Diante de preocupações com fiscal, dólar fecha em alta de 2,25%, a R$ 5,6396

Diante de preocupações com fiscal, dólar fecha em alta de 2,25%, a R$ 5,6396

Ibovespa terminou o dia em queda de 1,06%, aos 112.064,19 pontos

AE

Índice da B3, com dólar renovando máximas da sessão, fechou na mínima do dia

publicidade

O real engrenou nesta quarta-feira em nova trajetória de desvalorização frente ao dólar por temores domésticos pelas preocupações com o descontrole fiscal, os efeitos da pandemia na economia local e, do ponto de vista técnico, pela pressão por saída de recursos pela via financeira, de acordo com profissionais que acompanham o câmbio. A moeda local, que já desvalorizou cerca de 8% só neste ano, também seguiu em boa medida o caminho de seus pares de países emergentes, que perderam valor diante da divisa americana.

Na sessão desta quarta, o dólar voltou a operar acima da faixa dos R$ 5,60, encerrando o dia no spot em alta de 2,25%, a R$ 5,6396.

Para Otávio Aidar, estrategista-chefe e gestor de moedas da Infinity Asset, o país está em um momento complicado da pandemia e, com isso, voltam as preocupações sobre a trajetória fiscal e o aumento da relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB), próxima de 100%.

"(Estamos) voltando para as mesmas discussões - já estão discutindo que precisamos de novo auxílio e nem foi pago o benefício ainda", disse logo após a notícia relatando que em carta aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), governadores de 16 Estados pedem que o Congresso disponibilize recursos necessários para que os valores da nova rodada do auxílio emergencial sejam superiores aos estabelecidos pelo governo federal em medida provisória, de R$ 175, R$ 250 e R$ 375.

Eles defendem que a reedição do socorro a vulneráveis na pandemia repita a quantia mensal de R$ 600 e os critérios de acesso adotados nos oito desembolsos feitos em 2020.

Samar Maziad, vice-presidente da Moody's, em entrevista ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), disse que, mesmo que o Banco Central suba juros, segue a necessidade de consolidação fiscal, uma vez que, para ela, a lenta vacinação no Brasil pode elevar a demanda por gastos, tendo pressão negativa na nota de crédito do País. Ela afirmou ainda não estar segura de que haverá grandes progressos na reforma tributária ainda neste ano.

De acordo com Aidar, o país está às vésperas de uma nova desaceleração da atividade econômica, só que, desta vez, com o Banco Central subindo juros. "Temos a moeda local muito mais depreciada do que deveria e, ao mesmo tempo, a dificuldade porque a inflação andou e isso por conta da depreciação cambial", disse, afirmando que o indicador da Asset indica que o real é a moeda que mais sofre na comparação com uma cesta de moedas emergentes.

Juros

Os juros futuros terminaram o dia em alta, que ganhou impulso no fechamento, após a informação de que os governadores estão pedindo ao Executivo um aumento no valor do auxilio emergencial. As taxas até começaram bem a quarta-feira, em queda, mas o sentimento de cautela voltou a dominar as mesas, alimentando a tendência recente de inclinação da curva, num dia muito ruim para o real. O dólar voltou a testar os R$ 5,60 e as taxas longas tiveram avanço de mais de 20 pontos-base.

A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 terminou em 4,73%, de 4,685% no ajuste anterior e a do DI para janeiro de 2025 fechou acima de 8% pela primeira vez em um ano, a 8,15%, maior desde 24 de março de 2020, ante 7,916% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 8,70%, de 8,434% no ajuste anterior.

Pela manhã, as taxas, que vêm subindo desde o fim do Comitê de Política Monetária (Copom), chegaram a ensaiar melhora e alguma correção, na esteira da queda do rendimento dos Treasuries, mas o movimento teve vida curta e ainda na primeira etapa a postura defensiva voltou a prevalecer. "Os Treasuries têm um papel tradicionalmente importante para os ativos, mas no momento o ambiente interno é muito preocupante", afirma o operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio.

Segundo Alírio, há grande incerteza sobre qual será o impacto predominante da pandemia, se o fiscal ou da atividade fraca. Dado o desenho da curva, ele acredita que o mercado pode estar subestimando as consequências para a atividade. Parte do mercado também viu o Banco Central fazer o mesmo na ata do Copom. "As expectativas para a Selic parecem estar infladas. Não adianta muito fazer aposta agressiva, pois a situação da pandemia é complexa. O valor do auxílio emergencial não é mesmo de 2020", disse.

A questão é que, com a totalização de 300 mil mortes por covid no País, colapso do sistema de saúde e medidas de restrição à circulação e ao comércio cada vez mais duras, a pressão sobre o cenário fiscal cresceu.

