Cresce cultura da cerveja artesanal no RS

Cresce cultura da cerveja artesanal no RS

Sucesso da bebida se deve aos microcervejeiros que transformaram paixão em negócios

Stephany Sander

Sucesso da bebida se deve aos microcervejeiros que transformaram paixão em negócios

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Foi se o tempo em que o Rio Grande do Sul era conhecido apenas pelos bons vinhos. As frutas deram lugar ao malte e a cerveja é um produto prestigiado no Estado. Mais de 20 anos se passaram desde que foi aberta a primeira microcervejaria em solo gaúcho e hoje 270 cervejeiros fabricam sua própria bebida, segundo a Associação dos Cervejeiros Artesanais do RS (Acerva).

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“A Acerva foi fundada oficialmente em 2007 e desde então temos registrado crescimento exponencial. Mesmo abrangendo mais Porto Alegre e região Metropolitana, sabemos que muitos cervejeiros estão no interior do Estado e queremos chegar até eles a fim de difundir a cultura artesanal”, explica Francisco Souza, presidente da entidade. A associação promove encontros semanais para que os cervejeiros troquem experiências e degustem a bebida dos outros participantes. “Também desenvolvemos o concurso estadual da cerveja artesanal caseira, e participamos das competições nacional e sub-brasileira.”

Além dos que fabricam para consumo próprio, a Associação Gaúcha de Microcervejarias (AGM) estima que mais de 100 cervejarias artesanais estão em atividade em solo gaúcho. “Somos hoje um quarto da produção de cerveja artesanal do país. As pessoas querem consumir produtos diferenciados e de qualidade, e a cerveja, assim como a gastronomia, vai ganhando espaço”, afirma Humberto Fröhlich, proprietário da Cervejaria Babel de Porto Alegre e tesoureiro da AGM. 

O vice-presidente da associação, Leonardo Sewald, da Cervejaria Seasons, também com sede na Capital, destaca que o Rio Grande do Sul é um dos estados que mais alcançou conquistas no mercado cervejeiro em competições de âmbito nacional e internacional. “O mercado é promissor, pois fomenta diversos setores da economia, como gastronomia e alimentação fora do lar, entretenimento e indústria.”

Segundo ele, há uma mudança de perfil de consumo do brasileiro, que quer mais qualidade, porém, ainda há um longo caminho a percorrer. “Precisamos de mais incentivo para que a indústria das cervejas artesanais se consolide”, afirma Sewald, que também é membro da diretoria da Associação Brasileira de Microcervejarias e Empresas do Setor Cervejeiro (Abracerva).

Ele começou no ramo em 2010, junto com a esposa Caroline Bender. “Queríamos transformar nosso hobby de 11 anos de produção de cerveja caseira em profissão. Nesse meio tempo me formei cervejeiro pelo Siebel Institute (Chicago/EUA), em 2009, onde, além do conhecimento adquirido no curso, também fui exposto ao mercado norte-americano de craft beers, na época ainda inexistente no Brasil.” Ele lembra que começou como uma das menores cervejarias em escala de produção no Brasil e hoje sustenta crescimento médio de volume de produção anual de 110% ao longo destes seis anos de história.

Tanto Fröhlich quanto Sewald concordam que o diferencial da cerveja gaúcha é o fato de ela estar na história de muitas famílias, aliada à união do setor. “Não existe ainda um estilo de cerveja gaúcho, e até mesmo brasileiro, mas para nós, é questão de tradição. Temos muita influência germânica e as famílias de antigamente fabricavam sua bebida. Além disso, uma peculiaridade do mercado gaúcho é o clima de parceria entre os cervejeiros”, diz Fröhlich.

Desafios e união

Tendo como presidente Rodrigo Ferraro, da microcervejaria Irmãos Ferraro, e ainda Rodrigo Yung, da Heilige, como secretário, a AGM está voltada para os desafios do setor, que não são poucos. “Se não houver união não saímos do lugar. Prova disso é a questão envolvendo a batalha pela inserção do Simples Nacional, já que as microcervejarias ainda são tributadas, dentro da lei, conforme empresas de grande porte, mas sem os benefícios que estas empresas maiores tem”, diz Fröhlich. O projeto de adesão de pequenos produtores de cerveja, licores e vinho ao Simples Nacional foi aprovado na Câmara dos Deputados e aguarda apreciação do Senado.

