Dólar fecha em baixa após dia todo em queda

Dólar fecha em baixa após dia todo em queda

Como nos dias anteriores, o pregão foi de liquidez reduzida e oscilações muito modestas

Estadão Conteúdo

Na contramão de NY, Ibovespa cai 0,46%, à espera de dados de inflação

publicidade

O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 10, em queda de 0,30%, cotado a R$ 4,8916, devolvendo parte do avanço de 0,74% na sessão de ontem. Como nos dias anteriores, o pregão foi de liquidez reduzida e oscilações muito modestas. Em baixa desde a abertura, a moeda apresentou variação de pouco mais de três centavos entre mínima (R$ 4,8788) e máxima (R$ 4,9057), ambas pela manhã.

Segundo operadores, a cautela tem pautado os negócios em meio à espera pela divulgação nesta quinta-feira, 11, do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA referente a dezembro, que pode levar a um rearranjo das apostas em torno da condução da política monetária americana. Amanhã, sai também o IPCA de dezembro, que deve mostrar aceleração em relação a novembro. Não se espera, contudo, que haja impacto relevante nas estimativas para o ritmo de corte da taxa Selic.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação uma cesta de seis divisas fortes - operou em queda ao longo do dia, com mínimas no fim da tarde, na casa dos 102,350 pontos. Após ensaiar uma alta em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, a moeda americana sucumbiu na segunda etapa de negócios. Entre pares do real, apenas o peso mexicano amargou perdas.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que o dólar parece não ter fôlego, no curto prazo, para se sustentar por vários pregões acima da linha de R$ 4,90 e apenas devolveu hoje um pouco a alta de ontem, acompanhando o ambiente externo de leve enfraquecimento da moeda americana.

"O clima é de cautela até que se tenha uma visão mais clara sobre as taxas de juros nos países desenvolvidos, em especial nos EUA. A espera pelo CPI foi o tema da semana até o momento, com muita especulação sobre como o Fed vai se comportar", afirma Galhardo.

A leitura do CPI é considerada crucial para o refinamento das apostas em torno dos próximos passos do Federal Reserve. Na semana passada, após dados acima do esperado do mercado de trabalho americano, as chances de cortes de juros pelo Banco Central dos EUA em março, que chegaram a ultrapassar 80% no fim de 2023, recuaram para a faixa de 60%.

Segundo a mediana das estimativas de 26 casas de análise consultadas pelo Projeções Broadcast, o CPI deve ter avançado 0,2% em dezembro, o que representa uma leve aceleração na comparação com novembro (0,1%). Já o núcleo do CPI deve ter avançado 0,3% no mês passado, variação idêntica a de novembro.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, espera que o núcleo do CPI venha comportado, o que pode abrir espaço para perda de fôlego do dólar no exterior, com reflexos no mercado doméstico de câmbio. "Se o CPI de amanhã mostrar desaceleração, a curva de juros americana seguirá majoritariamente projetando redução de 25 pontos base dos juros em março, para o intervalo entre 5% e 5,25%", afirma.

Ibovespa

Desta vez em sentido contrário ao de Nova York, onde as variações também foram contidas pela expectativa, amanhã, do CPI dos EUA, o Ibovespa caiu 0,46%, a 130.841,09 pontos, entre mínima de 130.438,06 e máxima de 131.627,60 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 131.446,59 pontos. O giro financeiro se manteve abaixo do limiar de R$ 20 bilhões, a R$ 19,6 bilhões nesta quarta-feira.

Em janeiro, o Ibovespa acumula perda de 2,49%, o equivalente a 3 344 pontos em relação ao fechamento de 2023, então aos 134 185,24, bem perto da máxima histórica renovada ao longo de dezembro. Nesta segunda semana de 2024, o índice da B3 recua 0,90% até esta quarta-feira. Desde a abertura do ano, em sete sessões até aqui, foram três ganhos e quatro perdas para o Ibovespa - a alta mais acentuada, de 0,61%, no dia 5; e a maior baixa no intervalo, de 1,21%, em 4 de janeiro.

Com agenda econômica rarefeita desde o início da semana, foi mais um dia "de poucas novidades para o cenário do mercado", em que os ativos de risco mantiveram "movimentação modesta" ante a recalibragem de expectativas dos investidores para a trajetória dos juros nos Estados Unidos, nesta véspera de divulgação da inflação ao consumidor americano em dezembro, aponta em nota a Guide Investimentos.

"A curva de juros no Brasil mostrou hoje grau de volatilidade um pouco maior, com os vértices em alta o que afeta o apetite por ativos de risco, como ações", diz Erik Sala, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos, referindo-se à "ansiedade" que tem prevalecido entre os investidores desde a divulgação, na semana passada, da ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, de dezembro, que jogou água no chope dos que aguardavam corte de juros americanos já em março.

"Essa precificação de corte nos juros do Fed para março vem perdendo força desde a publicação da ata: já foi uma aposta muito maior. E amanhã tem o CPI, que será um dado-chave para essa definição do mercado com relação à perspectiva para os juros dos Estados Unidos", acrescenta o analista, destacando também a divulgação, nesta quinta-feira, do IPCA, a métrica oficial de inflação ao consumidor no Brasil.

Nesse contexto mais avesso a risco, aqui e no exterior, o início de ano tem sido marcado por desempenho em geral negativo para as ações de maior peso no Ibovespa, especialmente Vale (ON -6,44% em 2024) e siderúrgicas - Gerdau (PN -9,60%) e CSN (ON -8,90%), ambas no mês -, em meio também a reconsiderações sobre a demanda chinesa, que têm afetado o preço do minério de ferro neste começo de janeiro, após recuperação nas cotações da commodity observada em dezembro.

