Dólar reduz baixa após ata do Fed e fecha a R$ 4,98; Ibovespa tem pior série desde 1970

Dólar reduz baixa após ata do Fed e fecha a R$ 4,98; Ibovespa tem pior série desde 1970

Moeda apresenta ganhos de 1,68% na semana e de 5,43% no mês

AE

Dólar fechou o dia em R$ 5,14

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Após ensaiar uma queda firme pela manhã, quando registrou mínima a R$ 4,9510, e operar em baixa ao longo da maior parte da tarde, o dólar tocou pontualmente o terreno positivo nos últimos minutos da sessão e acabou terminando o dia cotado a R$ 4,9864, praticamente estável (-0,01%). A moeda apresenta ganhos de 1,68% na semana e de 5,43% no mês.

A perda de fôlego do real se deu em meio à deterioração do ambiente externo, com aprofundamento das perdas das bolsas em Nova York e avanço mais forte das taxas dos Treasuries na esteira da divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Principal par da moeda brasileira, o peso mexicano, que parecia escapar do sinal predominante da alta da moeda americana lá fora, também sucumbiu no fim da tarde.

Termômetro do desempenho do dólar frente divisas fortes, o DXY acelerou na segunda etapa de negócios e renovou máxima, aos 103,525 pontos. Em seu documento, o BC americano mostrou desconforto com a inflação ainda elevada, reiterou que seus próximos passos dependem dos dados que estão por vir, mas fez alertas para a incerteza em torno de um aperto ainda mais forte da política monetária.

A equipe técnica do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) atualizou suas projeções para a economia americana em julho, eliminando previsão de recessão neste ano e atribuindo riscos de alta para a inflação. As taxas das T-Notes de 10 anos renovaram máximas após a divulgação da ata, com o retorno do papel superando 4,27%.

Após publicação da ata, a ferramenta FedWatch, do CME Group mostram que as chances de que a taxa básica americana termine o ano na faixa atual (entre 5,25% e 5,50%) apresentaram leve alta, de 57,5% para 60%. Para a decisão de setembro, as apostas são de quase 90% em manutenção dos Fed Funds.

Sócio e gestor da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli afirma que as moedas latino-americanas de países com juros altos, como o real, devolveram em agosto parte dos ganhos acumulados no ano em razão da alta das taxas dos Treasuries e dados decepcionantes da China, que enfrenta um desaquecimento expressivo do setor imobiliário.

Monoli observa que a economia americana "ainda está quente" e a inflação pode ter "um repique", o que leva à perspectiva de que a taxa de juros nos EUA possa permanecer elevada por mais tempo. Há também aspectos técnicos, como forte volume de emissão de títulos pelo Tesouro americano, que estão provocando uma alta das taxas longas e "sugando" dólar do sistema financeiro.

"A abertura da curva americana atrapalha muito os emergentes e, ao lado da China, explica essa alta de 5% do dólar no mês. O ambiente externo tem peso relevante. Se der uma acalmada, o real tende a se apreciar novamente, com diferencial de juros ainda alto e ambiente interno mais arrumado, apesar dos ruídos entre Lira e Haddad", afirma Monoli, em referência aos atritos recentes entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Parte da recuperação do real pela manhã foi atribuída por operadores ao fato de Lira ter dito na terça-feira à noite que a votação final do arcabouço fiscal pode ocorrer na próxima terça-feira, 22. Aprovado o novo marco fiscal, o mercado vai monitorar com lupa o cumprimento das metas para o resultado primário, que dependem em grande parte do aumento de receitas.

Taxas de juros

Após caírem pela manhã, os juros futuros zeraram a queda à tarde, acompanhando o movimento da curva dos Treasuries, por sua vez, mais pressionada depois da divulgação da ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve. O tom <i>hawkish</i> do documento não chegou a alterar as apostas em uma pausa no ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos na reunião de setembro, mas diminuiu as expectativas de corte de juro ainda este ano. As taxas fecharam com viés de alta.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,4450%, de 12,454% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 10,53%, de 10,49% de terça-feira. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,23% no fechamento, de 10,21% na terça. A taxa do DI para janeiro de 2029 subia de 10,74% para 10,75%.

