Frustração com política econômica reduz expectativa de recuperação

Frustração com política econômica reduz expectativa de recuperação

Previsão dos empresários de melhora nos negócios para o próximo mês teve queda de 54% para 38% entre outubro e novembro

R7

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A elevação dos custos de produção, alta da inflação, queda no poder de compra e a retração no consumo têm frustrado as expectativas dos empresários das micro e pequenas indústrias em relação ao fim do ano e à retomada dos negócios. A conclusão é da pesquisa Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, encomendada pelo Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (SIMPI). Os dados foram apurados entre 19 a 30 novembro 2021.

De acordo com o estudo, os números de novembro, além da piora no cenário macroeconômico, mostram queda no otimismo. Para os empresários, a previsão de melhora no próximo mês diminuiu de 54% para 38%, enquanto a expectativa de piora nos negócios aumentou de 9% para 14%.

O pessimismo das micro e pequenas indústrias para a retomada econômica nos próximos meses se mantém elevado pelo quarto mês consecutivo, com 54% dos empresários percebendo a crise ainda forte e afetando muitos os negócios. 

De acordo com a pesquisa, a expectativa negativa das micro e pequenas indústrias com relação à situação econômica do país nos próximos meses passou de 26% para 32% entre setembro e novembro. Em relação à expectativa da situação econômica das micro e pequenas indústrias para o próximo mês, a previsão de melhora nos negócios caiu de 53% para 47%.

Cenário prolongado de alta de preços

Pelo décimo mês seguido, o Índice de Custos das micro e pequenas indústrias fica abaixo de 100 pontos, refletindo o longo período de alta nos custos de produção. Em novembro, o resultado ficou em 70 pontos, ainda mais baixo do que os 74 pontos do mês anterior.

Desemprego segue elevado

Os últimos meses do ano historicamente são de economia aquecida, com abertura de vagas temporárias de trabalho e aumento das vendas por conta das festas de fim ano. No entanto, a pesquisa mostra que 2021 será diferente, já que as micro e pequenas indústrias devem permanecer com nível baixo de satisfação (109 pontos) em relação aos negócios, semelhante ao cenário de 2019 (107 pontos), ou seja, bem ruim. A expectativa de alta no desemprego entre as micro e pequenas indústrias subiu de 30% para 37%, entre setembro e novembro.

Retração nos negócios

Para o presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria no Estado de São Paulo (SIMPI), Joseph Couri, a pesquisa aponta para mais um período de retração nos negócios, contrariando as expectativas de aumento na demanda por causa do fim de ano. A ameaça de uma nova onda de contaminação por Covid-19 e a preocupação com o possível retorno das restrições sanitárias têm afetado a economia e refletido diretamente a maioria dos segmentos de produção.

“A busca por crédito e a queda no otimismo dos empresários evidenciam uma crise ainda forte e longe de acabar para as micro e pequenas indústrias. Ao contrário do que se esperava, o final do ano não trará o respiro nas contas para as empresas, comprometendo o fluxo de caixa e, consequentemente, a geração de emprego e renda, além de reduzir ainda mais o poder de compra das pessoas e elevar a inflação. Um círculo vicioso”, define Couri. 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, por sua vez, admitiu, em evento virtual de uma instituição financeira, em meados de novembro que a inflação será maior que o esperado em 2022. Ele alegou, entretanto, que o crescimento também superará o previsto por economistas e pelo mercado financeiro. Mesmo em cenário de aumento de preço de alimentos e combustíveis e de crise social, Guedes criticou as estimativas negativas: "Não faço previsões, zombo delas,” disse o ministro na ocasião.

“Certamente temos um problema com a inflação subindo, e certamente estamos tendo problemas porque não estamos sendo bem-sucedidos em fazer reformas com a agilidade necessária, mas acho que o Congresso nos apoiará nas reformas”, acrescentou.

Parlamentares criticam omissão de Guedes

O pessimismo em relação ao cenário econômico do país também chegou ao Congresso Nacional. A insatisfação com a política econômica do ministro Paulo Guedes chega até mesmo a parlamentares que integram a base do governo no Congresso. Em jantar promovido em outubro pela Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, as insatisfações com o titular da pasta econômica se tornaram o principal assunto.

Guedes é apontado como o agente responsável pelas travas que impedem o crescimento do país. Enquanto a inflação aumenta e o câmbio sobe, o Executivo deixa de entrar com força nas discussões em torno da reforma tributária e em outras medidas que poderiam abrandar os problemas que atingem empresas e famílias brasileiras. A inflação bateu recorde, e o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) ficou em 1,17% no mês de novembro, acumulando alta de 10,34% nos últimos 12 meses. Em fevereiro deste ano, Guedes, defendeu a desvalorização do real, alegando que a perda de valor da moeda nacional reverte o processo de desindustrialização e incentiva o empreendedorismo, em razão da alta dos juros. 


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