Cenário econômico paralisa contratações no Brasil

Cenário econômico paralisa contratações no Brasil

Varejo deverá contratar menos gente este ano para preencher as tradicionais vagas temporárias

Luís Tósca

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O cenário econômico nacional fez com que as datas comemorativas fossem piores que no ano passado. De antemão o lojista sabe que neste fim de ano será um desafio para recuperar as perdas acumuladas. Pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que o comércio varejista deve preencher apenas 12,5 mil vagas até dezembro nas capitais e cidades do interior do país.

O presidente do CNDL, Honório Pinheiro, entende que as contratações temporárias são uma boa oportunidade para o jovem que procura emprego, mas acredita que neste ano a crise está ameaçando essa expectativa. De acordo com o levantamento, 88% dos empresários não devem contratar funcionários no fim do ano.

Conforme a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o cenário econômico impactou fortemente a confiança do brasileiro. “O empresariado não investiu em estoques nem tinha a intenção de contratar pessoas, apesar do tradicional aumento das vendas com a chegada do Natal”, diz. Ela acredita que as lojas vão estar cheias mas as compras serão de até 22% a menos que no ano passado, já descontada a inflação. “Em 2014 o ticket de compra foi de R$ 125,00 mas neste ano deve ficar em R$ 107,00. Cada consumidor deve comprar até 5 presentes.

A economista salienta que apesar da queda nas contratações não haverá aumento no grau de exigência para as vagas. “Geralmente os empregos temporários de fim de ano não exigem especialização. O critério de escolha pode se dar pela pró-atividade do funcionário, que na hora de fechar a venda pode fazer a diferença”, finaliza Marcela.

Mais gente procurando emprego

O presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse, destaca que na época do Natal o comércio vende bem por uma questão muito simples: as pessoas não deixam de comprar presentes para seus pares. “Não esperamos crescimento neste ano, mas trabalhamos com os mesmos números do ano passado”, destacou. O dirigente entende que em 2015 será preciso incentivar mais as equipes de vendas e trabalhar mais a qualidade do atendimento.

“Teremos uma retração nas contratações temporárias entre 20 e 30% neste ano, e em contrapartida uma procura maior por parte de vagas pelas pessoas que buscam recolocação no mercado”, sentencia. Kruse lamentou que o país esteja atravessando um período de aumento do desemprego, mas disse que a quantidade de pessoas capacitadas disputando os empregos será maior, o que tende a elevar o nível técnico dos trabalhadores.

O presidente do CDL POA, Gustavo Schifino, está otimista em relação à economia gaúcha. Ele vem trabalhando no Programa Reage RS, que terá sua segunda fase entre 1º de dezembro e 15 de janeiro, com o objetivo de pedir à sociedade para não dar voz e vez ao medo. “São 15 entidades envolvidas que estão com a expectativa de faturamento de R$ 400 milhões para o comércio local”, calcula. O objetivo é ajudar na superação do clima de insegurança que se instaurou no Estado, principalmente nos últimos meses, devido ao parcelamento de salários e paralisações do funcionalismo. Schifino disse que o comércio lançará mão dos descontos para aumentar as vendas, estimulando a retomada da economia gaúcha. “O varejo deve fazer promoções expressivas com descontos de 40 a 50% para reaquecer as vendas no comércio”, sintetiza.


Lojas estão cautelosas

As empresas gaúchas seguem cautelosas na contratação temporária. Apesar das promessas de aumento de vendas do Natal, as vagas são poucas e não garantem continuidade em 2016. Em uma loja de brinquedos na rua dos Andradas, no Centro Histórico, o foco hoje são as vendas de Natal. Conforme a gerência, as quatro contratações feitas há uma semana valem até o fim de dezembro. Luana Peres, de 33 anos, que assumiu uma das vagas de vendedora, disse que ficou um ano sem ter a carteira assinada. “Se eu puder vou ficar. Não quero apenas emprego temporário”, revelou.

O gerente de uma loja de roupas masculinas também localizada no Centro disse que no ano passado trabalhou muito com vagas temporárias. Leandro Machado destacou que neste ano foram apenas duas contratações para recompor o quadro de funcionários. “Contratei dois vendedores porque precisava aumentar a equipe”, disse. Machado também contratou um menor aprendiz para atuar três vezes por semana.

O gerente afirma que a crise teve pouco impacto na loja em função da localização, um ponto privilegiado da cidade. Machado calcula que no acumulado do ano teve queda de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. A empresa emprega 13 pessoas, sendo 7 vendedores e um alfaiate.

Pablo da Luz Pereira, de 27 anos, um dos novos funcionários, assinou contrato no último dia 5 de outubro. “Fiquei 5 meses desempregado antes de vir para cá”, explicou. Ele comemorou o fato de que, passado o Natal, vai continuar trabalhando. “É a garantia de emprego e renda.”

Retração atinge comércio

Para se entender o momento econômico do país e o recuo nas contratações, principalmente nas de fim de ano que impulsionam a empregabilidade para o ano seguinte, o economista Gustavo Moraes, professor adjunto do Programa de Pós-Graduação em Economia da PUCRS, afirmou que o cenário econômico brasileiro, a partir de 2010 foi influenciado por três variáveis principais: a queda dos juros, o aumento do grau de formalidade do emprego e a pequena duração do desemprego.

Para ele, estes fatores passaram a nortear os princípios de produção e consumo. “A segurança de renda encorajou as pessoas a comprarem bens de consumo perecíveis, duráveis, e a adquirir imóveis, em uma condição favorável ao desenvolvimento econômico, o que manteve o nível de empregos estável por alguns anos”, ressaltou.

O economista destaca que a partir de 2014 a implantação de nova política econômica provocou elevação rápida dos juros, o que fez com que a inflação aumentasse em ritmo mais acelerado, provocando uma sensação de insegurança nos consumidores. Como consequência desses mecanismos, a população de renda mais baixa sentiu na pele a retração econômica com o consequente corte nas oportunidades de emprego, principalmente nas vagas temporárias.

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