Dólar fecha agosto com alta de 5,05%, a maior desde março

Dólar fecha agosto com alta de 5,05%, a maior desde março

Moeda norte-americana terminou a segunda-feira cotado em R$ 5,48

AE

Ibovespa encerrou na mínima do dia, aos 99.369,15 pontos

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O dólar voltou a subir, com renovadas preocupações sobre a situação fiscal do Brasil, que persistiram após o governo entregar ao Congresso a proposta de Orçamento para 2021, que prevê déficit primário de R$ 237,3 bilhões no ano que vem para o setor público consolidado e ainda rombo acima de R$ 150 bilhões em 2022 e 2023. Com a nova alta, a moeda americana fechou agosto acumulando valorização de 5,05%, a maior desde março, quando disparou 16% em meio ao início da pandemia do coronavírus e das medidas de distanciamento social. Em 2020, a divisa dos EUA sobe 36,6%.

O dólar à vista fechou a segunda-feira em alta de 1,21%, cotado em R$ 5,4806. O real teve o segundo pior desempenho ante o dólar nesta data, perdendo apenas para o rand da África do Sul. No mercado futuro, o dólar para outubro, que nesta segunda-feira passou a ser o contrato mais líquido, fechou em alta de 1,98%, cotado em R$ 5,4980.

Em dia de disputa entre grandes investidores pela definição do referencial Ptax, usado em contratos cambiais e balanços corporativos, o dólar chegou a encostar em R$ 5,50 mais cedo, com os "comprados", que ganham com a valorização da moeda americana, pressionando as cotações para cima.

Para o diretor de Tesouraria do Banco Daycoval, Paulo Saba, o principal fator a influenciar as cotações nesta segunda-feira no câmbio, o imponderável, é a questão fiscal no Brasil. "É o fiscal e a movimentação política em torno do fiscal. O misto disso está fazendo preço e vai continuar em setembro", diz ele. "Hoje, a apresentação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2021 foi a pontinha do iceberg", completou. Neste ambiente, Saba acredita que o dólar deve continuar pela frente na faixa de R$ 5,40 a R$ 5,60. "O mercado não vai largar esse osso para já, enquanto não tiver um pouco mais claro sobre como o governo equilibra despesas e receitas. O fiscal é o que tem predominado nas mesas de operações. Empresas vão esperar para vender câmbio", disse ele.

A analista de moedas e mercados emergentes do banco alemão Commezbank, You-Na Park-Heger, também está pessimista com o real e observa que a moeda brasileira deve seguir depreciada até 2021, em meio a uma série de riscos, que vão desde a forte piora fiscal do Brasil, em ritmo mais intenso que outros emergentes, às dúvidas sobre os rumos da atividade econômica em meio ainda ao crescimento dos casos de coronavírus, o que por sua vez pode exigir mais aumento de gastos do governo. "Não esperamos que o real se recupere ao menos até o próximo ano."

Os analistas do JPMorgan avaliam que a política fiscal para 2021 está "no fio da navalha", em um equilíbrio "muito instável". Nesse ambiente, o mercados financeiro permanece preocupado com a possibilidade de "uma abordagem de política econômica mais populista" por parte do governo, já de olho nas eleições de 2022, ressalta o banco em relatório.

Ibovespa

O Ibovespa não resistiu à pressão de vendas que se impôs com mais força no fim da sessão, levando o índice de referência da B3 a encerrar na mínima do dia, em queda de 2,72%, aos 99.369,15 pontos, elevando as perdas do mês a 3,44%, a primeira leitura negativa desde o tombo de 29,90% em março, no auge do nervosismo pandêmico. Foi o terceiro agosto consecutivo de desempenho negativo para o índice da B3, vindo de perda de 0,67% no mesmo mês do ano passado e de 3,21% em 2018 - em agosto de 2017, houve ganho expressivo, de 7,46%. O giro financeiro de nesta segunda totalizou R$ 25,0 bilhões, reforçado no fim da sessão. Em 2020, o Ibovespa cede agora 14,07%.

Com a expectativa para o Orçamento 2021, o movimento nesta última sessão de agosto era de cautela para os ativos do País, com dólar em alta, Ibovespa em baixa e avanço dos juros futuros. Assim, após ter se mantido sem interrupções na marca de seis dígitos entre os fechamentos de 14 de julho e 14 de agosto, e devolvida algumas vezes desde então, o principal índice da B3 ficou abaixo dos 100 mil pontos nesta segunda-feira, saindo de 102.141,62 na máxima da sessão, com abertura a 102.141,53 pontos.

A divulgação da proposta de Orçamento para 2021, a partir das 15h30, manteve o índice não muito distante das mínimas, mas as perdas passaram a se acentuar perto do fim da sessão, bem distribuídas por segmentos como commodities (Petrobras ON -3,42%), bancos (Bradesco ON -4,52%), siderurgia (Gerdau PN -2,60%) e utilities (Eletrobras ON -5,28%). Na ponta negativa, destaque para Hypera (-5,92%), Gol (-5,74%) e Eletrobras ON. Poucas ações da carteira Ibovespa conseguiram fechar o dia em alta; dentre elas, destaque para Energias BR (+6,62%), Fleury (+1,05%), Marfrig (+1,02%) e Via Varejo (+1,38%).

