Cade veta compra da Solvay pela Braskem

Cade veta compra da Solvay pela Braskem

Tribunal administrativo acatou orientação do relator do processo, conselheiro Gilvandro Araújo do processo, conselheiro Gilvandro Araújo, aprovando a suspensão da fusão por unanimidade

AE

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O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vetou, nesta quarta-feira, a compra da petroquímica Solvay Indupa Argentina pela Braskem, do grupo Odebrecht. O tribunal administrativo acatou orientação do relator do processo, conselheiro Gilvandro Araújo, aprovando a suspensão da fusão por unanimidade.

Pesou na decisão o fato de a Solvay ser a principal concorrente da Braskem no mercado de PVC na América do Sul, especialmente no Brasil. "Essa operação resulta da junção de líder e vice-líder na América do Sul", observou Araújo. "A própria Braskem reconhece a Solvay como sua principal concorrente não apenas no Brasil, mas na América do Sul. A própria Solvay enxerga que a rivalidade se diferencia no mercado brasileiro por ser mais intensa do que por concorrentes do mercado internacional", afirmou o relator.

A decisão suspende a transação que havia sido anunciada pelas empresas em 2013, no valor de US$ 200 milhões, pela qual a gigante brasileira passaria a controlar 70,59% do capital social da subsidiária argentina do grupo belga Solvay. O acordo previa ainda que a Braskem poderia fazer uma oferta pública de aquisição (OPA) do restante das ações da Solvay Indupa (29,41% dos papéis da empresa) por mais US$ 90 milhões.

A lista das soluções sugeridas pela Braskem para amenizar o impacto da fusão foi criticada por Araújo. Ele acusou os "remédios comportamentais" propostos pela empresa por serem "muito frágeis e muito fracos". O relator não detalhou as propostas devido à cláusula de confidencialidade do processo. "Vi com muita tristeza a apresentação de propostas insuficiente quando foi dada essa oportunidade", criticou.

Disciplina de preço

O preço da Solvay causa impacto no praticado pela Braskem. Segundo Araújo, a Braskem pratica no País os valores mais altos para a resina de PVC em comparação com mercados como Estados Unidos e China. Segundo o tribunal, a explicação para a diferença de preços no Brasil é que eles resultam da carga de impostos, os custo da logística e de decisões antidumping aplicadas contra a Braskem.

O conselheiro do Cade, contudo, contestou o argumento. "Há grandes diferenças entre preços Braskem e Solvay. O fato do preço da Solvay ser muito menor do que o da Braskem, cerca de R$ 500 (tonelada de PVC), mostra uma história diferente da contada pelas requerentes", frisou.

Para argumentar que há um equilíbrio natural de mercado nacional com base em importações, a Braskem enviou lista de 70 tradings. Essas empresas fariam, segundo a empresa, a mediação entre compradores brasileiros de PVC e agentes internacionais - especialmente empresas dos EUA -, o que seria capaz de equilibrar os preços nacionais a partir da importação.

O Cade entrou em contato com essas empresas e não conseguiu constar a atuação delas. O equilíbrio de preços, segundo o Cade, é feito na América do Sul com base na atuação da Solvay em rivalidade com a Braskem. "A Solvay tem um papel disciplinador sobre os preços da Braskem muito maior do que importadores", disse.

Outorga

As eficiências de produção não compensariam, de acordo com Araújo, o impacto da aquisição da petroquímica argentina pela brasileira. A Solvay Indupa atua nos mercados de resinas termoplásticas e produtos químicos - como soda cáustica, ácido clorídrico e hipoclorito de sódio. A Solvay Argentina detém 99,99% do capital social da Solvay Indupa do Brasil e 58% de participação no capital social da Solalban Energia.

Em 2013, a Braskem venceu a disputa com grupos estrangeiros e anunciou a aquisição da concorrente no mercado de PVC. A transação foi apontada à época como importante para tornar a petroquímica brasileira a quarta maior fabricante de PVC das Américas. A Braskem seria, com a aquisição, a única fabricante nacional da resina e sem influência de concorrente regional. A operação também marcaria a entrada da Braskem no mercado argentino.

A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) defendeu o argumento de que a transação era uma "ameaça ao mercado de PVC do Brasil e do Mercosul". O relator disse que ente os argumentos contrários à transação por concorrentes havia o que classificava a operação como uma "outorga à Braskem de nítido poder" de definir o mercado de resinas termoplástica (PVC).

A conselheira Ana Frazão observou que a fusão não teria foco no mercado internacional por parte da Braskem, como player global, mas como ação para controlar a totalidade do mercado brasileiro. Ela avaliou que a troca de eficiências afirmada pelas empresas não tinha um estudo prévio sobre os ganhos, o que indicava que a fusão tinha o objetivo "simplesmente de assegurar uma posição dominante" de mercado. "Não basta a eficiência. Temos de saber em que medida ela se traduz em benefício para o consumidor", disse.

Na avaliação do relator, durante a leitura do voto, a priorização de eficiências poderia ocorrer em detrimento da Solvay. "Caso a operação fosse aprovada nesses moldes seriam priorizadas eficiência com capacidade de mudar a dinâmica na capacidade de competição da Solvay", observou Araújo.

Novo processo

O conselheiro Márcio de Oliveira Júnior votou conforme orientou o relator, proibindo a compra da Solvay, mas sugeriu que a operação era parte da estratégia de internacionalização da Braskem a partir da incorporação de uma fábrica na Argentina, com oferta consistente de gás natural e acesso a mercados como o chileno. "Me parece que a aquisição é parte da estratégia de internacionalização da Braskem e, se for, me parece que vale considerar", disse.

Oliveira Júnior reconheceu que a empresa argentina "rivaliza" no contexto de importações da América do Sul e que o Cade não poderia deixar de "observar que a maior parte" do que era importado pelo Brasil vinha da Solvay.

O presidente do Cade, Vinícius Marques de Carvalho, afirmou que a venda de ativos para conseguir aprovar a fusão "não foi sequer detalhada de uma proposta de lado a lado" pelas empresas. Ele ressaltou, contudo, que elas podem iniciar um novo processo no tribunal sugerindo a venda de ativos para conseguir aprovar a incorporação da Solvay pela Braskem.

O novo processo, porém, deve encampar apenas uma das duas fábricas que a Braskem queria comprar da Solvay. A empresa do grupo Odebrecht pode, por exemplo, fazer uma oferta futura pela unidade da Argentina.

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