Dólar cai para R$ 5,38 com promessa de reforma e compromisso fiscal do governo

Dólar cai para R$ 5,38 com promessa de reforma e compromisso fiscal do governo

O Ibovespa fechou em alta de 2,82%, aos 102.167,65 pontos, a maior desde 8 de junho

AE

O dólar à vista caiu 1,21%, a R$ 5,08 na venda

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A promessa do governo de avançar com reformas estruturais e cumprir o teto de gastos ajudou o real a ter o melhor desempenho nesta terça-feira ante o dólar no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas.

A divisa americana recuou nos emergentes, em meio a bons indicadores da economia dos Estados Unidos, mas declarações de Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, fizeram investidores desmontar parte de posições defensivas no dólar, mesmo após a queda histórica do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre.

Após encostar em R$ 5,50 na segunda-feira, o dólar operou em queda toda a terça-feira, para encerrar os negócios no mercado à vista em baixa de 1,74%, cotado em R$ 5,3852, o menor nível desde 6 de agosto. Na mínima do dia, operou na casa dos R$ 5,33. No mercado futuro, o dólar para liquidação em outubro era negociado em queda de 1,92% às 17 horas, em R$ 5,3930.

"Se o governo perder a capacidade de convencer os agentes econômicos da sustentabilidade da dívida pública, até podemos ver um risco de melhora no curto prazo para o crescimento econômico, mas seguido por significativa repressão financeira e expansão menor no PIB de médio prazo", comentam os economistas para Brasil do JP, Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira.

Ao mesmo tempo, se o governo conseguir avançar com as reformas, como Guedes prometeu, mesmo que ocorra algum crescimento dos gastos, a perspectiva de médio prazo para o PIB do Brasil pode melhorar, ressalta o JP.

O banco americano melhorou a projeção de queda do PIB do Brasil em 2020, de um tombo de 6,2% para queda de 5,2%. Uma das razões foi a prorrogação do auxílio emergencial, até dezembro, confirmada nesta terça de manhã pelo governo e agora com parcelas de R$ 300, que deve continuar apoiando a recuperação de curto prazo da atividade econômica.

Também pela manhã, Bolsonaro prometeu entregar na quinta-feira uma proposta de reforma administrativa ao Congresso e, em seguida, Guedes reiterou o compromisso com reformas e com o teto. "Um teto sem paredes acaba caindo, e as paredes são as reformas econômicas", disse o ministro aos parlamentares.

"Avanço da reforma administrativa, definição do auxílio emergencial e dados mostrando recuperação da atividade tanto na China como nos Estados Unidos acabam alimentando o apetite ao risco", afirma o economista da Advanced Corretora, Alessandro Faganello.

Ele menciona ainda o reiterado compromisso do governo com o teto e a alta do índice dos gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês) do setor industrial do Brasil em agosto para 64,7 - o maior nível da série histórica. Como reflexo, o Ibovespa subiu 2,8%, superando os 102 mil pontos.

Juros

Os juros futuros fecharam em queda firme, refletindo a melhora na percepção de risco fiscal e político, após a decisão do governo de encaminhar a reforma administrativa ao Congresso nesta semana e a oficialização da prorrogação do pagamento do auxílio emergencial com redução do valor para R$ 300 até dezembro. Além disso, o mercado gostou da participação do ministro Paulo Guedes em audiência pública no Congresso, na qual reforçou o discurso da austeridade fiscal e da necessidade da agenda de reformas e de que sente não estar "sozinho" dentro do governo.

As taxas longas tiveram queda ligeiramente mais acentuada do que as demais, configurando uma desinclinação modesta da curva. Com o alívio nos prêmios, houve redução das apostas de alta para a Selic nos próximos meses.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 2,79%, de 2,843% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 4,044% para 3,96%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 5,77%, de 5,884% na segunda-feira, e o DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,74%, de 6,853%.

Apesar do anúncio do IBGE de um tombo de quase 10% no PIB do segundo trimestre logo cedo, as taxas oscilaram entre alta e estabilidade na primeira hora de negócios. O alívio veio a fim da reunião entre Bolsonaro, ministros e líderes do Centrão.

"Guedes amarra o auxílio e o Renda Brasil com a reforma administrativa, salva o teto de gasto e emplaca uma das mais importantes reformas do funcionalismo público", afirmou Jefferson Lima, gerente da Mesa de Reais da CM Capital Markets. A reforma estava "esquecida" e a expectativa era de que fosse encaminhada apenas no ano que vem. Porém é considerada uma das com maior potencial de economia para o Estado, dadas as enormes despesas com servidores públicos geradas pelo modelo atual.

Quanto ao auxílio, embora o mercado já esperasse a prorrogação e no valor de R$ 300, o anúncio oficial afastou qualquer hipótese de que ficasse nos atuais R$ 600, o que estouraria ainda mais as contas públicas. A decisão de anunciar uma hora depois do PIB ruim foi considerada importante, na medida em que se sabe que as medidas contra a pandemia é que estão evitando um estrago maior sobre a atividade.

