Dólar dispara e fecha perto de R$ 5,00 mesmo com intervenção do BC

Dólar dispara e fecha perto de R$ 5,00 mesmo com intervenção do BC

Essa é a terceira sessão consecutiva com uma alta forte da moeda norte-americana

AE

Moeda norte-americana subia 3,08%

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O dólar emendou na sessão desta terça-feira o terceiro pregão consecutivo de alta firme e ameaçou encostar no patamar de R$ 5,00, registrando máxima a R$ 4,9997 (+2,55%) no fim da manhã. Uma vez mais, o real sofreu com o movimento global de aversão ao risco que levou investidores a abandonar divisas emergentes e bolsas para buscar proteção na moeda norte-americana e nos Treasuries.

O pano de fundo para o tombo dos ativos de risco são as preocupações em torno de uma eventual desaceleração da economia global, em meio à expectativa de alta mais rápida e intensa de juros nos Estados Unidos e preocupações com os impactos de novos lockdowns na China. O Federal Reserve anuncia a nova taxa de juros norte-americana na próxima quarta-feira e a expectativa majoritária é de uma alta de 0,50 ponto porcentual. Uma ala relevante do mercado já aposta em elevação de 0,75 ponto porcentual no encontro do BC americano em junho.

Há também temores de um agravamento das tensões geopolíticas, após a Rússia subir tom em relação à Ucrânia, falando até mesmo em ameaça de conflito nuclear, o anúncio de corte de fornecimento de gás russo à Polônia e a iniciativa conjunta de Finlândia e Suécia para entrar na Otan. Operadores também citaram a piora do ambiente institucional doméstico, com os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos indutores da busca por proteção.

O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - superou os 102,000 pontos (máxima aos 102,342 pontos), atingindo o maior nível desde março de 2020. A taxa da T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, caiu cerca de 2%, rodando abaixo de 2,80%.

O real mais uma vez liderou as perdas entre divisas emergentes, fruto em boa parte, segundo operadores, de movimentos de realização de lucros, dado que a moeda brasileira foi a que mais se apreciou neste ano. Estaria ainda em curso desmontagem de posições vendidas no mercado de dólar futuro, além de operações especulativas e saída de investidores estrangeiros.

A escalada da taxa de câmbio na primeira etapa de negócios fez o Banco Central intervir novamente. Depois de vender US$ 571 milhões à vista na sexta-feira e se ausentar na segunda-feira, o BC fez leilão extraordinário de 10 mil contratos de swap cambial (US$ 500 milhões) no início da tarde, o que ajudou a amenizar parcialmente a febre compradora, embora não tenha em nenhum momento feito o dólar operar com alta inferior a 1%.

Depois de trabalhar ao redor de R$ 4,96 ao longo da tarde, o dólar acelerou novamente na última hora do pregão, com a piora das bolsas em Nova York e o Ibovespa renovando mínimas. No fim da sessão, a moeda avançava 2,36%, cotada a R$ 4,9905 - maior valor desde 21 de março (R$ 4,9445). Nas três últimas sessões, o dólar acumulou valorização de 8,01%. Em abril, a divisa sobe 4,82%. As perdas no ano, que já chegaram a superar 17%, agora estão na casa de 10%.

Para o gestor macro-global da Frontier Capital, Jorge Dib, o principal indutor da perda geral de valor dos ativos de risco nos últimos dias é o ajuste da política monetária americana, com perspectivas de altas sucessivas da taxa básica (Fed Funds), sobretudo após fala do presidente do BC americano, Jerome Powell, na semana passada. As preocupações com a desaceleração da economia chinesa e os desdobramentos da escalada no conflito na Ucrânia teriam papel secundário nesse processo.

"O Powell disse que vai fazer um aumento mais rápido dos juros para o nível neutro, chegando possivelmente ao nível restritivo. O mercado já está precificando altas seguidas de 0,50 ponto porcentual e taxa acima de 3%", diz Dib. "O mercado parece ter acordado só agora para o lockdown na China e o avanço da Rússia na Ucrânia, mas essas são questões acessórias nesse processo de reprecificação".

Dib nota que os preços das commodities sofreram em um primeiro momento, com as preocupações com a China, mas aparentam recuperar parte do fôlego. As cotações do petróleo sobem mais de 3% no mercado internacional e o minério de ferro, que havia desabado mais de 10%, já apresentou queda menor (2,95% no porto de Qingdao, na China).

