Dólar fecha em alta de 0,39%, mas permanece abaixo de R$ 5,30

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Moeda norte-americana encerrou sessão cotada a R$ 5,29

AE

Dólar voltou a ter alta

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O dólar ganhou força no mercado doméstico na sessão desta quinta-feira em meio a ajustes de posições na esteira dos sinais emitidos pelo Copom, que na quarta-feira elevou a taxa Selic a 10,75% ao ano, e ao avanço predominante da moeda norte-americana frente a divisas emergentes pares do real. Em seu comunicado, o comitê do Banco Central sinalizou que vai diminuir o ritmo de alta dos juros e que o ciclo de aperto monetário está perto do fim - o que desautoriza, por ora, aposta em taxa básica acima de 12% e, por tabela, de ampliação ainda maior entre o diferencial de juros interno e externo.

Ao recado do Copom na quarta se somou nesta quinta a segunda alta consecutiva de juros por parte do Banco da Inglaterra, para 0,50%, e o tom surpreendentemente mais duro do Banco Central Europeu. Após anunciar a manutenção dos juros na zona do euro, a presidente do BCE, Christine Lagarde, mostrou preocupação com a inflação, levando o euro a uma forte valorização frente ao dólar. Após a fala de Lagarde, casas como o Danske Bank e o Morgan Stanley passaram a prever uma elevação inicial da taxa de juros na zona do euro no fim deste ano. O programa de compra de títulos pode terminar no terceiro trimestre.

Com o Federal Reserve na vanguarda, os bancos centrais dos países desenvolvidos vão embarcar em um processo de normalização da política monetária nos próximos meses enquanto o BC brasileiro já está quase no fim de seu ciclo de aperto. Era natural que, diante de tal quadro, houvesse ajustes e realização de lucros no mercado de câmbio local, após a recente rodada expressiva de apreciação da moeda brasileira.

Esse movimento de ajuste na taxa de câmbio foi mais intenso pela manhã, quando o dólar tocou na casa de R$ 5,32, ao correr até a máxima de R$ 5,3226. Já no início da tarde o dólar desacelerava e, após passar a etapa vespertina orbitando R$ 5,30, fechou o dia a R$ 5,2954, em alta de 0,36%. A moeda ainda acumula queda de 1,76% na semana e desvalorização de 5,03% neste ano.

Lá fora, com a arrancada do euro após o discurso de Lagarde, o índice DXY - que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - trabalhou em baixa firme, na casa dos 95,300 pontos. Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, a moeda apresentou sinal predominantemente positivo, com alta frente o peso mexicano, o peso chileno e o rublo, enquanto recuou ante o rand sul-africano.

Para o gestor de juros e moedas da RPS Capital, Joaquim Sampaio, após a queda expressiva do dólar em janeiro, com forte fluxo de recursos externos, é difícil que haja uma nova rodada de apreciação do real. "Com os bancos centrais desenvolvidos cada vez mais 'hawks' (com postura mais dura) e os fundamentos locais ruins, não vejo uma entrada de recursos expressiva por parte dos estrangeiros daqui para frente", diz Sampaio, que classifica o forte fluxo externo para ativos domésticos no mês passado como um evento pontual.

Sampaio ressalta também que a apreciação recente do real não foi fruto de um movimento "idiossincrático" que abrangeu apenas ativos brasileiros. A queda do dólar por aqui se deu em conjunto com a recuperação de divisas pares, à exceção do peso mexicano. Na esteira do discurso mais duro do Federal Reserve, investidores promoveram um rearranjo global de portfólio que favoreceu os emergentes, cujas moedas estavam em patamares atraentes.

Se não vê chance de o dólar cair muito mais no mercado doméstico, o gestor da RPS também não acredita em depreciação relevante do real, uma vez que a taxa de juros local torna muito custosa as apostas contra a moeda brasileira. "Não sou mais tão pessimista com o Brasil. Mas com crescimento baixo e juro real alto, não acredito em uma melhora grande dos ativos. Pode ter alguns pequenos ralis, mas nada consistente", diz Sampaio.

