Devolução do BNDES de R$ 180 bilhões ao Tesouro ameaça concessões em infraestrutura
Diretor do banco de fomento avalia que empresas terão dificuldades para encontrar recursos
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Embora as concessões sejam uma prioridade, o governo tem de lidar com outro problema igualmente urgente: o Tesouro precisa do dinheiro do BNDES para não descumprir a chamada "regra de ouro" do Orçamento, que proíbe a emissão de dívida para bancar despesas correntes. Descumprir essa norma é crime de responsabilidade. Mesmo ponderando que atender aos dois objetivos não é impossível, Costa alerta que a instituição precisa ter um mínimo de recursos para garantir sua liquidez, bem como para honrar desembolsos já contratados e que ainda serão fechados. "O dinheiro que está lá tem várias destinações. Estamos exatamente calculando isso agora."
O governo procura de todas as formas evitar que, novamente, a falta de financiamento seja o "gargalo" das privatizações. Esse foi o principal problema vivido pelas empresas que arremataram concessões no governo de Dilma Rousseff. Embora houvesse "cartas-compromisso" do BNDES, da Caixa e do Banco do Brasil prometendo empréstimos de até 80% do valor dos projetos, o dinheiro não foi liberado. As concessões foram planejadas para operar num cenário de crescimento, mas o que se viu foi a pior recessão da história. A conta não fechava.
A falha na liberação dos empréstimos foi reconhecida pelo governo nesta terça-feira, que depois de um ano de relutância editou Medida Provisória (MP) para "salvar" as concessões rodoviárias vitimadas pela falta de financiamento. A questão, agora, passa a ser a disponibilidade dos recursos. "A fonte de financiamento de longo prazo nesse país é o BNDES", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), César Borges.
Isso ficou claro em evento realizado pela entidade na semana passada. O responsável pela área de Project Finance do Santander, Edson Nobuo Ogawa, disse que "não vê bancos privados financiando com recursos próprios por 15, 18 anos". A principal restrição é a ausência de um mercado secundário que permita às instituições financeiras "girar" sua carteira. Procurado, o Ministério da Fazenda não quis comentar.