O gestor ressalta que, apesar da piora das commodities, e da perspectiva de alta de juros nos EUA, dois fatores que deram sustentação à apreciação recente do real continuam na mesa: diferencial amplo entre juros internos e externos e preços elevados de produtos exportados pelo Brasil.

"No câmbio, estamos vendo um movimento de zeragem. As incertezas aumentaram e quem estava com uma posição vencedora está colocando dinheiro no bolso. E o real era quem mais ganhava", afirma Dib. "Muita gente também vendeu dólar com a taxa a R$ 4,60 e agora tem que zerar. Eu arriscaria dizer que o dólar vai se acomodar um pouco abaixo do patamar atual".

Para o diretor da Correparti Corretora, Ricardo Gomes da Silva, o aumento das incertezas aqui e lá fora deve levar o mercado a ficar arisco e, por tabela, demandar mais proteção. Com isso, o Banco Central deve atuar novamente por meio de swaps cambiais (venda de dólar futuro) para tentar conter a taxa de câmbio e evitar novas pressões inflacionárias.

"O BC tenta conter a especulação e dar liquidez. Mas atua também na intenção de segurar o nosso processo inflacionário. Tivemos um choque de commodities com a guerra. Se vier agora uma alta do dólar, será muito nocivo para a inflação", diz Gomes da Silva, que vê até possibilidade de o dólar superar R$ 5,00, mas descarta a volta da taxa de câmbio a níveis do fim do ano passado no curto prazo.

Taxas de juros

A disparada do dólar ante o real foi o principal drive dos negócios no mercado de juros brasileiro nesta terça-feira. O intervalo intermediário da curva foi o mais sensível ao movimento, com avanço de mais de 15 pontos-base ante a véspera. Na parte mais curta, os ajustes foram mais comedidos, uma vez que, mesmo com as surpresas inflacionárias, o Banco Central caminha para o fim do ciclo de aperto monetário. Cautela adicional foi citada pelos agentes também devido à espera dos dados do IPCA-15 de abril, conhecidos na quarta-feira na abertura.

Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 12,953% no ajuste de segunda-feira para 13,020% nesta terça-feira. O janeiro 2024 avançou de 12,572% a 12,710%. O janeiro 2025 saltou de 11,991% a 12,140%. E o janeiro 2027 pulou de 11,815% a 11,980%.

O pano de fundo do dia é o temor dos investidores quanto à inflação e à atividade global. Na semana que vem, é esperado que o Federal Reserve dê uma dura resposta ao elevar as taxas de Fed funds.

Além disso, o mercado está sob tensão com possibilidade de surtos da covid-19 na China. A política de 'covid zero' do governo de Xi Jinping pode levar a uma nova rodada de lockdowns, encolhendo a produção de bens e gerando novas disfunções em cadeias produtivas.

Na quarta-feira, logo na abertura, o mercado saberá os dados do IPCA-15 de abril. É esperada a maior taxa mensal desde fevereiro de 2003, com mediana de 1,82%, a partir de intervalo de 1,10% a 1,95%. O reajuste de preços dos combustíveis e a pressão nos alimentos devem pesar, segundo pesquisa do Projeções Broadcast.

Bolsa

Decepção com o resultado trimestral do Santander Brasil e o mal-estar externo em torno da atividade econômica chinesa - em meio aos lockdowns - e da aceleração inflacionária global mantiveram o Ibovespa no negativo pela sétima sessão consecutiva, igualando em extensão sequência vista pela última vez em maio de 2016, de acordo com AE Dados.

Nesta terça, a referência da B3 encerrou o dia em baixa de 2,23%, a 108.212,86 pontos, entre mínima de 107.977,70 e máxima de 110.684,95 pontos, praticamente equivalente à abertura, a 110.684,23 pontos. O giro ficou em R$ 32,4 bilhões. Na semana, o índice cede 2,58% e, no mês, 9,82% - no ano, o ganho se limita a 3,23%.