As mínimas do dia foram atingidas no começo da tarde, em linha com a dinâmica do câmbio, em reação imediata à participação de Guedes em audiência pública na comissão mista que acompanha a execução das medidas de enfrentamento à pandemia, quando disse que não se sente isolado no governo e garantiu que tem a disposição e energia para continuar propondo reformas. "Sinto a responsabilidade do Congresso comigo e isso me dá força para ficar", afirmou.

Para o estrategista de Mercados da Harrison Investimentos, Renan Sujii, declarações deste tipo num contexto agora mais otimista para as reformas mostram que o ministro "continua lutando muito para manter agenda liberal", a despeito de toda a pressão desenvolvimentista dentro do governo. "Guedes tem defendido o teto de gastos e as reformas com unhas e dentes, continua sendo grande fiador da questão fiscal", disse.

Bolsa

Em recuperação ante as perdas da abertura da semana, o Ibovespa refletiu nesta terça-feira a preferência do mercado por olhar para frente, animado pelos sinais preliminares de entrosamento entre governo e Congresso sobre a necessidade de ajuste fiscal, com iniciativas como a reforma administrativa, cujo encaminhamento foi prometido nesta terça-feira para esta quinta-feira. Ainda que a matéria, complexa, requeira longa tramitação, a indicação dada pelo ministro da Economia, de que não está falando "sozinho", e de que o governo terá base no Congresso para levar adiante o que for preciso, contribuiu para recuperar os preços dos ativos brasileiros.

Assim, o principal índice da B3 recuperou a linha de 102 mil pontos no fechamento e na máxima, então aos 102.237,93 pontos, em alta de 2,89%, saindo de mínima na abertura aos 99.382,02 pontos, após ter encerrado o dia anterior no ponto inferior da sessão, em queda de 2,72%, abaixo dos 100 mil pontos (99.369,15).

Nesta terça-feira, o Ibovespa fechou em alta de 2,82%, aos 102.167,65 pontos, a maior desde 8 de junho (3,18%), com giro financeiro nesta terça a R$ 26,7 bilhões. Nesta abertura de setembro, o Ibovespa acumula perda de 11,65% no ano, em leve alta de 0,02% no agregado da semana.

"O dia positivo lá fora ajudou, e ontem a queda foi exagerada aqui, com a preocupação fiscal. O posicionamento do governo sobre a reforma administrativa agradou, o que botou as ações praticamente na mesma direção hoje, em alta generalizada, à exceção das que se ajustaram à queda do dólar", observa Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante.

Reforçando o viés da sessão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a Casa deverá avaliar com calma a medida provisória que o governo irá editar para prorrogar e alterar o valor do auxílio emergencial, como anunciado nesta terça pelo presidente Jair Bolsonaro. "Devemos trabalhar essa medida provisória com todo cuidado para que a gente possa atender de fato os mais vulneráveis sem dar uma sinalização de descontrole na administração da dívida pública brasileira", comentou.

"O governo tem prometido uma série de iniciativas que, quando chega o dia, não se vê. Mas o mercado acreditou e está contando com pacificação entre governo e Congresso, algo que não é tão plausível assim", diz Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis Economics, acrescentando que a reforma administrativa é matéria "aguerrida" e que, apesar de positiva para a responsabilidade fiscal, não tem efeito imediato sobre o nível de atividade.

Para 2020, Leão projeta retração de 6,8% para o PIB, com recuperação discreta em 2021, quando deve avançar 2,9%. "O momento é de carteira balanceada, sem se deixar levar muito pelas emoções", tendo em vista a situação ainda difícil, observa o economista.

Amparado também pelo desempenho positivo em Nova York, o movimento do dia anterior foi espelhado nesta terça, com sinal trocado: agora, ganhos generalizados por empresas e setores, à exceção de poucas ações, como Marfrig (-3,37%) e IRB (-2,24%), na ponta negativa do Ibovespa na sessão, enquanto Hering (+9,02%) e Hapvida (+6,58%) ocuparam o lado contrário.

Em movimento também oposto ao do dia anterior, a recuperação foi ampla em commodities (Petrobras ON +4,66% e Vale ON +3,49%), bancos (Santander +3,25%, Bradesco ON +3,10% e Itaú Unibanco PN +3,40%), siderurgia (Gerdau PN +4,77% e Usiminas +5,02%) e utilities (Eletrobras ON +2,79%).

A retração de 9,7% do PIB no segundo trimestre, a pior da série histórica que retrocede a 1996, ficou em segundo plano ao longo da sessão, mesmo com a revisão, para baixo, da leitura do primeiro trimestre, em estrago pior do que o antecipado pelo mercado.

Para William Teixeira, head de renda variável da Messem Investimentos, a leitura "deixará algumas sequelas, principalmente no mercado de trabalho, mas esperamos a economia com resultado um pouco melhor nos três meses subsequentes", citando em especial a manutenção de auxílio emergencial, agora a R$ 300, até o fim do ano.

Para Vitor Vidal, economista da XP, "o desafio daqui em diante será mensurar em qual ritmo os auxílios para as famílias e empresas impactarão diretamente a atividade econômica neste segundo semestre e entender, principalmente, como se comportará o mercado de trabalho brasileiro ao passo que a pandemia começar a ceder". Em nota, a XP manteve a projeção de PIB para 2020 em -4,8% e para 2021 em +3,0%.


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