Pela manhã, com os retornos dos títulos norte-americanos longos acomodados em queda e o dólar bem comportado, houve espaço a uma correção de baixa da curva local, que vinha num processo de recomposição de prêmios desde segunda-feira. No começo da tarde, porém, o fôlego de queda dos DIs já esmaecia junto com a piora dos Treasuries e o mercado desandou de vez depois da ata, que, para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, "surpreendeu para o lado 'hawkish'".

"Foi apontando que a maioria dos membros continua a ver riscos altistas para inflação", afirma o economista que não nota, contudo, grande distinção ante as falas recentes de diretores subsequentes à reunião. "No que toca à atividade, a autoridade deixou de lado os apontamentos sobre a recessão, mas ressaltou que o crescimento deverá ficar abaixo do potencial para o biênio que se iniciará no ano que vem", afirma.

O efeito da ata foi pesado na curva norte-americana. O rendimento da T-Note de 2 anos, que já subia antes mesmo do documento, acelerou a alta, flertando com a marca de 5% nas máximas da tarde, enquanto a taxa da T-Note de dez anos renovou o pico do ano, ao tocar a máxima em 4,276%. Os DIs também acusaram o golpe. As taxas curtas zeraram a queda e as longas passaram a subir.

No Brasil, a agenda esteve esvaziada, o que reforçou o foco do mercado no exterior e nos ajustes técnicos. Mas o ambiente político também segue monitorado de perto, após o aumento das incertezas sobre a tramitação das reformas. A previsão do presidente da Câmara, de votar o arcabouço fiscal na terça-feira, favoreceu o ajuste em baixa da curva pela manhã, mas a impressão é de que a declaração do ministro da Fazenda sobre o "poder da Câmara" não passará incólume.

Segundo apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), no mundo político e no mercado, a percepção é a de que a tributação de aplicações e negócios em paraísos fiscais está mais distante. A taxação das aplicações offshore é vista pela equipe econômica como importante na busca por arrecadação para o cumprimento da meta de déficit zero para 2024, mas desde o começo, a ideia não foi bem recebida por alguns parlamentares e a rusga recente entre Haddad e Lira foi o episódio que faltava para que esses agentes passassem a acreditar que o assunto agora ficará em banho-maria.

Sérgio Silva, gestor de portfólio da Tenax Capital, afirma que o mercado se frustrou com o ritmo das reformas na volta do Congresso, uma vez que antes do recesso as pautas haviam andado com certa velocidade. "O mercado está vendo certa morosidade. Isso, somado às dúvidas sobre como fechar a conta para a meta zero em 2024 e ao exterior, tem pressionado a curva, mas ainda estamos bem em relação aos pares da região", avalia.

Bolsa

Parecia que a série negativa do Ibovespa chegaria a termo nesta quarta-feira mesmo com a cautela que se impôs à tarde em Nova York, onde os principais índices de ações se firmaram em baixa e acentuaram perdas na sessão, em resposta a sinais "hawkish" sobre a política monetária dos Estados Unidos notados na ata da mais recente decisão do BC norte-americano sobre juros, divulgada às 15 horas (de Brasília). Depois das 16 horas, contudo, o Ibovespa não resistiu à piora do sentimento no exterior e devolveu os ganhos moderados vistos mais cedo, encadeando assim a 12ª perda diária, algo não visto desde 1970, de acordo com o AE Dados.

Abaixo dos 116 mil pontos, nas mínimas da sessão, o Ibovespa fechou em queda de 0,50%, aos 115.591,52 pontos, tendo chegado no piso do dia, no fim da tarde, aos 115.533,58 pontos, saindo de máxima na sessão a 117.337,65 e de abertura a 116.171,26 pontos. Na semana, o Ibovespa recua 2,10% e, no mês, cede 5,21%, limitando o avanço no ano a 5,34%. O giro financeiro desta quarta-feira foi a R$ 48,8 bilhões, fortalecido pelo vencimento de opções sobre o índice.