Na mínima do dia, o Ibovespa perdeu a linha dos 108 mil pontos, em queda de 2,45%, no menor nível desde 15 de março (107.780,86), enquanto as perdas em Nova York chegavam a 3,40%, no Nasdaq - que fechou na mínima, em queda de 3,95%. Na B3, Vale ON encerrou em baixa de 1,37% e Petrobras também se firmou no negativo ao longo da tarde, com a ON (-0,15%) e a PN (-0,17%), apesar dos ganhos entre 2,40% (Brent de julho, a US$ 104,61 por barril) e 3,21% (WTI de junho, a US$ 101,70 por barril) para o petróleo na sessão.

Os grandes bancos também tiveram queda firme após os resultados do Santander, com o mercado especialmente atento à inadimplência e ao crédito no primeiro trimestre. "A carteira de crédito encolheu 3% no trimestre, um aumento modesto de 5% no comparativo anual, provavelmente o ritmo mais lento de qualquer grande banco no Brasil", afirmam os analistas Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barrajard em relatório do Itaú BBA. A decepção com os números da filial brasileira do banco espanhol manteve o segmento de maior peso no Ibovespa no negativo, com perdas entre 2,25% (BB ON) e 4,55% (Unit do Santander) para as grandes instituições.

Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Locaweb (-8,32%), à frente de Totvs (-6,50%) e de Banco Inter (-6,37%). No lado oposto, PetroRio (+2,47%), 3R Petroleum (+2,24%), CPFL (+1,84%) e Iguatemi (+1,81%). No quadro mais amplo, "com a China 'trancada', investidores preocupados com o ritmo da subida de juros nos EUA e preocupações com a inflação sempre presentes, o mercado segue em ritmo de aversão a risco", observa Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos. "O movimento de queda já está esticado, e em um suporte. Seria interessante uns dias de alta, mas a tendência de curto prazo ainda é de indefinição", aponta Pam Semezzato, analista técnica da Clear Corretora.

Abril tem se mostrado um ponto de inflexão para o Ibovespa, com a referência da B3 a caminho de colher a maior perda mensal desde o ponto mais baixo da pandemia, em março de 2020, quando o índice cedeu 29,90%. O fluxo estrangeiro, em recuperação que se estendeu de novembro de 2021 a março de 2022, tem se mostrado agora reticente, com saída de recursos no mês, em cenário de maior incerteza quanto à inflação global bem como sobre a extensão e o grau de ajuste da política monetária nas maiores economias. No ano, os estrangeiros ainda têm saldo líquido de R$ 64,359 bilhões na B3 até o dia 22, mas os saques no mês totalizam R$ 969 milhões.

"Houve uma inversão de fluxo para o Brasil no primeiro trimestre, também motivada pela guerra na Ucrânia, que afastou a Rússia (como opção entre emergentes), além de uma diminuição de apetite por China, com os problemas por lá. As commodities e o aumento de juros, que se acelerou no último trimestre do ano passado, e certa tranquilidade política favoreceram o Brasil no começo do ano como um ponto de alocação importante", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).

Ele chama atenção em especial para os efeitos sobre o câmbio, agora em reversão, com viés crescentemente "hawkish" nos sinais emitidos pelo Federal Reserve.

"Teve mudança de discurso no Fed, assumindo realidade de inflação global extremamente forte, e de que terá que perseguir com mais contundência um equilíbrio da inflação americana nos próximos dois anos, aceitando aperto monetário maior - inclusive o presidente, Jerome Powell", acrescenta Tingas. O economista espera 0,50 ponto porcentual de aumento na taxa de referência americana na próxima reunião do FOMC, semana que vem, apesar de integrantes do Fed, como James Bullard (St. Louis), defenderem aumento maior, de 0,75 ponto.

"A questão é saber se a taxa do fed fund para, até o fim do ano, entre 2,75% e 3%, ou se chega a 3,5%. Isso significa uma taxa de juros americana competitiva, tendo em vista que é uma moeda de risco muito baixo, quase zero. Há um movimento de reinterpretação sobre taxa de juros, com outros fatores passando a pesar, embora a nossa continue extremamente alta", acrescenta o economista, observando que "a inflação global está acima de qualquer capacidade de previsão". "Continua muito forte e surpreendendo, no Brasil e no mundo. E a economia global já está entrando em ritmo de desaceleração", acrescenta.

Para Tingas, o câmbio em especial, desde a última sexta-feira, tem reprecificado um conjunto de variáveis de risco, que incluem também ruídos domésticos, como a retomada do embate institucional entre o Planalto e a cúpula do Judiciário, após relativa calmaria política no começo do ano, eleitoral.

 


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