Já o head de câmbio da HCI Invest, Anílson Moretti, aposta em manutenção do apetite de estrangeiros por ativos locais ao longo deste mês, suportado em grande parte por uma taxa de juros ainda elevada, apesar da sinalização do Copom de redução do ritmo de aperto. "Depois de vários dias de baixa, tivemos uma alta do dólar. Mas acredito que o nosso suporte de R$ 5,26 será rompido ainda em fevereiro. Depois vamos ter outro suporte em R$ 5,15", afirma Moretti.

Taxas de juros

A formalização do plano do Banco Central de elevar a Selic nas próximas reuniões a um ritmo menor do que os 150 pontos-base da quarta-feira provocou queda forte nos juros futuros de curto prazo. As apostas para o mês de março são amplamente majoritárias em 100 pontos-base, e houve redução substancial nos meses de maio e junho. A taxa terminal e no fim do ano embutida nos preços passou de 12,50% a 12,25%. A curva também perdeu inclinação negativa, com o diferencial entre os contratos de 2023 e 2027 passando de -116 pontos-base a -94,5 pontos-base.

O DI para janeiro de 2023 caiu de 12,143% a 11,91% (regular) e 11,895% (estendida). O janeiro 2024 recuou de 11,47% a 11,315% (regular) e 11,29% (estendida). O janeiro 2025 passou de 10,993% a 10,88% (regular) e 10,86% (estendida). E o janeiro 2027 foi de 10,981% a 10,965% (regular) e 10,95% (estendida).

Este movimento decorreu da interpretação do comunicado do BC, que disse textualmente que "em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante". Mesmo que na frase seguinte o BC faça um 'hedge' ao citar que os "passos futuros" poderão ser ajustados, a sinalização clara é de que a intenção do colegiado é a de continuar subindo os juros, mas em intensidade distinta.

Assim, a precificação sobre a Selic se alterou. Para o encerramento de 2022, as apostas na quarta-feira eram de taxa entre 12,25% (12% de chance) a 12,50% (88% de chance). Nesta quinta, passaram a Selic entre 12% (22% de chance) a 12,25% (78% de chance).

Na prática, como usual, o mercado ainda embute um prêmio maior do que o estimado por analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast. A mediana para março, fim do ciclo e fim de 2022 é a mesma: 11,75%. Mas a pesquisa anterior apontava para uma taxa em maio e terminal maior, sendo, respectivamente, 11,88% e 12%.

Para Andres Abadia, economista-chefe de América Latina da Pantheon Macroeconomics, o Copom elevará a Selic a 11,75% e é aí que a taxa deve ficar até o fim do ano, supondo que a inflação continue diminuindo. "Mas não podemos descartar um aperto mais modesto no segundo trimestre, se as pressões do núcleo de inflação permanecerem rígidas e o aumento do risco político colocar o real sob forte pressão", diz.

Bolsa

A indicação pelo Copom, na noite de quarta-feira, de que o ciclo de elevação da Selic está mais próximo do fim do que parte do mercado precificava foi o contraponto, nesta quinta-feira, ao forte ajuste visto nas bolsas europeias e de Nova York - aquelas em reação a sinais mais claros de restrição da liquidez provida nos últimos anos pela política monetária, e as de NY, especialmente a Nasdaq, a decepção com os resultados trimestrais da empresa controladora do Facebook, a rede social que pela primeira vez em 18 anos registrou decréscimo no número de usuários diários.

Ao fim, após tocar de leve terreno positivo no começo e ao fim da tarde, o Ibovespa mostrava baixa moderada de 0,18%, aos 111.695,94 pontos, enquanto as perdas nos principais mercados da Europa chegaram nesta quinta a 1,57% (Frankfurt) e a 3,74% em Nova York (Nasdaq). Na B3, o giro foi contido nesta quinta-feira pós-Copom, limitado a R$ 24,3 bilhões, com a referência entre mínima de 111.224,91 e máxima de 112.502,18 pontos, saindo de abertura aos 111.897,22. Na semana, o Ibovespa cede 0,19% e, no mês, 0,40%, ainda acumulando bom ganho de 6,56% no ano.

