Dólar fecha em alta e volta a superar R$ 4,80

Dólar fecha em alta e volta a superar R$ 4,80

Moeda norte-americana registrou crescimento de 1,10%

AE

Dólar fechou com queda de R$ 0,102 (-1,93%) nesta terça-feira

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O dólar abriu junho em alta firme, tocando novamente o patamar de R$ 4,80, em movimento alinhado à onda de fortalecimento da moeda norte-americana no exterior. Indicadores econômicos nos Estados Unidos e alta persistente do petróleo avivam temores inflacionários e trazem de volta a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) pode ser mais agressivo no ajuste da política monetária. Em tal cenário, nem a perspectiva positiva para preços das commodities, sustentada por relaxamento das medidas restritivas contra o Covid-19 em Xangai e Pequim e por dados acima do esperado da produção industrial chinesa, conseguiram dar sustentação ao real.

Tirando uma queda na primeira hora de negócios, quando marcou mínima a R$ 4,7225, o dólar trabalhou em alta durante toda a sessão, tendo superado o teto de R$ 4,80 no início da tarde, quando atingiu máxima a R$ 4,8145 (+1,30%). No fim do dia, a moeda norte-americana era cotada a R$ 4,8041, alta de 1,08%. Com isso, acumula valorização de 1,39% nesta semana. No ano, as perdas são de 13,84%.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em alta firme, novamente acima dos 102,500 pontos, em meio a perdas fortes de euro, da libra e, em especial, do iene, após o Baco do Japão (BOJ, na sigla em inglês) reforçar a intenção de manter a política monetária frouxa.

O dólar também subiu frente à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O real, que vinha se sobressaindo entre seus pares, nesta quarta-feira amargou as piores perdas.

Nos EUA, o índice de gerentes de compras (PMI) da indústria medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM) subiu de 55,4 em abril para 56,1 em maio, na contramão das expectativas do mercado, de queda para 54,2. Essa leitura forte foi, em parte, temperada pelo avanço de 0,2% dos investimentos em construção em abril, menor que o previsto (+0,5%) e pela queda do PMI industrial da S&P Global de 59,2 em abril para 57 em maio. Já o Livro Bege, sumário das condições econômicas que serve de base para a decisão de política monetária do Fed, não chegou a ter influência relevante nos negócios.

Em todo caso, a sinalização é de que a economia americana ainda exibe bom desempenho, o que autoriza apostas de que o Fed pode ser mais agressivo e promover altas seguidas da taxa básica ao longo deste ano. A dúvida é se o aperto das condições financeiras induzido pelo BC americano vai conseguir arrefecer a inflação sem provocar uma desaceleração mais forte da atividade econômica.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que o mercado já começa a questionar a perspectiva de que, após mais duas altas seguidas da taxa norte-americana em 50 pontos-base, o Fed adotará uma pausa para avaliar os indicadores econômicos. "Dados fortes dos EUA ajudam a valorizar o dólar no exterior e aqui. Apesar do fluxo de recursos externos para nossa Bolsa nos últimos dias, a tendência é de um dólar mais forte, ligado ao exterior", diz Velho, ressaltando que a alta persistente do petróleo prejudica as perspectiva para o crescimento global e, por tabela, alimenta a aversão ao risco.

A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daily, disse que é preciso subir a taxa de juros rapidamente para o nível neutro, que ela estima em 2,5%. Os Fed Funds hoje estão na faixa entre 0,75% e 1%. Tido como integrante mais duro do BC americano, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, afirmou que o ritmo atual de alta dos juros, de 50 pontos-base por reunião, é adequado neste momento.

Bullard disse, contudo, ser contra pausa no ciclo de alta de juros e que espera taxa em 3,5% até o fim do ano, acima do que considera o nível neutro (em torno de 2%). Tanto Daily quanto Bullard descartam a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos.

A especialista em renda fixa da Blue3, Letícia Cosenza, observa que é grande a expectativa para a divulgação, na sexta-feira, 3, do relatório de emprego (payroll) e da taxa de desemprego nos Estados Unidos em maio. "É preciso ver como está a questão do emprego para saber qual será a postura do Fed. O mercado deve continuar volátil até lá e o dólar tende a se fortalecer", diz Cosenza, ressaltando que a preocupação com a inflação global deve continuar a pesar sobre os ativos de risco e favorecer a moeda americana.

