Dólar abre semana em queda e fecha o dia vendido a R$ 4,92

Dólar abre semana em queda e fecha o dia vendido a R$ 4,92

Bolsa reagiu perto do fim da sessão e subiu 0,17%

AE

Dólar à vista fechou em queda de 0,19%

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Depois de uma manhã volátil e de operar de lado pela maior parte da tarde, o dólar perdeu força na reta final do pregão e encerrou o dia em terreno negativo. Operadores atribuíram a queda da moeda norte-americana a fluxos pontuais de entrada de recursos e ao tom ameno de declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano).

Com máxima de R$ 4,9725 e mínima de R$ 4,9183, registrada na última hora de negócios, o dólar à vista fechou em queda de 0,19%, a R$ 4,9283. Com as perdas desta segunda-feira, acumula uma desvalorização de 5,68% no mês.

"De manhã, parecia que o mercado iria corrigir para cima, com o ambiente externo, as preocupações com a CPI da Covid e a reforma tributária. Mas o dólar se acomodou lá fora e acabou perdendo força por aqui", afirma Hideaki Iha, operador da Fair Corretora.

A despeito da acomodação ao longo da tarde, o clima ainda é de cautela nas mesas de operação. No exterior, há certa apreensão com o eventual impacto da disseminação da variante Delta do coronavírus e a expectativa para divulgação do relatório de emprego (Payroll) nos Estados Unidos em junho, na sexta-feira. Dados mais fortes que o esperado podem atiçar os debates sobre uma alta mais cedo dos juros norte-americanos, o que poderia abalar as moedas emergentes.

Nesta segunda à tarde, o vice-presidente de Supervisão do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), Randal Quarles, afirmou que as pressões sobre os preços parecem transitórias e devem se dissipar. Ele também disse que, por ora, o Fed não está "atrás da curva" em relação à inflação. O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, afirmou que houve um "progresso substancial" em relação à meta de inflação, o que poderia abrir espaço para o início do processo de redução de estímulos à economia.

"Os Estados Unidos estão crescendo e o risco de inflação está no ar. Mas o Fed não vai mexer nos juros rapidamente ou reduzir a recompra de títulos", afirma Marcos Weigt, head de tesouraria do Travelex Bank, ressaltando que as atenções se voltam agora para o Payroll de junho.

Por aqui, investidores ainda digerem a proposta de taxação de dividendos apresentada pelo governo na última sexta-feira e monitoram os desdobramentos políticos dos trabalhos da CPI da Covid, que apura suposto superfaturamento na proposta da compra da vacina indiana Covaxin.

No mercado, teme-se que o desgaste do presidente da República, Jair Bolsonaro, e novas fissuras em sua base de apoio no Congresso atrapalhem a votação de reformas. O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou notícia-crime contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal sobre suposto caso de prevaricação relacionadas à aquisição da Covaxin.

Weigt, do Travelex, ressalta que o aumento do risco político provoca ruído no mercado e que o dólar já caiu bastante e de forma rápida, o que limita as chances de apreciação adicional do real no curto prazo. "No longo prazo, a perspectiva para o real é boa, mas a moeda se valorizou muito rápido. No momento, eu não sou mais 'vendedor' de dólar", diz o tesoureiro.

Juros

Os juro futuro fecharam em baixa, que no início da sessão se restringia aos vencimentos de médio e curto prazos, mas à tarde se estendeu à ponta longa. Num dia em que o câmbio ajudou a curva desde cedo, alguns fatores tidos como de pressão na primeira etapa foram se dissipando, entre eles o mau humor com a reforma tributária e a expectativa por desdobramentos da CPI da Covid, tema que no início dos negócios ajudava a impor cautela. Além disso, à tarde os yields dos Treasuries ampliaram a queda, com a taxa da T-Note de dez anos voltando a rodar abaixo de 1,50%.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 5,635%, de 5,707% na sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 7,188% para 7,010%. O DI para janeiro de 2025 encerrou a sessão regular em 7,98%, de 8,165% no último ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 8,44%, de 8,56%.

O Boletim Focus trouxe nesta segunda-feira nova piora na mediana do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 (5,90% para 5,97%) e manutenção dos 3,78% para 2022 e de 3,25% para 2023, anos que são agora o horizonte da política monetária do Banco Central. "Mas a projeção de quem respondeu para o IPCA de 2022 nos últimos 5 dias baixou pra 3,71%", observou um gestor. A meta central de inflação para o ano que vem é de 3,5% e para 2023, de 3,25%. Não houve mudança nas estimativas para a Selic em 2021 e 2023, que permaneceram em 6,50%.

Na JF Trust, o economista-chefe Eduardo Velho vê a estabilidade da mediana do IPCA de 2022 em 3,78% pela segunda semana consecutiva como um argumento para reforçar a chance de alta gradual de 0,75 ponto da Selic no Copom de agosto, no contexto "do impacto da queda do dólar e da desaceleração mais intensa dos IGPs (menos moderada no IPCA) e uma tranquilidade relativa do comunicado do Bacen no seu Relatório Trimestral". Para ele, o BC pode atingir um juro neutro, na faixa de 6,5% a 6,75%, sem precisar acelerar o ritmo de alta da Selic.

