Dólar fecha a R$ 4,28, uma nova máxima histórica

Dólar fecha a R$ 4,28, uma nova máxima histórica

Bolsa tem pior semana desde agosto de 2019, fechando nesta sexta-feira a 113.760,57 pontos

AE

A moeda americana acumulou uma valorização de 6,81% no mês

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O dólar fechou janeiro em nova máxima histórica, em R$ 4,2850, com o aumento da preocupação dos investidores dos efeitos da rápida disseminação do coronavírus na economia mundial. Bancos como JPMorgan, Goldman Sachs e Citi já estão revendo suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja da China, dos Estados Unidos ou do mundo. A moeda americana acumulou valorização de 6,81% no mês, a maior desde agosto de 2019, quando o mercado se estressou com a Argentina, por conta das baixas chances de Mauricio Macri ser reeleito.

O real foi uma das moedas com pior desempenho ante o dólar este mês, bem perto da África do Sul, onde a divisa dos EUA acumula aumento de 6,9%. Na semana, a moeda americana subiu 2,40% aqui, marcando a quinta semana consecutiva de ganhos.

A sexta-feira foi novamente dia de estresse no mercado internacional, em meio a notícias de que mais países, como a Suécia, passaram a registrar casos do coronavírus, mais companhias aéreas passaram a restringir voos para a China ou vindos do país asiático e os casos confirmados se aproximaram de 10 mil pessoas.

Com a rápida disseminação da epidemia, o JPMorgan cortou a previsão de crescimento da economia mundial em 0,3 ponto porcentual no primeiro trimestre, para 2,3%. O banco americano, contudo, espera que o impacto negativo da disseminação do vírus não dure muito, devendo durar entre 2 ou 3 meses, com base em experiências históricas com outras epidemias, como a do Sars em 2003. Com isso, o impacto maior no PIB será neste trimestre. Já o Goldman Sachs vê o coronavírus retirando 0,4 ponto do crescimento do PIB americano no primeiro trimestre, mesmo porcentual estimado para a China.

Para o estrategista-chefe da Eleven Financial, Adeodato Netto, certamente deve ocorrer um impacto negativo na atividade econômica mundial neste primeiro trimestre, por conta da série de eventos recentes provocados pelo coronavírus, como fechamentos de fronteiras e restrições a circulação de pessoas. Mesmo que estas ações sejam desfeitas em breve, o efeito negativo não deve se dissipar rapidamente. Por conta do clima de alta incerteza, ele observa que as oscilações dos ativos têm sido agudas, não só aqui como lá fora. O índice de volatilidade VIX, considerado um "medidor do medo" em Wall Street, chegou a saltar 25% na tarde de hoje.

O Banco Central fez hoje leilão de linha (venda de dólar à vista com compromisso de recompra) para rolar contratos que vencem, injetando US$ 3 bilhões. Como foi apenas rolagem, não houve injeção de recursos no mercado e profissionais de câmbio seguiram dizendo hoje que os indicadores técnicos mostram o mercado sem disfuncionalidade. Para o estrategista da Eleven, desde a gestão anterior, o BC não tem feito intervenções no câmbio para determinar um nível para o dólar, mas para evitar disfuncionalidade. Como o dólar se fortalece internacionalmente, o real é influenciado por este movimento. "Essa é a premissa do câmbio flutuante."

Bovespa

O Ibovespa acumulou perda de 3,90% nesta semana, a maior para o intervalo desde a encerrada em 16 de agosto de 2019 (-4,03%), de acordo com o AE Dados, momento no qual os ativos brasileiros, entre os quais o real, sofriam os efeitos da derrota do então presidente argentino Mauricio Macri para o populista Alberto Fernández em prévia eleitoral. Nesta sexta-feira, ainda pressionado pelas incertezas sobre o coronavírus, o principal índice da B3 fechou em baixa de 1,53%, a 113.760,57 pontos, acumulando perda de 1,63% no mês - o primeiro desempenho negativo para janeiro desde 2016.

Na Bolsa, o giro financeiro totalizou hoje R$ 24,2 bilhões, com o Ibovespa oscilando entre mínima de 113.148,36 e máxima de 115.518,20 pontos, em dia de vendas disseminadas, com poucas ações (11) em terreno positivo no encerramento. O movimento negativo chegou a se acentuar na hora final da sessão, com o Dow Jones, índice de Nova York que concentra ações de indústrias, entre as quais companhias com forte geração de receitas no exterior, em queda acima de 2%, nas mínimas do dia. No pior momento aqui, o Ibovespa perdia pouco mais de 2% na sessão.