O fechamento abaixo dos 116 mil pontos, agora o menor nível de encerramento para o Ibovespa desde 7 de junho, então aos 115.488,16 pontos, abre caminho para o prolongamento da correção em curso, com o índice da B3 ainda sem o gosto de ganhos no mês após ter encerrado julho bem perto dos 122 mil pontos. A região dos 116 mil pontos era considerada uma referência de suporte importante que, uma vez rompida, poderia levar o Ibovespa ainda mais para baixo, em direção aos 110,5 mil pontos.

O documento do Federal Reserve destacou que os dirigentes da instituição consideram "fundamental" que a taxa de juros dos Estados Unidos permaneça em nível restritivo até a inflação retornar à meta de 2% ao ano, no médio prazo. Apesar do recado, e da reação vista nos preços do petróleo, em queda em torno de 2% na sessão, Petrobras puxava então, pelo peso que possui no índice, recuperação parcial do Ibovespa nesta quarta-feira, com a ON ainda em alta de 2,95% e a PN, de 2,20%, no fechamento.

No dia seguinte ao anúncio, pela estatal, de aumento nos preços da gasolina e do diesel nas refinarias, válido a partir desta quarta-feira, o sinal negativo para WTI e Brent na sessão não deixou de ser benéfico para as ações da Petrobras, na medida em que contribui, também, para reduzir a defasagem entre os preços domésticos e as cotações internacionais da commodity. Mas Petrobras, sozinha, não fez o verão, e o Ibovespa iguala agora o feito do intervalo de 26 de maio a 11 de junho de 1970, há mais de 53 anos, quando também cedeu por 12 sessões seguidas.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para IRB (+11,86%), Magazine Luiza (+7,22%) e Via (+5,92%), com Natura (-8,90%), Hapvida (-5,78%) e Alpargatas (-4,98%) no canto oposto. Entre os grandes bancos, BB ON foi a exceção positiva, em alta de 0,86% no fechamento, com perdas que chegaram a 1,46% (Bradesco ON) no fim do dia. Vale ON também fechou em baixa, de 0,39%, com perdas no mês que se encaminham para 10% (até aqui, -9,48% em agosto, cedendo 4,43% na semana).

Até a piora no fim da tarde, a recuperação desta quarta vinha sendo "muito condicionada por preço dos ativos, especialmente no setor de commodities", mas a perspectiva à frente ainda é "nebulosa", com "muitos fatores de incerteza ainda no horizonte, externo como também doméstico", observa Gustavo Harada, líder da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.

"Além de toda incerteza em relação à economia chinesa, com efeito direto sobre as commodities, há ainda atenção ao fiscal no plano doméstico, com a expectativa para a votação do arcabouço, e também para a proposta de Orçamento de 2024. E, nos Estados Unidos, há também a questão dos juros e o efeito sobre a economia e as empresas, com um nível de endividamento que pode vir a ser um fator de preocupação, tendo em vista o atual nível de precificação dos ativos em Bolsa, ainda esticados", acrescenta Harada.

"A ata do Fed veio um pouco mais "hawkish", na medida em que eles entendem que mais uma alta de juros pode ser ainda necessária. Por outro lado, mostra também que alguns dirigentes já tinham pensado em parar na última decisão, pelo efeito defasado da alta de juros sobre a economia. O que vai definir qual das pontas está certa são os dados, e haverá novas leituras de inflação ao consumidor, ao produtor e também sobre o mercado de trabalho até lá setembro, quando o Fed volta a deliberar sobre os juros. A ata de hoje ainda deixa em aberto os próximos passos do BC americano", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

"A ata trouxe muitos detalhes sobre o desenrolar do cenário econômico por lá, e os diretores do Fed estão vendo ainda riscos de alta na inflação, inclusive eles citam, no documento, a possibilidade de aperto adicional nos juros para garantir a convergência da inflação para a meta, o que representaria risco de queda adicional para a atividade econômica", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. "A primeira leitura do mercado foi de aperto adicional nos juros americanos. Mas depois, o mercado voltou a reduzir, um pouquinho, essa possibilidade. Vão continuar acompanhando inflação e dados sobre o mercado de trabalho", conclui a economista.


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