Efeitos de corte nos juros no Brasil ainda demoram

Efeitos de corte nos juros no Brasil ainda demoram

Mesmo que Selic caísse em agosto, perceber impacto na atividade poderia levar até 3 trimestres

Karina Reif

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Assim como ocorre a cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reuniu na última semana para definir a taxa de juros. Mesmo com a pressão do governo, de setores econômicos e de centrais sindicais, o patamar de 13,75% foi mantido. O argumento para a demanda por redução está vinculado a obter empréstimos e aquecer a economia, mas o caminho ainda é longo. A partir da previsão do mercado de que ocorra queda nos juros entre agosto e setembro, o economista-chefe da câmara de dirigentes lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, alerta que os reflexos da mudança não serão sentidos de forma imediata.

“A política monetária opera com defasagem em relação à economia. Mesmo que a gente tenha redução de juros se avizinhando, costuma levar algum tempo, de dois a três trimestres, para que esse impacto se materialize sobre a atividade no nível de renda e de emprego”, previu. 

O especialista lembrou também que os agentes financeiros precisam revisitar expectativas e contratos estabelecidos a partir de um cenário diferente. “Para quem quer empreender e precisa pegar dinheiro nos bancos, o fato de o juro estar alto é péssimo. Compras financiadas para imóveis e carros também não são favorecidas”, acrescenta o economista João Carlos Medeiros Madail. A Selic, por outro lado, é usada como ferramenta para frear a alta de preços. “Tem sido graças a ela que a inflação está em queda”, ressaltou. Os últimos meses vêm mostrando desaceleração de índices como o IPCA, a inflação oficial, e queda propriamente dita em indicadores como o IGP-M, adotado em contratos de aluguel.

Há outras variáveis, segundo Madail, que também são importantes para definir o percentual que irá influenciar todo tipo de operação de crédito. “Se baixar demais os juros, o acesso ao dinheiro fica fácil, levando os consumidores a comprar mais (demanda maior que oferta), os preços dos produtos subirão, provocando perda do poder de compra do assalariado”, pondera. A taxa de juros alta estimula o capital especulativo, mas valoriza a moeda nacional frente ao dólar, possibilitando aquisição de produtos importados com maior facilidade, diminuindo a demanda por itens nacionais e fazendo com que os preços sejam reduzidos, compara o economista. A prioridade por desenvolver a economia, com aumento da produção e dos serviços, gerando empregos e melhoria na infraestrutura, garantiria mais segurança para baixar significativamente os juros, como ocorre nos países desenvolvidos, lembra ele. “Juro alto, afora segurar a inflação, serve para especulador direcionar suas economias visando ganhos fáceis”, alerta. 

Na avaliação de Frank, da CDL Porto Alegre, o desaquecimento do empreendedorismo, sobretudo para setores mais dependentes de crédito, é mais um impacto de uma Selic alta. O consumo das famílias também tende a ser menor. Outro reflexo a partir de possível corte na taxa está relacionado com os investimentos individuais, segundo o educador financeiro Adriano Severo. “Diminuirá a rentabilidade do investidor em suas aplicações pessoais”, observa. 

 


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