Nesta quarta-feira, o contrato mais negociado de minério de ferro no mercado futuro de Dalian, para maio de 2024, fechou em baixa de 3,02%, a 962 yuans por tonelada, o equivalente a US$ 134,20.

As sucessivas quedas do minério nos últimos pregões refletem fatores como preço "esticado", aspecto que tem sido reforçado pelo governo chinês; temores quanto ao setor imobiliário, após pedido de falência da Zhongzhi; e notícias sobre demanda mais fraca, aumento nos estoques do insumo e pausas para manutenção de siderúrgicas chinesas, além de restrições em Tangshan, uma região importante para o aço, segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

O Banco do Brasil BI (BB-BI) avalia que o setor de siderurgia e mineração se destacou na B3 em dezembro, acompanhando então a retomada nos preços do minério - e em antecipação, também, à entrega de bons resultados pelas companhias do setor, especialmente aquelas, como CSN e Usiminas, cujos papéis não precificavam, nos meses anteriores, a melhora nas cotações da commodity. Hoje, Usiminas PNA caiu 2,67%, colocando a perda no mês a 9,58%, e CSN ON cedeu 2,61% (na semana, -6,91%).

Em relação à mineração, em dezembro o PMI industrial na China seguiu em retração, indicando a continuidade do arrefecimento da atividade. "Embora os dados mais recentes de produção e consumo de aço no país asiático mostrem nova redução sequencial, as importações de minério tiveram ligeiro aumento e contribuíram para o incremento dos estoques da commodity", aponta a analista Mary Silva, do BB-BI.

A abertura de 2024 também tem sido ruim para as ações de grandes bancos, outro setor fundamental no Ibovespa, com destaque para Bradesco (ON -5,37%, PN -6,15% no mês), que ontem teve recomendação rebaixada pelo Goldman Sachs, para 'venda'. Hoje Bradesco ON e PN fecharam, respectivamente, em baixa de 1,70% e 1,72%.

Na sessão, o papel de maior peso individual no Ibovespa, Vale ON, caiu 1,50%, em dia negativo também para Petrobras (ON -0,99%, PN -0,92%). Entre os grandes bancos, além de Bradesco, destaque para a queda de 1,23% em Santander. Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, MRV (-4,71%), CVC (-4,41%) e Prio (-4,17%). No lado oposto, Embraer (+3,38%), Eletrobras (PNB +3,03%, ON +2,59%) e Natura (+2,32%).

O sinal do petróleo na sessão se firmou no negativo após dados semanais do Departamento de Energia dos EUA terem mostrado que os estoques da commodity no país tiveram alta de 1,338 milhão de barris, a 432,40 milhões, na semana encerrada em 5 de janeiro. Analistas ouvidos pela FactSet previam recuo de 600 mil barris no intervalo.

Juros

Os juros futuros permaneceram próximos aos ajustes da véspera, com viés de alta na ponta curta e de queda nos trechos intermediário e longo. A expectativa por dados de inflação dos Estados Unidos e Brasil, amanhã, deu o tom dos negócios. O mercado ainda aguarda os números para calibrar apostas no início do corte dos juros americanos.

A taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025, mais negociado do dia, subiu de 10,110% no ajuste de ontem para 10,135%. O do DI para janeiro de 2026 avançou de 9,770% para 9,775%. Em contrapartida, caíram os juros dos contratos para janeiro de 2027 (9,896% para 9,880%) e janeiro de 2029 (10,291% para 10,245%).

Os juros curtos responderam mais do que os longos ao movimento dos rendimentos dos Treasuries, que avançaram ao longo do dia, refletindo ajustes nas expectativas para o índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos, o CPI. No fim da sessão, a taxa da T-Note de dois anos caía de 4,358% para 4,354% e a do papel de dez anos subia de 4,016% para 4,043%.

Segundo o gestor de portfólio da B. Side Wealth Management, Jonas Chen, o comportamento dos juros hoje refletiu ajustes de mercado na expectativa pelos dados de inflação. Os investidores, ele explica, tentam calibrar as apostas no timing e no orçamento total de redução da taxa básica americana.

"Tivemos um ano de juros subindo em 2022, inclusive nos EUA, e isso agora deve se reverter, é consenso que vamos entrar num ciclo de afrouxamento. A dúvida é até onde vamos", diz Chen. "Para o Brasil, é a mesma coisa: a taxa terminal certa é de 9,5% ou de 9%? Precisamos ver os dados."

Declarações do diretor de política econômica do Banco Central, Diogo Guillen, também pesaram levemente sobre a curva. Ainda durante a manhã, em evento organizado pelo JPMorgan, ele disse que o ambiente ainda é de volatilidade e incerteza, o que demanda cautela na condução da política monetária.

Guillen acrescentou que não vê pressão significativa de salários na inflação. Mas voltou a chamar a atenção para a desancoragem das expectativas, que continuam em 3,5% a partir de 2025 - portanto, 0,5 ponto porcentual acima do centro da meta de inflação, de 3%.

O mercado continua acompanhando a disputa em torno da reoneração da folha de pagamentos. Mas o tema continua no pano de fundo, devido à escassez do noticiário. "O fiscal em algum momento vai começar a fazer preço e, hoje, ele está nos impedindo de atingir juros mais baixos, mas sem entrar numa espiral negativa. Por enquanto, só fica no radar", diz Chen, da B.Side.

Veja Também


Azeite gaúcho conquista prêmio internacional

Produzido na Fazenda Serra dos Tapes, de Canguçu, Potenza Frutado venceu em primeiro lugar na categoria “Best International EVOO” do Guía ESAO

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895