Dólar fecha a R$ 5,31 com perspectiva de desidratação de PEC

Dólar fecha a R$ 5,31 com perspectiva de desidratação de PEC

Moeda norte-americana caiu 1,19% na sessão desta segunda-feira

AE

Moeda norte-americana fechou com recuo de R$ 0,048 (-0,91%)

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A perspectiva cada vez mais forte de desidratação da PEC da Transição e acenos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva à agenda de responsabilidade fiscal levaram o dólar a recuar na sessão desta segunda-feira, na contramão da onda de fortalecimento da moeda americana no exterior. Segundo profissionais do mercado, investidores deram continuidade nesta segunda ao movimento de ajustes e realização de lucros iniciado na sexta-feira, aparando excessos cometidos nos pregões anteriores em meio à "reprecificação" da taxa de câmbio à percepção de aumento de risco fiscal.

Tirando uma alta pontual e bem limitada na abertura, a moeda trabalhou em baixa ao longo de toda a sessão, furando o piso de R$ 5,30 pela manhã, quando registrou mínima a R$ 5,2983. No início da tarde, a divisa chegou a ensaiar zerar a queda, tocando o patamar de R$ 5,36, com o Ibovespa nas mínimas do dia. Mas a virada da Bolsa para campo positivo ao longo da segunda etapa de negócios, na esteira da diminuição das perdas do petróleo, jogou a moeda mais para baixo novamente. No fim do dia, o dólar era cotado a R$ 5,3106, em queda de 1,19%, o que reduz a valorização acumulada em novembro para 2,80%.

"O dólar está descolado hoje da alta lá fora em função da possibilidade de a PEC ser 'menos pior' do que se imaginava. Mas é um ajuste pontual, e não uma tendência", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ressaltando que os ativos domésticos apresentam uma deterioração relevante em novembro. "O dólar passou a oscilar entre R$ 5,30 e R$ 5,40, a Bolsa está rateando e a curva de juros não prevê mais corte da Selic neste ano. O mercado ainda está cauteloso com a espera pelo tamanho da PEC e a definição do ministro da Fazenda".

Surgiram propostas de mudanças e versões paralelas para a PEC da Transição, cujo texto original prevê tirar desembolsos com o Bolsa Família do teto por tempo indeterminado e gastos extrateto de R$ 198 bilhões em 2023. O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), por exemplo, apresentou uma proposta que limita a R$ 70 bilhões o valor que ficaria fora do teto e propõe que um novo arcabouço fiscal seja instituído, por meio de lei complementar, até 17 de junho do ano que vem.

Já proposta do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), obtida com exclusividade pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), eleva em R$ 80 bilhões de forma permanente o limite do teto de gastos a partir de 2023, o que manteria a atual âncora fiscal em vigor. Jereissati batizou o texto de "PEC da Sustentabilidade Social".

Ex-ministro da Fazenda e integrante da equipe de transição na área econômica, o economista Nelson Barbosa disse que, mesmo se o governo aumentar o gasto em R$ 136 bilhões em 2023, não haverá expansão fiscal. "A minha opinião é de que R$ 70 bilhões é pouco para a PEC, porque o orçamento que foi enviado para 2023 tem um gasto em proporção do PIB inferior ao de 2022", disse.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes - trabalhou em alta firme e chegou a ameaçar o teto dos 108,000 pontos, ao registrar máxima aos 107,933 pontos.

A moeda norte-americana ganhou terreno lá após dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) voltarem a falar duro, acenando com mais altas de juros para controlar a inflação. Na outra ponta da gangorra, as commodities metálicas recuaram diante da notícia da primeira morte por covid-19 na China em seis meses, o que pode levar a nova onda de lockdowns e, por tabela, abalar a demanda global.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam a segunda-feira em baixa, reduzindo o pessimismo com o cenário fiscal. O principal vetor foi a PEC alternativa à da Transição apresentada pelo senador Alessandro Vieira. O mercado também recolheu um pouco das apostas mais agressivas para a Selic, mas continua precificando aumento para a taxa ao longo do primeiro semestre de 2023.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 14,26% (regular) e 14,25% (estendida), de 14,337% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 13,71% para 13,54% (regular) e 13,53% (estendida). O DI para janeiro de 2027 cedeu 21 pontos-base, de 13,46% para 13,25% (regular e estendida).

Após o mercado reagir mal tanto à PEC da Transição quanto às declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, de que "a bolsa cai e o dólar sobe não por causa das pessoas sérias mas sim dos especuladores", parece agora haver uma tentativa de aparar as arestas de parte a parte, em busca de um consenso.

Como destacou o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, no podcast <i>Diário Econômico</i>, "para além da retórica e dos jogos de cena para a torcida", o governo parece estar disposto a "refazer a ponte com o mercado e com a racionalidade econômica".

Em contraponto à proposta original que indica gastos de R$ 198 bilhões a serem contabilizados fora do teto e sem período determinado, Vieira propôs limitar a R$ 70 bilhões o valor extrateto por um prazo de quatro anos, apelidada de "PEC Alternativa". Porém, para o ex-ministro Nelson Barbosa, que integra a área de economia na equipe de transição, R$ 70 bilhões seriam insuficientes para que o governo consiga trabalhar no orçamento do próximo ano.

Segundo ele, mesmo se o governo aumentar o gasto em R$ 136 bilhões em 2023, ainda não haveria expansão fiscal em proporção do Produto Interno Bruto (PIB). O senador Tasso Jereissati também apresentou outra proposta, mas sugerindo aumento em R$ 80 bilhões de forma permanente do limite do teto partir de 2023, batizada por ele mesmo de "PEC da Sustentabilidade Social".

