilidade de ação "enérgica" que resultaria em "ruptura institucional". Recorrendo a palavrão na porta do Palácio da Alvorada, o presidente disse a simpatizantes que colocará um "limite" e que operações como as de ontem não se repetirão.

Em outra frente de fricção, o ministro da Justiça, André Mendonça, pediu a suspensão de depoimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e apresentou pedido de "habeas corpus", ao que parece antevendo a possibilidade de prisão do ministro, que defendeu a detenção de ministros do Supremo, aos quais se referiu como "vagabundos" na reunião ministerial de 22 de abril. A apresentação do pedido pelo ministro da Justiça, e não pelo advogado-geral da União como seria a praxe, causou estranhamento a especialistas, que veem no movimento uma tentativa de politizar a questão, elevando o tom de enfrentamento entre os poderes Executivo e Judiciário.

"O exterior positivo ajudava a limitar as perdas aqui, mas o fato é que não caía mais porque o investidor doméstico, incluindo aí fundos de pensão e institucionais, busca rentabilidade na Bolsa, com a Selic em queda. E deve continuar assim, mesmo com risco político e outros fatores que, de outra forma, deveriam estar segurando o índice", diz um operador. "Do jeito que as coisas estão, era para o dólar estar bem mais pressionado e a Bolsa, mais negativa. As coisas, definitivamente, estão diferentes do que costumavam ser", acrescenta.

Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura, apesar da elevação da retórica, o mercado não está de fato preocupado com a crise política. "O que importava realmente era a permanência do Paulo Guedes, o resto não está fazendo preço nos ativos brasileiros", acrescenta Silveira, observando que o veto assinado pelo presidente à ampliação das categorias do funcionalismo que poderiam obter aumentos até o fim de 2021 foi um sinal positivo para a equipe econômica, com Guedes à frente. Assim, o que acabou prevalecendo hoje foi um ajuste de final de mês, observa o economista, com o Ibovespa acumulando até aqui ganho de 8,00% em maio, após avanço de 10,25% em abril. No ano, cede 24,81%.

"A Bolsa caiu hoje 1,13% e o dólar subiu 2%. É mais um movimento de realização, lembrando que 10 dias atrás a bolsa estava ainda nos 77 mil pontos, e tocamos ontem nos 88 mil pontos, em alta bem forte. O Brasil estava ficando para trás em comparação a outros mercados emergentes e o americano", observa Matheus Soares, analista da Rico Investimentos.

Nesta sessão, com giro financeiro a R$ 23,9 bilhões, o Ibovespa chegou a operar um pouco acima da estabilidade nos melhores momentos da sessão - ontem, fechou aos 87.946,25 pontos, em alta de 2,90%, na máxima do dia. Nesta quinta-feira, destaque para Usiminas (+5,26%), mais uma vez entre as de melhor desempenho no Ibovespa, superada apenas por IRB (+5,58%), com Braskem em terceiro lugar (+5,07%). Na ponta negativa, Multiplan cedeu 5,50%, logo abaixo de Iguatemi (-6,40%).

Juros

Os juros futuros fecharam a quinta-feira perto da estabilidade, com viés de alta na ponta longa da curva. As taxas oscilaram a maior parte do dia rondando os ajustes de ontem, refletindo o cenário político pouco animador para a montagem de posições, a agenda de indicadores sem surpresa e o dólar novamente em alta. O destaque do dia foi mesmo o megaleilão de títulos prefixados realizado pelo Tesouro, que chegou a exercer influência pontual sobre as taxas na B3 no meio do dia. A oferta de 12 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN), vendida quase integralmente, representou o maior volume financeiro do ano, segundo fontes do mercado. Logo após o leilão, as taxas tentaram engatar trajetória de queda, renovando mínimas alinhadas a uma melhora do humor nos ativos em Nova York, mas o movimento não prosperou e encerraram de lado, com viés de alta na ponta longa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passou de 3,221% para 3,19% e a do DI para janeiro de 2025 passou de 5,983% para 6,02% e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 6,97%, de 6,932%.

Mesmo num dia de leilão grande de títulos, a liquidez do DI continuou fraca. Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, acredita que a falta de prêmio e o cenário político conturbado estão inibindo o apetite do investidor. Segundo ele, é de se esperar que a curva fique "amassada" num período em que a economia precisa de estímulos, mas tem de ser algo temporário e no Brasil não se sabe o quanto tempo isso pode durar. "Em qualquer lugar do mundo, a curva tem de ter prêmio", lembrou. Além disso, acrescentou, há os efeitos da pandemia que por si só reduziram o tamanho do mercado, colocando equipes de bancos e corretoras em home office.

Na política, o embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) acirrou-se após a operação da Polícia Federal ontem que teve como alvos empresários e políticos próximos ao presidente, em inquérito que apura ataques e fake news contra ministros da Corte. Bolsonaro hoje elevou o tom. "Acabou, porra!", esbravejou o presidente. "Não dá para admitir mais atitudes de certas pessoas individuais, tomando de forma quase que pessoais certas ações", disse.

A quinta-feira teve um fator técnico especial. O leilão chamou a atenção pelo volume de LTN, 12 milhões ante 10 milhões na operação anterior. O Tesouro vendeu quase tudo, 11,7 milhões, enquanto a oferta de 100 mil NTN-F teve demanda mais baixa, com a instituição colocando apenas 55 mil títulos, sendo a maioria (40 mil) no vencimento de 2031.

Bruno Mota, diretor da Mesa de Títulos Públicos da Renascença DTVM, afirma que a oferta está alinhada ao discurso do Tesouro, de que iria emitir mais papéis de curto prazo (LTN) e também LFT - vendeu hoje 667,9 mil LFT, ante oferta de até 750 mil. "Está seguindo a cartilha", disse, acrescentando que o colchão de liquidez permite à instituição não emitir papéis longos se não for vantajoso. Além do mais, em outra carta na manga, o Tesouro poderá, em condições mais extremas de liquidez, utilizar recursos do resultado do Banco Central.


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