Nesse quadro nublado, há dúvida sobre se o Banco Central conseguirá aplicar, de fato, o aperto monetário embutido na curva. "Avaliamos que os juros precificando Selic acima de 6% até o final do ano estariam exagerados. O Bacen deverá perseguir uma inflação mais baixa do que as estimativas próximas de 5%, e por isso, estimamos Selic de 5,75% para calibrar um IPCA de 2021 mais próximo de 4,4% de 2020", afirma Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust.

Bolsa

O bom desempenho das ações de commodities, em dia de retomada acima de 5% nos futuros de petróleo, contribuía para que o Ibovespa firmasse alta e se reaproximasse dos 115 mil pontos no melhor momento da sessão, muito moderada a partir do meio da tarde e afinal devolvida na reta final, ante o avanço do dólar e dos juros futuros, que voltaram a refletir incertezas sobre as contas públicas em meio à pandemia. Ao fim, o índice da B3, com o dólar renovando máximas da sessão a R$ 5,64, fechou na mínima do dia, perto de ceder os 112 mil pontos, tocando menor nível intradia desde 10 de março (109.998,86 pontos).

Saindo de máxima a 114.822,60 pontos, com abertura a 113.272,08 pontos e giro a R$ 30,6 bilhões, o Ibovespa fechou nesta quarta-feira em queda de 1,06%, aos 112.064,19 pontos, acentuando as perdas da semana a 3,58%, nesta terceira queda diária consecutiva, todas acima de 1%.

No mês, o índice ainda avança 1,84%, colocando as perdas do ano a 5,84%. A queda desta quarta levou o Ibovespa ao menor nível de encerramento desde 9 de março, então aos 111.330,62 pontos.

Em Nova Iorque, o dia também sofreu reversão perto do fechamento, com o Dow Jones (-0,01%) e o S&P 500 (-0,55%) se juntando ao Nasdaq (-2,01%) em terreno negativo no encerramento. Mais cedo, Wall Street reagia bem a novas declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e da secretária do Tesouro, Janet Yellen, sobre a economia americana e a perspectiva para inflação e endividamento.

Na B3, a busca por ações descontadas, como as de Petrobras (PN +0,09% e ON -0,09% no fechamento) e bancos, acabou sendo freada pela progressão do dólar e dos juros futuros à tarde, e afinal revertida, com a moeda à vista sendo negociada em alta superior a 2,2% na máxima do dia, a R$ 5,6421 - no fechamento, o avanço era de 2,25%, a R$ 5,6396.

Além de Petrobras, o dia ensaiava recuperação para outro segmento de peso e que também acumula perdas no ano, o financeiro, que se alinhou em baixa no encerramento (BB ON -1,82%, Itaú PN -1,74%), assim como a maior parte do siderúrgico, à exceção de Gerdau PN (+0,79%) e Gerdau Metalúrgica (+0,59%).

O humor do dia começou a mudar com o relato de que, em carta ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), governadores de 16 Estados defenderam aumento do valor do auxílio emergencial a R$ 600, como no início da pandemia, o que colocou pressão sobre a curva de juros e o dólar no meio da tarde, limitando então a recuperação do Ibovespa.

O desdobramento ocorre na véspera da votação do Orçamento no plenário da Câmara e, depois, do Senado, o que reforça o alerta do mercado para a situação fiscal, ainda percebida como "calcanhar de Aquiles", observa a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

"Lá fora, a margem de manobra apontada pelo Powell com relação à inflação estava contribuindo para um dia positivo, assim como o petróleo, com o problema no cargueiro que paralisou o Canal de Suez", diz Romero Oliveira, especialista em renda variável da Valor Investimentos, ressalvando que a assunção de risco em ações com exposição à economia interna, como o varejo, continua sendo afetada pelos efeitos da pandemia e pelo lento avanço da vacinação, o que também enfraquece a confiança dos consumidores. "No Brasil, a segunda onda de lockdown, com recorde de mortes, faz o investidor ter receio em tomar risco em empresas ligadas ao cenário interno, e que devem continuar pressionadas até que haja mais ritmo na vacinação, possivelmente em abril ou maio."

Seja pelo dólar ou pelo noticiário corporativo, parte das componentes do Ibovespa conseguiu sustentar bons ganhos na sessão, especialmente Carrefour (+12,77%), à frente de Suzano (+2,63%) e de Vale (+2,30%) entre as vitoriosas do índice da B3 nesta sessão, assim como Gol (+2,46%). No lado oposto, IRB cedeu 6,20%, Via Varejo, 5,53%, e Magazine Luiza, 5,30%.


Azeite gaúcho conquista prêmio internacional

Produzido na Fazenda Serra dos Tapes, de Canguçu, Potenza Frutado venceu em primeiro lugar na categoria “Best International EVOO” do Guía ESAO

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895