Além das dúvidas sobre a doença e as consequências para a economia global, em especial para a China, os dados do dia, como o PIB e a inflação na zona do euro, fracos, não contribuíram para melhorar a percepção de risco. O sentimento continua a ser condicionado pelo noticiário sobre o coronavírus, e o que tem chegado até o momento - suspensões de voos, 23 países com casos confirmados e revisões de expectativa de crescimento por consultorias e bancos, especialmente para o primeiro trimestre na China, com efeito global - reforçou a cautela na véspera do fim de semana.

"Na segunda-feira, os mercados da China (Xangai e Shenzhen) reabrem, certamente com muita pressão vendedora, e poderemos então começar a contar os cacos", aponta Ilan Arbetman, destacando a "assimetria" de informação entre a crise atual e episódios do passado, como a SARS (2002-2003) e a H1N1 (2008-2009), o que dificulta a mensuração, pelos agentes econômicos e investidores, da extensão e duração do surto em curso, bem como dos respectivos efeitos sobre a economia global.

Assim, os fundamentos domésticos tendem a permanecer em segundo plano no curtíssimo prazo, avalia Arbetman, chamando atenção para a redução da taxa de desemprego a 11% e a leitura sobre o déficit primário que indicou redução da relação dívida bruta/PIB a 75% - "resultados interessantes divulgados hoje e que passaram em branco, tendo em vista a preocupação com o que está acontecendo lá fora".

"Com tantas incertezas sobre a China, inclusive a transparência das informações, é natural que o dólar fique estressado e a Bolsa realize (lucros), para que se volte a comprar depois com preço melhor - especialmente na véspera do fim de semana, quando muita coisa sempre pode acontecer", diz Ari Santos, operador de renda variável da Commcor.

Juros

Os juros futuros, a exemplo de ontem, terminaram a última sessão de janeiro perto da estabilidade, com viés de alta, num desempenho bem comportado considerando que o dólar hoje atingiu seu pico histórico ante o real em termos nominais, ao fechar em R$ 4,2850. Os investidores mantiveram o sangue-frio ao ver a escalada da disseminação do coronavírus agora para mais de 20 países e com 203 mortes confirmadas, o que já compromete as projeções para o crescimento da economia da China, dos Estados Unidos e, logo, do mundo. Dado o viés desinflacionário do surto, o mercado de renda fixa não embarcou na forte aversão ao risco vista nos demais ativos, amparado na percepção de que os bancos centrais terão de atuar reduzindo juros e até com outras medidas para suavizar o impacto da epidemia na atividade.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou a etapa regular em 4,375%, de 4,360% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 fechou em 5,52%, de 5,502%. A taxa do DI para janeiro de 2025 passou de 6,201% para 6,21% e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,60%, de 6,591%. Na sessão estendida, as taxas aceleraram levemente, fechando, respectivamente, em 4,38%, 5,53%, 6,24% e 6,61%.

Para o economista-chefe da Guide Investimentos, João Mauricio Rosal, a questão agora é saber o quanto de desaceleração global a epidemia do coronavírus vai trazer e a resposta dos bancos centrais a esse impacto. "A atividade vai enfraquecer, os preços de commodities já estão caindo. Ou seja, tudo parece ser desinflacionário e vai esquentar o debate sobre o que Copom vai fazer depois de fevereiro", disse. "Diante das evidências de maior desaceleração global, o BC pode ter de considerar continuar com o ciclo de cortes", completou.

Os primeiros cálculos dos efeitos sobre o PIB das economias centrais já começam a aparecer. O banco JPMorgan cortou sua estimativa para a economia mundial no primeiro trimestre em 0,3 ponto porcentual, para 2,3%, e o Goldman Sachs estima que a epidemia retire 0,4 ponto do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre. Já a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou que o surto de coronavírus deve provocar "certa desaceleração" no curto prazo no nível de atividade da China, mas ainda não é possível saber quais serão os efeitos negativos no longo prazo ao país.

A poucos dias do Copom, a curva segue indicando apostas majoritárias no corte de 25 pontos-base da Selic, mas nas últimas sessões tal expectativa, cuja probabilidade no começo da semana estava em 80%, refluiu um pouco e as chances estão em torno de 75%, segundo o Haitong Banco de Investimento. Para março, a precificação indica 25% chance de um novo corte desta magnitude.

Se o dólar esfriou levemente a expectativa de queda para a Selic, enrijecendo a ponta curta da curva, as taxas de médio e longo prazos chegam ao fim da semana com alívio de prêmios, entre 5 e 10 pontos-base em relação à última sexta-feira.


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