O economista Bruno Mori, planejador financeiro pela Planejar, lembra que começa neste mês o início do processo de redução do balanço patrimonial do Federal Reserve, o que vai reduzir a liquidez no mercado e, por tabela, o apetite por ativos de risco. "Isso provavelmente deve trazer mais pressão sobre o dólar ao longo de junho.", diz Mori, acrescentando que dados divulgados nesta quarta, como o PMI/ISM, mostram que os EUA seguem com atividade forte, em meio a um quadro de desemprego baixo e inflação elevada.

Bolsa

O Ibovespa iniciou junho praticamente sem variação (+0,01%), tendo chegado a mostrar ganhos um pouco melhores ao longo da tarde enquanto Nova York moderava perdas. Ao fim, a referência da B3 mostrava 111.359,94 pontos, quase no mesmo ponto em que encerrou maio, entre mínima de 110.821,51 e máxima de 111.930,89, saindo de abertura a 111.350,51 pontos na sessão. O giro ficou em 25,6 bilhões nesta quarta-feira, e, no ano, o Ibovespa avança 6,24%, tendo retomado em maio a trajetória ascendente que havia prevalecido entre dezembro e março, revertida em abril.

Nesta quarta, a forte leitura dos índices de atividade PMI, nos Estados Unidos como também no Brasil, suscitou reação ambivalente dos mercados, observa Flávio Aragão, sócio da 051 Capital. "A cada leitura melhor dos índices de atividade vem a dúvida sobre o efeito em inflação e no ritmo de ajuste das políticas monetárias. Há uns 15 dias a liquidez vem se mostrando mais restrita, com os investidores em compasso de espera para as próximas decisões sobre juros, no momento em que o calendário eleitoral começa a ganhar atenção do mercado", diz.

Ele destaca a "lateralização" do Ibovespa observada nas últimas sessões, com o índice sem força para seguir muito adiante mesmo nos dias em que poderia ser mais favorecido pelo avanço dos preços das commodities. Nesta quarta, tanto o Brent como o WTI voltaram a subir, assim como o minério de ferro em Dalian (+1,12%, a US$ 131,95 por tonelada), o que colocou Vale ON (+2,35%) e parte das siderúrgicas (CSN ON +1,56%) no campo positivo, em contraponto ao recuo nas ações de grandes bancos, com Santander (Unit -1,94%) e Bradesco PN (-1,80%) à frente - a exceção foi BB ON (+0,19%). Por sua vez, Petrobras (ON -0,09%, PN -0,13%) voltou a decepcionar após ter esboçado ganhos moderados, devolvidos em direção ao fim da sessão.

O temor de mudanças na atual política de preços da empresa, que leva em conta o câmbio e as cotações da commodity, levou o Morgan Stanley a retirar Petrobras da lista de dez principais ações recomendadas para junho na América Latina. Em relatório, o BTG Pactual estima que intervenções levariam a perdas entre US$ 6 bilhões e US$ 7,5 bilhões de Ebtida da estatal a cada 10% de defasagem ante os preços internacionais.

Se o presidente Jair Bolsonaro - apesar das reiteradas críticas à política de preços da estatal, com sucessivas trocas de comando desde o início do mandato - parece não ter conseguido até o momento ser decisivo na orientação da Petrobras, "Lula é explícito quanto ao que vai fazer, o que afeta também os preços (das ações) de outras estatais", observa Aragão, da 051 Capital.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para Hypera (+7,66%), WEG (+3,31%) e Usiminas (+2,74%). No lado oposto, Azul (-5,82%), Banco Inter (-4,69%) e Gol (-3,86%).

"O dia foi negativo no mercado internacional, com os investidores ainda pesando o cenário inflacionário. Essa persistência do petróleo acima dos US$ 120 (por barril)está sendo avaliada pelos analistas em meio à retomada econômica na China - inclusive com medidas de sustentação da atividade -, em conjunto com a decisão da União Europeia de banir o petróleo russo. A incerteza quanto à Opep, sobre o nível de oferta da commodity, coloca combustível nas preocupações sobre a inflação, assim como estimativas mais fortes para a inflação em áreas como a zona do euro", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

De acordo com relato da Argus, a Opep+ está prestes a concordar com outro aumento em sua meta de produção de petróleo quando os ministros se reunirem em 2 de junho. A coalizão deve carimbar aumento de 432.000 b/d em sua meta de julho, conforme acordo com roteiro esboçado no ano passado, disseram delegados. Segundo a Reuters, a reunião técnica da Opep+ nesta quarta-feira não discutiu a suspensão da Rússia de um acordo de fornecimento de petróleo, disseram quatro fontes, na véspera do encontro em que deve ser confirmado plano para elevar a produção.

