Impactos do tarifaço, questões macro-locais da economia do Rio Grande do Sul e gargalos para os setores que dificultam o desenvolvimento de multinacionais e do setor industrial foi tema da tradicional reunião-almoço Tá Na Mesa, promovida pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul) no Palácio do Comércio nesta quarta-feira. O assunto foi discutido entre os presidentes do Conselho de Administração da Docile, Alexandre Heineck, do Banco Randon, Joarez Piccinini, também diretor de Relações Institucionais da RandonCorp, e pelo gerente de estratégia da Marcopolo, Rodrigo Bisi.
Alexandre destacou os impactos sofridos na referência no segmento de doces e guloseimas, em Lajeado, pela taxação de 50% imposta pelo presidente americano Donald Trump. O presidente do conselho lembrou que os Estados Unidos tornaram-se o principal destino de exportação da empresa nos últimos anos, com 80% da produção, e tem buscado novos mercados. "Estamos enfrentando uma uma situação bem importante. Temos a crença de que isso possa ser minimizado com o acerto entre os governos, têm competência no Brasil para isso. Deram disposição de ambos os lados para a gente chegar em um número mais interessante para continuar fazendo essa relação bem construída", afirmou.
Ele também comentou a dificuldade de substituição de demandas por conta de trâmites e licenças e adequação dos produtos a outros mercados. “Ainda existe um universo de países que não estamos presentes e temos que avançar, principalmente no Oriente. Nesses países mais próximos já temos relações, principalmente da América Latina, para suprir um pouquinho dessa demanda", diz.
Joarez corrobora com a ideia de que essa transição não é imediata. A RandonCorp, multinacional brasileira presente em mais de 125 países, desenvolve soluções para o transporte. "Nossos produtos são bens de capital, peças para o setor de transporte comercial, diferentemente de uma commodity, que pode ser colocada em qualquer mercado ou em qualquer momento. Tem que desenvolver mercado e distribuição", afirmou. Porém, ele acredita que é possível compensar gradativamente as relações e ao longo do tempo. Joarez lembrou, porém, que as tarifas acabam encarecendo os outros produtos importados que competem com a empresa, e existe muita instabilidade para fazer planejamento e investimento a longo prazo.
Joarez também comentou que a reforma trabalhista trouxe alterações positivas e podem levantar bons resultados futuramente, ainda que não sejam visíveis, e torce que a reforma tributária possa trazer simplificação. Porém, questões como o Custo Brasil, aliadas com a baixa produtividade, dificultam o aumento de exportações e a competição com outros países e mercados. "Tem um estudo que mostra o custo adicional aos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] de aproximadamente 1 trilhão e 700 bilhões, quase chegando a 2 trilhões. Isso representa 18% do PIB [Produto Interno Bruto]. Esse é um grande entrave, é uma das razões que a gente tem dificuldade de agregar valor nas exportações", afirmou.
Apesar do aumento de vendas, Rodrigo enxerga 2026 com uma estagnação de mercado. "Quando a gente olha para o ambiente externo, a competitividade dos nossos produtos seguem sendo muito difíceis, principalmente no mercado que a gente compete com produtos chineses. Com a nossa competitividade exportadora no Brasil, a gente fica bastante prejudicado", afirmou. Ele acredita que investir em operações internacionais trará mais presença nos mercados e gerando empregos locais para fazer frente a essa ofensiva. A Marcopolo, que exporta para mais de 140 países, quer investir no segmento de eletromobilidade. Na visão de Rodrigo, ainda falta espaço no Brasil, comparado com países vizinhos, como o Chile. "É um segmento que vem crescendo, mas a passos muito lentos. A gente vê que falta uma política do Estado para impulsionar a descarbonização da nossa frota", afirma.
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Joarez aponta, no entanto, que, apesar das tarifas, questões internas voltadas ao déficit fiscal, gastos públicos e elevação constante das tributações são questões que também inibem o crescimento econômico. "Conceder isenção, todo mundo concorda, mas a compensação da isenção não não deveria ser através da regulação de tributação. Deveria ser através do corte de caixa, da redução do gasto público, permitindo que, com isso, tivesse uma maior distribuição de renda, mas que tivesse redução do gasto público, que é muito elevado", defende.
Alexandre enxerga que o Rio Grande do Sul ainda tem uma posição desfavorável em relação ao restante do país, e defende que o estado precisa ter maior dinamicidade, e precisa de outras vias de transporte para dar mais fluidez às produções. Joarez complementa que o estado ainda tem dificuldades para administrar dívidas históricas, e que reformas administrativas auxiliam a mitigar os problemas históricos. Ainda, que iniciativas de inovação desenvolvidas, como centros de inovação, são uma diferenciação e podem auxiliar o estado.
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