Com exterior, dólar tem o quarto dia de alta consecutivo e fecha em R$ 5,58

Com exterior, dólar tem o quarto dia de alta consecutivo e fecha em R$ 5,58

Bolsa terminou a quarta-feira em queda de 1,6%, aos 95.734,82 pontos

AE

Real e o peso mexicano foram as duas moedas com pior desempenho nesta quarta

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O dólar teve nesta quarta-feira o quarto dia consecutivo de alta no Brasil, acumulando no período valorização de 6,7%, saindo de R$ 5,23 no fechamento do dia 17 e terminando hoje em R$ 5,5869, a cotação mais elevada desde 26 de agosto. O que ditou a piora do câmbio hoje foi o exterior, com o dólar ganhando força de forma generalizada e registrando os níveis mais altos em dois meses ante alguns rivais fortes, como o euro, e subindo forte nos países emergentes. No México, avançou 3,2%. O real e o peso mexicano foram as duas moedas com pior desempenho hoje em uma lista de 34 divisas mais líquidas.

Crescentes dúvidas dos investidores sobre o ritmo de recuperação da economia mundial, em meio ao aumento de casos de coronavírus na Europa e indicadores mistos da atividade nos Estados Unidos provocaram novo dia de fuga de ativos de risco.

No final do dia, a divulgação de uma pesquisa mostrando rápida mutação do coronavírus nos Estados Unidos, tornando-o mais contagioso, ajudou a azedar ainda mais o humor dos investidores. As bolsas caíram forte, puxadas no final da tarde pelas ações do setor de tecnologia, e dólar e iene subiram. O risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, derivativo de crédito que protege contra calotes na dívida soberana, deu um salto de 20 pontos, para 250 pontos, o maior nível desde final de junho.

"O número de casos de coronavírus na Europa continua a crescer rapidamente e é uma crescente ameaça à recuperação da economia", alerta a economista da consultoria inglesa Capital Economics, Melanie Debono, que vê riscos de piora das projeções de crescimento da casa para a economia mundial.

Para o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, os indicadores mostram uma "acomodação" do crescimento mundial. "A segunda onda está aí", destaca ele, ressaltando que a letalidade da covid agora é menor que na primeira onda e as medidas de isolamentos, mais brandas, mas certamente terão impacto negativo na atividade. Para ele, a incerteza sobre os rumos da atividade mundial deve durar de dois a quatro meses, o que pode deixar o mercado mais volátil neste período.

Em meio "ao mar de incertezas cada vez maior" na economia mundial sobre o ritmo de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), o analista de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, destaca que o dólar se fortaleceu e testou máximas ante várias moedas. Foi ao nível mais alto em dois meses ante o euro e a libra; ao patamar mais elevados em seis semanas ante o dólar canadense e desde agosto ante o dólar da Austrália e o da Nova Zelândia.

Ibovespa

Com Vale ON (+2,23%) dando algum suporte ao índice em meio a forte avanço do dólar, o Ibovespa chegou a ensaiar leve e brevemente uma reação à tarde, mas acabou inclinado a novo dia negativo em Nova Iorque, onde o Nasdaq mais uma vez esteve à frente na correção dos preços, em queda de 3,02% no fechamento desta quarta-feira.

Aqui, o índice de referência da B3 encerrou em baixa de 1,60%, aos 95.734,82 pontos, bem perto da mínima, de 95.728,13 pontos, saindo de máxima a 97.388,94, com abertura aos 97.294,37 pontos. Assim, pela quarta sessão seguida o Ibovespa ficou abaixo dos 100 mil pontos, não conseguindo nem mesmo testar a marca no intradia após 18 de setembro. Hoje, encerrou no menor nível desde 30 de junho, então aos 95.055,82 pontos.

Em setembro, as perdas chegam agora a 3,66%, superando as de agosto (-3,44%), quando a recuperação iniciada em abril foi interrompida. O giro financeiro desta quarta-feira foi a R$ 25,2 bilhões, superando o do dia anterior, então muito enfraquecido (R$ 20,1 bilhões). Na semana, o Ibovespa cede agora 2,60%, elevando as perdas a 17,22% no ano.

Uma rodada de comentários de diversas autoridades de política monetária nos EUA contribuiu hoje para reforçar a percepção de que o Federal Reserve fez o possível para dar sustentação à retomada econômica, sem contudo se fazer acompanhar por essencial nova rodada de estímulos fiscais, ante a falta de consenso entre democratas e republicanos no Congresso.

Com a progressão da tarde, a percepção de risco se agravou com a notícia de que Eric Trump, filho do presidente americano, terá de depor sobre negócios da família antes da eleição de 3 de novembro. A proximidade da disputa eleitoral é um dos fatores que ajudam a entender a persistente falta de consenso entre democratas e republicanos sobre novos estímulos.

Hoje, o presidente do Fed de Mineápolis, Neel Kashkari, disse que o BC americano está "fazendo o que pode", mas suas ferramentas são limitadas e precisariam ser complementadas por iniciativas no campo fiscal. "Melhor coisa a se fazer nos próximos meses é colocar mais dinheiro na mão das famílias", disse Kashkari. "Se pudermos armar o Congresso e outros formuladores de política fiscal, oferecendo dados e análises, queremos ter esse papel central", acrescentou.