"Não tem notícia positiva que sustente o índice, então os 'vendidos' acabam prevalecendo em ajuste técnico de fim de mês", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. Alguns movimentos de venda em ações específicas, como Hypera e Sabesp (-4,84%), contribuíram para sustentar o volume neste fim de sessão.

"A sinalização dada pela proposta de Orçamento para 2021 não foi ruim, veio dentro do que o mercado esperava. A previsão de déficit foi um pouquinho menor do que o mercado estimava. É uma proposta realista, o que agrada, e, com relação a despesas primárias, mostra um enfoque diferente em relação a 2016, quando Dilma Rousseff deixou o governo, em razão de 'pedaladas fiscais'", observa Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. Tirando a Cidadania, os gastos se mostram contidos e até em certos casos menores na proposta para o ano que vem, acrescenta o economista.

A política fiscal tende a permanecer no centro de atenção do mercado, em momento em que o Ibovespa se mostra menos correlacionado a Nova Iorque, com o Nasdaq renovando consecutivamente máximas históricas, por vezes acompanhado pelo S&P 500 - nesta segunda-feira, os dois índices americanos fecharam respectivamente em alta de 0,68% e em baixa de 0,22%.

"Sem ainda ter entrado em venda, a perspectiva da B3 para setembro é lateral, perdendo o viés de alta", diz Fernando Góes, analista gráfico da Clear Corretora. "Levará um pouco mais de tempo para sairmos da linha entre 99 mil e 105 mil pontos, onde o mercado está consolidado", acrescenta o analista, observando que uma "mudança de cenário" para o Ibovespa dependerá de ruptura, "abaixo de 98 mil ou acima de 105 mil", para que se ganhe direção. Embora a chance de subir exista, "quanto mais tempo demorar, menor a confiança no rompimento dos 105 mil pontos", aponta Góes.

Juros

Os juros futuros terminaram a última sessão de agosto em alta, recompondo parte dos prêmios devolvidos na sexta-feira, ainda em função do cenário fiscal preocupante e nesta segunda-feira também num dia desfavorável a moedas de economias emergentes, incluindo o real. Desse modo, o avanço foi um pouco mais firme nos vencimentos longos.

De maneira geral, a sessão foi de liquidez fraca em todos os vértices, com o mercado em compasso de espera pela divulgação do PLOA de 2021 e por novidades do programa Renda Brasil, além da agenda da semana que tem como destaque o resultado do PIB do segundo trimestre na terça-feira. Nesta segunda, o resultado do setor público consolidado de julho, mesmo com déficit menor do que apontava a mediana das estimativas, ficou em segundo plano.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 2,823% no ajuste de sexta-feira para 2,84% e a do DI para janeiro de 2023 passou de 4,014% para 4,04%. O DI para janeiro de 2025 encerrou a sessão regular com taxa de 5,88%, de 5,824% no ajuste anterior, e o DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 6,85%, de 6,783% no ajuste de sexta.

A curva inclinava mais pela manhã, quando a dinâmica do câmbio também era pior, com a moeda americana se aproximando dos R$ 5,50 novamente em meio à disputa pela formação da Ptax de fim de mês. À tarde, o dólar se acomodou na casa dos R$ 5,46 e contribuiu para reduzir o ritmo de avanço das taxas. "A sexta-feira tinha sido boa, mas sem um sinal fiscal forte, e o fim de semana foi vazio de notícias", disse a gestora de renda fixa da MAG Investimentos, Patricia Pereira.

O evento mais esperado do dia, o anúncio do Orçamento 2021 que será encaminhado ao Congresso, acabou não mexendo com as taxas. "O risco não está no PLOA, mas no que falta ser divulgado. Se o Renda Brasil tivesse sido divulgado no 'Big Bang day' da semana passada, ele estaria no PLOA", afirmou Patricia Pereira, lembrando das pressões do presidente Bolsonaro por um benefício mínimo de R$ 300, além da dificuldade dele em aceitar a extinção de alguns programas para custear a iniciativa.

"O ponto é o que vem pela frente, porque o Orçamento veio 'incompleto', pelo menos pelo que sabemos do desejo do governo de botar o Renda Brasil de pé", acrescentou o especialista em contas públicas Guilherme Tinoco.

O PLOA de 2021 calcula em R$ 1,485 trilhão o limite do teto de gastos. O projeto ainda prevê uma insuficiência de R$ 453,715 bilhões para o cumprimento da regra de ouro no próximo ano. Esse é o valor de despesas previstas na peça orçamentária que estão condicionadas à aprovação de um novo crédito suplementar pelo Congresso Nacional em 2021.


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