"O mercado melhorou com a PEC alternativa. Sabe-se que o tamanho do Estado vai aumentar, mas resta agora aguardar em que proporção", resumiu o head da Mesa de Juros da CM Capital, Jefferson Lima, lembrando que, porém, a reversão das posições mais defensivas montadas nos últimos dias depende, em boa medida, da definição do valor que ficará livre das amarras da regra. "O aumento em si é dado, mas, na dúvida, o mercado mantém apostas de alta da Selic", comentou.

Em cálculos fornecidos pelo Banco Mizuho, a curva aponta apostas entre 25 e 50 pontos nas próximas reuniões do Copom até maio, com início dos cortes somente no segundo semestre. No fim de 2023, projeta taxa básica de 13,94%, ante 14,18% na sexta-feira.

Bolsa

O desmentido da Arábia Saudita quanto ao rumor de que a Opep+, cartel dos maiores produtores, estaria perto de elevar a oferta de petróleo - em momento de dúvidas sobre o nível de demanda, ante a desaceleração econômica global - foi decisivo para que o Ibovespa invertesse o sinal e fechasse a segunda-feira, 21, no positivo, mesmo com o desempenho negativo de Nova York. Ao fim, após três perdas consecutivas, a referência da B3 mostrava alta de 0,81%, aos 109.748,18 pontos, mais perto da máxima (110.235,29) do que da mínima (107.957,01) da sessão, após abertura aos 108.868,18 pontos. No mês, ainda registra perda de 5,42%, que limita o ganho do ano a 4,70%. O giro nesta abertura de semana ficou em R$ 37,4 bilhões.

A Arábia Saudita não apenas desmentiu o rumor de aumento da produção como indicou que o cartel pode vir a optar por novo corte da oferta, o que quase zerou as perdas da commodity na sessão, cujos preços, até o começo da tarde, caíam perto de 6% nesta segunda-feira, tanto para o WTI como para o Brent. O movimento foi acompanhado por mudança de sinal nas ações da Petrobras que, no entanto, encerraram o dia sem direção única, com a ON em baixa de 0,36% e a PN, alta de 0,30%. Mais cedo, a confirmação da distribuição de dividendos da estatal contribuía para amortecer o efeito da queda das cotações da commodity sobre as respectivas ações.

Em menor grau, o dia também foi negativo para os preços do minério de ferro na China, com novos sinais sobre a covid-19 no país acentuando a incerteza quanto ao momento em que, de fato, o país conseguirá flexibilizar de forma significativa as medidas de distanciamento social, que afetam o ritmo de atividade da segunda maior economia do mundo. "Pelo que especialistas explicam, é improvável que haja alguma mudança importante em relação que se vê na China até o Ano Novo Lunar, em fevereiro", diz Edmar de Oliveira, especialista em renda variável da One Investimentos.

No quadro doméstico, há relativa melhora da percepção sobre o cenário fiscal, com os últimos sinais de que, para ser aprovada no Congresso, o mais provável é que volume menor de recursos do que os cerca de R$ 200 bilhões inicialmente propostos ficarão, de fato, fora do teto de gastos. "É algo que não deveria surpreender tanto, na medida em que se costuma fazer assim, como se viu também na Reforma da Previdência: o começo é sempre por um montante maior, para se testar a reação, e depois vem o ajuste à realidade, ao que poderá se aprovado (no Congresso)", acrescenta Oliveira.

Na B3, o destaque absoluto desta abertura de semana foram as ações da Copel (PNB), que fecharam o dia em alta de 22,07%, após o Estado do Paraná informar que tem a intenção de transformar a empresa em uma companhia de capital disperso e sem acionista controlador. Com a valorização de dois dígitos na sessão, as ações da empresa fecharam esta segunda-feira cotadas a R$ 8,74.

"Aos preços atuais e mantendo 10% das ações ordinárias, o Estado arrecadaria quase 90% do que a secretaria da Fazenda estima como perdas de receitas pela redução do ICMS em 2023, o que mostra que a oferta de ações é uma alternativa que faz bastante sentido como solução para esse problema", observa Bernardo Viero, analista da Suno Research. "Nenhum acionista ou grupo em acordo poderá exercer votos em número superior a 10%, independentemente do tamanho de sua posição na companhia. A ideia é semelhante à recém-utilizada com sucesso na privatização da Eletrobras."

Além de Copel, destaque na sessão para outra companhia do setor de energia, Cemig (+7,54%), junto com Cyrela (+8,01%), Sabesp (+7,32%), Magazine Luiza (+7,30%), IRB (+6,76%) e Americanas (+6,55%), após ações dos setores de varejo e construção terem estado, na semana passada, entre os mais afetados pela pressão na curva de juros futuros, em meio aos temores sobre a situação fiscal no próximo governo. "Há uma recuperação das empresas varejistas em relação à caixa, e o aumento de vendas que vem no fim do ano, com Natal e a própria Copa do Mundo, o que ajuda as ações das empresas do setor a subir", diz Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.

Na ponta perdedora nesta segunda-feira, destaque pra Klabin (-3,13%), Suzano (-2,87%) e Usiminas (-2,37%). Entre as blue chips, Vale ON fechou em baixa de 1,13%, em dia que se mostrou, ao final, majoritariamente positivo para as ações dos grandes bancos, à exceção de Bradesco (ON -0,83%, PN -0,70%).

Na semana, o destaque da agenda está programado para a quarta-feira, quando será divulgada a ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, o BC americano. "A sinalização dos membros do comitê tem sido mista. O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que é a favor de uma desaceleração do ritmo dos aumentos de juros na próxima reunião, para garantir um pouso suave para a economia. Já a presidente do Fed de Boston, Susan Collings, reforça que as opções estão abertas para a reunião de dezembro, incluindo a possibilidade de outro aumento de 0,75 pp (ponto porcentual)", aponta Alvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.


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