À tarde, o dólar caiu ainda mais, chegando à mínima de R$ 4,9183, assim como os juros dos Treasuries acentuaram a queda, com a taxa da T-Note de dez anos batendo 1,47%, abrindo espaço para alívio das taxas longas. Estas começaram o dia pressionadas pelo contexto interno negativo relacionado à CPI da Covid e preocupação com os pontos da reforma tributária que envolvem aumento da tributação para empresas e investidores. Ao longo do dia, as posições defensivas foram desarmadas na medida em que não houve novidades vindas da CPI. Só no fim da tarde, o vice-presidente da Comissão e mais dois senadores protocolaram no STF uma notícia-crime contra Bolsonaro, o que, contudo, não gerou reações no mercado de juros.

Sobre a reforma tributária, houve melhora nas expectativas de ajuste em questões polêmicas do texto, após o presidente da Câmara, Arhtur Lira (PP-AL), afirmar, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que o projeto de reforma no imposto de renda é apenas o "ponto de partida" das discussões, que será alterado pelos parlamentares e que o Congresso não tem a intenção de aprovar nada que signifique aumento da carga tributária. Uma das possibilidades aventadas é alteração na alíquota de dividendos para 15%, ante proposta original de 20%.

Bolsa

Bem moderado ao longo da tarde, e afinal neutralizado, o Ibovespa apagou o sinal negativo e obteve leve ganho de 0,14%, aos 127.429,17 pontos no fechamento desta segunda-feira, após queda de 1,74% na sessão anterior, que o distanciou um pouco mais da faixa de 129 a 130 mil pontos que predominava em junho. Faltando duas sessões para o fim do mês, o Ibovespa oscilou nesta segunda entre mínima de 126.628,95 e máxima de 128.066,87 pontos, com giro financeiro a R$ 31,4 bilhões. No mês, os ganhos estão em 0,96% e, no ano, a 7,07%.

Neste começo de semana, fatores internos - a má recepção à proposta de tributação apresentada pelo governo na última sexta, mesmo dia em que houve desdobramentos negativos na CPI da Covid, com potencial para dificultar a governabilidade de Jair Bolsonaro - conjugaram-se a externos, especialmente a cautela sobre a variante Delta do coronavírus, para segurar o Ibovespa, em dia em geral cauteloso também desde a sessão asiática à europeia e americana.

"Houve uma reação diferente na sexta-feira ao pacote tributário, na medida em que se coloca na conta que o governo não costuma obter aprovação para suas iniciativas exatamente da forma como são encaminhadas. Desta vez foi diferente, e há muita atenção agora para a tramitação, em busca de mais clareza sobre essas medidas", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. "É natural então esta cautela em começo de semana com dados importantes, como o Payroll americano, e aqui o IGP-M, novos dados de confiança e também sobre o mercado de trabalho brasileiro", acrescenta Cruz.

Sobre o cenário externo, Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, observa que se, por um lado, o pacote de infraestrutura nos Estados Unidos, embora em dimensão abaixo da esperada inicialmente, sinaliza mais liquidez para a economia americana, por outro a variante Delta do coronavírus parece ganhar força global no momento em que a melhora da situação sanitária tem resultado em normalização da vida social e econômica.

"É preciso acompanhar o efeito que essa variante terá, principalmente sobre a situação hospitalar", diz Attuch, acrescentando como exemplo Israel, um dos países que mais avançaram com a imunização em massa, e que recentemente voltou a exigir o uso de máscaras em ambientes fechados. "O pico de crescimento econômico nos Estados Unidos provavelmente já ficou para trás, enquanto, na Europa, deve ser atingido no terceiro ou no quarto trimestre", acrescenta.

Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para perdas de 2,62% em Iguatemi; de 2,11% em JHSF; de 1,98% em BR Malls, e de 1,94% em Cosan no fechamento desta segunda-feira. Entre as blue chips, o dia também foi negativo para Petrobras (PN -0,17%, ON -0,44%), Vale ON (-1,60%) e para grandes bancos, com perdas entre 0,49% (Bradesco PN) e 1,14% (Itaú PN). Na ponta positiva do Ibovespa, destaque nesta segunda-feira para CVC (+3,62%), Qualicorp (+3,34%) e Ambev (+3,24%).

"Os grandes bancos são grandes pagadores de dividendos e, por isso, diretamente afetados pela possibilidade de taxação em 20% da distribuição dos lucros nesse formato no curto prazo. Por outro lado, no longo prazo, aumenta o estímulo para que essas empresas reinvistam em seus próprios negócios, o que é positivo para seu crescimento e deve amenizar o efeito negativo nas ações", aponta Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.


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