No quadro mais amplo, "embora o Brasil tenha chamado atenção com maio de boa rentabilidade, a grande protagonista continua a ser a inflação. Com a sequência de aumentos da inflação ao redor do mundo, os principais BCs têm indicado preocupação com o tema, com aumentos de juros", aponta Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos.

"Maio foi bom para a Bolsa brasileira, com alta de 6% no ano, recuperando um pouco o call do 'Brazil bull'. Os primeiros 15 dias do mês passado foram muito ruins para as bolsas americanas, que mostraram recuperação nos últimos 10 dias de maio, com melhora de dois de três pilares que estavam atrapalhando o cenário de risco: reabertura de China, com o alívio dos <i>lockdowns</i>, o que contribui para os preços de commodities; e más notícias (sobre a economia) que viraram boas notícias, com visão sobre juros que chegou a ficar um pouco mais branda por lá", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, destacando o efeito sobre o câmbio no Brasil, com recente recuo do dólar para baixo do limiar de R$ 4,80.

Taxas de juros

Os juros futuros encerraram a primeira sessão do mês de junho em alta, reflexo do clima de aversão ao risco no exterior e preocupações com a inflação global, nesta quarta-feira acentuada pelo avanço nos preços do petróleo. Enquanto a commodity vai mirando novamente os US$ 120 por barril, a defasagem ante os preços domésticos vai abrindo e alimentando o imbróglio em torno dos combustíveis, com a política de preços da Petrobras sob ataque e dúvidas sobre a evolução do projeto do teto do ICMS no Senado. Nesta quarta, nem o câmbio nem os Treasuries, cujos rendimentos subiram diante dos receios de que o aperto de juros nos Estados Unidos possa se estender, ajudaram.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular em 13,405%, de 13,385% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,886% para 12,975%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,37%, de 12,254%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 12,25%, de 12,12%.

Enquanto o real e a Bolsa tiveram pela manhã alguma volatilidade, os juros se posicionaram em alta durante toda a sessão, pressionados principalmente pelo exterior, com o petróleo em destaque. Além da perspectiva de aumento da demanda por commodities pela flexibilização nas medidas anticovid na China e estímulos à economia adotados pelo governo do país, o petróleo vem sendo afetado pelo acordo na União Europeia para banir as importações do óleo russo como resposta à ofensiva de Moscou contra a Ucrânia.

Ainda, como destaca Edward Moya, analista da Oanda em Nova York, os bons indicadores da economia norte-americana apontam para fortalecimento da demanda. "Os dados econômicos dos EUA mostram que a economia está se sustentando, o que apoia a ideia de que a demanda por petróleo deve melhorar e que esta será uma temporada de forte impulso", disse.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, lembra que com o barril se estabilizando ao redor de US$ 120 crescem os temores com o cenário de preços no Brasil. "O preço de combustíveis é o grande vilão da inflação e pega também nos serviços", comentou, destacando que alguns grandes bancos já não descartam a possibilidade de petróleo a US$ 150.

Em seus documentos recentes, o Banco Central vem trabalhando com a premissa de que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril.

Como lembrou nesta quarta o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deixar os preços de commodities equilibrarem o mercado, reduzindo o consumo, "não é socialmente nem politicamente viável." E intervir nos preços, como fazem vários países neste momento, pode desencorajar investimentos.

Nesse contexto, a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras vem sendo colocada em xeque por Brasília, com o Congresso em busca de alternativas para suavizar o impacto para a população. Em tramitação no Senado, o projeto que limita alíquotas do ICMS sobre combustíveis e energia encontra resistência dos governadores, que não querem abrir mão da arrecadação e agora propõem aumentar a taxação das empresas de petróleo e criar uma conta de compensação de perdas.

Além do petróleo, os juros dos Treasuries foram outra fonte de pressão sobre a curva doméstica, com falas <i>hawkish</i> de dirigentes do Federal Reserve e dados mostrando resiliência da economia dos Estados Unidos. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos saltava a 2,93%, do nível de 2,86% da terça.


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