Por sua vez, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse que o déficit fiscal não é um problema e que, sem novas medidas de estímulo fiscal, o mercado de trabalho vai desacelerar nos EUA. No segundo dia de depoimento ao Congresso, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse hoje que "a recuperação da economia virá mais rápido com ações fiscais e do Fed". "Eu acredito que vamos ter mais apoio fiscal, não vou discutir quando e quanto", ressalvou Powell.

"O Fed tem sinalizado que já fez a parte que lhe cabia, derrubando os juros e provendo liquidez à economia. Sutilmente, tem passado a bola para o Congresso, que precisa decidir se haverá uma nova rodada de estímulos fiscais", diz Shin Lai, estrategista-chefe da Upside Investor Research, acrescentando que os mais recentes dados americanos, especialmente os de consumo, sugerem a necessidade de que mais dinheiro chegue à população.

No Brasil, os mais recentes dados sobre emprego e investimento estrangeiro direto mostram também que a situação econômica não ficará confortável sem suporte direto ao consumo na virada do ano e se o governo não reconsiderar posições sobre conservação ambiental, que contribuem para o afastamento em especial dos investidores com perspectiva de longo prazo.

"A queda nos investimentos de longo prazo, o FDI, é ruim porque pode mostrar perda de atratividade do Brasil para a economia global. Talvez fosse o momento de sinalizar que o governo está comprometido com esta questão (ambiental), mas a oportunidade foi perdida ontem no discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU", observa Shin.

Para complicar a situação, o jornal Washington Post reportou que o maior estudo genético conduzido nos EUA sobre o coronavírus, conduzido em Houston, Texas, mostrou mutação com potencial de evoluir, em meio ao ainda rápido avanço da doença no país. Na Europa, os sinais de uma segunda onda de pandemia se tornaram evidentes nesta virada de verão para outono, já resultando em respostas dos governantes, em países como Espanha e Reino Unido.

Hoje, mesmo com o forte desempenho de Vale (terceira maior alta do Ibovespa no fechamento), não houve como se evitar o retorno do Ibovespa ao campo negativo. "Por aqui, temos um déficit fiscal grande, falta de celeridade nas reformas e a prévia da inflação (IPCA-15), que veio maior que o esperado pelos economistas", observa Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti.

Na ponta do Ibovespa, Braskem cedeu hoje 6,18%, à frente de Totvs (-4,54%) e de PetroRio (-4,52%). No lado oposto, Localiza subiu 13,97%, seguida por IRB (+9,57%) e Vale ON (+2,23%). Petrobras PN e ON fecharam respectivamente em queda de 2,74% e 2,44%, enquanto entre os bancos as perdas também ficaram na casa de 2%, chegando a 2,84% na Unit do Santander.

Juros

A curva de juros teve importante ganho de inclinação nesta quarta-feira, pressionada pelo aumento da aversão ao risco no exterior que impulsionou o dólar no Brasil a até R$ 5,59 nas máximas. Os juros longos fecharam com avanço de mais de 10 pontos-base, superior aos demais vencimentos. Ativos de economias emergentes foram penalizados pelo crescimento da percepção de que uma nova onda de Covid-19 está se fortalecendo nos países centrais e pode comprometer a retomada da economia global.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve vem reforçando a necessidade de mais estímulos fiscais, mas o acordo para o pacote trilionário que poderia dar suporte, em pauta no Congresso, segue emperrado. O clima pesado lá fora acabou se sobrepondo à surpresa com o IPCA-15 de setembro, que subiu acima das estimativas. Como houve leitura benigna dos preços de abertura, o índice não foi capaz de mudar substancialmente o quadro de aposta na Selic.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 2,97%, de 2,923% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,354% para 4,45%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 6,43% (6,304% ontem) e a do DI para janeiro de 2027 fechou na máxima de 7,40%, de 7,263%.

"Há uma preocupação com uma segunda onda de covid-19 e os dados de atividade já começam a indicar perda de ritmo. Isso está repercutindo nos mercados emergentes, com forte valorização do dólar e aumento de prêmios de risco na curva", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, citando como exemplo as quedas dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços no Reino Unidos, zona do euro e Estados Unidos.

Mesmo diante da evolução dos testes com vacinas contra o coronavírus, autoridades já não descartam a possibilidade de voltar a endurecer as regras de isolamento social. Se a situação se repetir nos emergentes, o quadro fiscal se agrava ainda mais no Brasil.

Por aqui, o dólar cravou sua quarta sessão consecutiva de alta, saindo de R$ 5,23 no dia 17 para fechar hoje em R$ 5,5869. Os juros hoje acompanharam a oscilação da moeda, com o DI janeiro de 2027 avançando até 15 pontos-base no intraday. Os vencimentos longos seguem ainda sensíveis ao risco fiscal e, nesta véspera de leilão de títulos do Tesouro, o espaço para queda nas taxas já seria mesmo restrito.

A ponta curta também subiu, contaminada pela tensão generalizada. A aceleração do IPCA-15, de 0,23% em agosto para 0,45% em setembro, superando a mediana das estimativas (0,39%), teve efeito pontual somente no início dos negócios. "A abertura do índice mostra que alta foi concentrada em alimentos, com núcleos em níveis ainda bastante confortáveis", disse Rostagno. O grupo Alimentação e Bebidas subiu 1,48%, contribuindo com 0,30 ponto porcentual para a inflação.


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