Em 2013 a AGM conseguiu, em negociação com o governo do estado, um incentivo tributário no tocante ao ICMS. “Foi uma vitória, mas ainda há muito caminho pela frente para melhorar a situação do setor, pois a tributação ainda é de cerca de 60% do faturamento das empresas.” Segundo ele, em nações que hoje são consideradas como modelo para o setor, como Estados Unidos e Alemanha, a tributação é progressiva, quem é pequeno recebe um incentivo para começar sob a forma de redução de carga tributária.

Dentro do propósito de angariar mais conquistas surgiu o Projeto Desenvolver das Microcervejarias Artesanais do Rio Grande do Sul, criado pelo Sebrae/RS, em fevereiro do ano passado. A ação, que começa a tomar forma em todo o país, conta atualmente com 45 empresas participantes e tem como objetivo mapear as cervejarias artesanais, desenvolvendo ações para auxiliar os empreendedores a se estruturar e crescer, conforme explica a gestora do Sebrae/RS, Francine Oliveira Danigno. “Estamos colhendo bons frutos, mesmo com muita coisa ainda por fazer”, diz ela, salientando que são atendidas microcervejarias das regiões Metropolitana, Vale dos Sinos, Serra e Centro do Estado, com cursos e oficinas nas áreas de gestão, incluindo marketing e finanças, consultorias tecnológicas do Sebraetec com subsídio de 80%, além de atividades que visam estimular a troca de experiências e as ações cooperadas.

Segundo o Sebrae/RS, hoje, 102 cervejarias artesanais estão regulamentadas no Estado, além das terceirizadas. “São empresas que produzem sua cerveja nas fábricas de outras marcas por ainda não contar com a estrutura física para isso”, diz Francine, ao comentar mais uma vez a união entre os empreendedores. “Nós temos um grupo pelas redes sociais onde se troca muita informação e todo mundo se ajuda. Já aconteceu de uma cervejaria ficar com um freezer estragado para a refrigeração e o pessoal se colocar à disposição na hora”.

Outro exemplo da irmandade da categoria é o Polo Cervejeiro de Porto Alegre. A Capital conta com quase 30 cervejarias artesanais, segundo a Associação Gaúcha de Microcervejarias, sendo 11 delas no bairro Anchieta: Babel, Baldhead, Bardos, Irmãos Ferraro, Lagom, Oito, Portoalegrense, Seasons, Távola, Tupiniquim e Vintage. Juntas, as marcas produzem mais de 100 mil litros de cerveja por mês, além de somar títulos nacionais e internacionais.

A Babel já tem duas medalhas de ouro em competições fora do país. A cerveja Lucky Jack, da marca, foi eleita a melhor Pale Ale Inglesa produzida nas Américas, levando o Ouro na Copa Cervezas das Américas, no Chile, em 2014. Já no ano passado, a Ka’a foi reconhecida como melhor cerveja na categoria Especialidade na South Beer Cup, na Argentina. Outra campeã é a Cervejaria Seasons, que também já recebeu uma medalha de ouro, na categoria herb/spice no 3º Concurso Brasileiro de Cerveja de 2015 com uma bebida que levava manjericão fresco.

Ainda no Anchieta, a Cervejaria Tupiniquim também ganha destaque por ter se sagrado campeã na Copa Cervezas das Américas do ano passado, além de já ter sido eleita a Melhor Cervejaria do Festival Brasileiro da Cerveja de 2015 e 2016. O cervejeiro da marca, Christian Bonotto, salienta que a busca por novas combinações de sabores é resultado de um processo criativo que ocorre em conjunto. “Realizamos estudos e viabilizamos opções, tanto de tendências, quanto de sabores, inovação e ousadia. Também buscamos excelência e melhoramento contínuo de nossos produtos.”

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