No exterior, além da tensão proporcionada pelas movimentações militares entre a Otan e a Rússia, nesta quinta a elevação de juros pelo Banco da Inglaterra, a 0,50%, e o maior grau de preocupação com a inflação emitido pelo BCE contribuíram para reforçar a cautela dos investidores, vista desde o início de janeiro, quando o Federal Reserve redobrou as indicações de que se aproxima o momento de elevação do custo de crédito na maior economia do mundo.

A leitura sobre o sinal do Copom não deixa de ser ambivalente: por um lado, o nível e a trajetória da inflação ainda preocupam o mercado, o que tem se refletido na curva de juros; por outro, um ciclo menor de ajuste da Selic tenderia a ajudar a economia e o nível de atividade, que também preocupam.

Assim, as ações dos setores de serviços e consumo (Yduqs +2,18%, CVC +2,08%, Americanas ON +2,53%) estiveram entre as favorecidas pelos investidores na sessão, também positiva para os grandes bancos (Itaú PN +1,16%, Bradesco PN + 1,47%), enquanto as de commodities mostraram desempenho negativo, especialmente Petrobras (ON -1,07%, PN -1,38%), mesmo com o avanço das cotações do Brent e do WTI nesta quinta-feira. O mercado ponderou declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que prometeu, caso eleito, acabar com a paridade internacional de preços da estatal, dizendo estar mais preocupado com as donas de casa do que com acionistas.

Do Copom, "o que veio com certa surpresa foi a indicação, para próximas reuniões, de aumento menor do que os 150 pontos-base, deixando alguma margem caso as condições e a inflação mudem até lá. O ciclo de aumento de juros já está no final, o que não deixa de ser positivo para a economia e o crescimento", diz Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos.

"A redução do ritmo de ajuste para a próxima reunião foi a novidade, mudança que vinha dividindo o mercado: uma parte acreditava que o BC daria esse sinal, outra de que deixaria a porta aberta. Pode ser traiçoeiro deixar já esta definição, porque a inflação pode mostrar evolução ainda em ritmo alto neste primeiro trimestre, com o mercado precificando patamares mais altos na curva de juros, por conta desta persistência", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acrescentando que tal ponto pode vir a ser melhor esclarecido na ata do Copom.

"Embora o BC tenha optado por não aumentar o ritmo de ajuste neste momento, mesmo com a inflação surpreendendo negativamente, voltamos a um patamar de dois dígitos na taxa Selic, e já vemos revisões do crescimento para baixo, que devem tirar pressão da inflação no médio prazo, sugerindo que o movimento do Banco Central tem sido prudente", observa Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.

"De qualquer forma, o comunicado trouxe novamente tom de alerta, principalmente sobre o quadro fiscal e possíveis impactos que um aumento nos gastos poderia ter sobre a inflação. Ou seja, o mercado pode interpretar que o ciclo de ajuste da Selic pode ser um pouco mais longo do que o previsto anteriormente. O mercado projetava juros de 11,75% para o final deste ano e essa projeção pode subir após a decisão (de quarta). Talvez para 12%, não muito mais que isso", acrescenta.

"Os membros do comitê continuam receosos sobre a questão fiscal doméstica, enquanto se mostraram mais preocupados com o cenário externo diante da possibilidade de um ciclo de alta mais acelerada nos juros americanos, o que dificultaria a situação financeira para economias emergentes como o Brasil. Além de ainda manterem a cautela no que tange aos impactos da pandemia sobre a recuperação das cadeias globais de produção", aponta Paloma Brum, analista de investimentos na Toro.

"Ao analisarmos o comunicado do Copom, os ajustes refletidos nos juros futuros estão, de certa forma, alinhados com o caminho que o BC quer seguir, apesar da redução momentânea do ritmo de ajuste. Por isso, considerando somente esse fator, a tendência é de que a curva não sofra alterações bruscas nos próximos dias", avalia Vinicius Romano, especialista de renda fixa na Suno Research.

Para Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos, o 'forward guidance' que emergiu na quarta do comunicado do Copom foi de juros a 12% no primeiro semestre e a 11,75% no fim do ano, "com mais uma alta e depois começando a cair". "O BC cumpriu o que prometeu, para neutralizar inflação que vem elevada ao longo do tempo", acrescenta.


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