Governo paga para Guedes participar de evento promovido pela filha

Governo paga para Guedes participar de evento promovido pela filha

Filha de Guedes convidou pai e secretários para evento privado, mas custos de diária e passagens foram pagos pelo governo

R7

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Um evento privado para empresários em bairro nobre do Rio de Janeiro, promovido por uma organização da filha de Paulo Guedes, acabou gerando custos para os cofres públicos. Paula Drumond Guedes é fundadora da organização IFL Dialogues, que promoveu, em 2019, o evento Origem 2030. A palestra contou com a presença de pelo menos quatro funcionários do Ministério da Economia, incluindo o próprio ministro, e a ida do grupo foi custeada pelo governo federal. 

É isso que apontam cruzamentos de dados do Portal da Transparência avaliados pelo R7. A reportagem apurou que os cofres públicos garantiram R$ 15.739,27 para passagem e hospedagem de Paulo Guedes e outros três assessores, entre eles Igor Manhaes Nazareth, subsecretário de Inovação.

Embora Guedes tivesse outros compromissos na agenda oficial do dia do evento, também no Rio de Janeiro, dois dos assessores só foram ao estado por conta da palestra da filha do ministro. Um deles consta como palestrante, segundo a agenda da pasta. A agenda do outro assessor cita que o motivo da viagem é apenas “acompanhar o ministro Paulo Guedes ao evento Origem 2030”.

Para o advogado e cientista político Nauê de Azevedo, é preciso analisar se houve benfeitoria ao público para justificar essa ida da equipe. "Observar se esse evento privado tem algum tipo de conexão com algum tipo de política pública ou alguma medida que pode vir a ser tomada, ou veio a ser tomada, pelo Ministério da Economia", diz.

"Se eles forem bancados pelo dinheiro do Estado sem nenhuma contrapartida, sem nenhuma justificativa plausível para isso, estaremos diante até de uma possível improbidade administrativa, que se tem um desvio de recurso público para um fim puramente privado", complementa o advogado. 

Gil Castello Branco, economista e fundador da Associação Contas Abertas, também ressalta que todo gasto público precisa necessariamente estar associado ao interesse público. "Se qualquer servidor recebe diárias para ir a um evento privado que não tem absolutamente nenhuma relação com o interesse público, essas diárias foram pagas indevidamente, e devem ser tomadas providências junto ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas, para ressarcir", diz.

O R7 fez contato com o Ministério da Economia e aguarda posicionamento da Pasta sobre o caso. 

Avião e offshore

Paula Drumond Guedes e a organização IFL Dialogues também estiveram envolvidas em outra polêmica recente. A agência de jornalismo investigativo Sportlight mostrou que a filha do ministro pegou carona do pai em voos oficiais da FAB (Força Aérea Brasileira) neste ano, sob justificativa de que Guedes participaria de uma conferência do Instituto de Formação de Líderes, para proferir uma “palestra sem fins lucrativos”, sob a organização de Paula.

As participações do ministro e de secretários em atividades promovidas pela filha ainda valorizam os eventos. O Origem 2030, por exemplo, foi “estritamente para convidados”, como diz a página oficial. Para participar sem o convite, o interessado deveria preencher um formulário indicando de qual empresa é fundador e respondendo se é investidor de VC (venture capital), um meio de investimento do fomento de negócios e empreendimentos de alto risco. O site não detalha os custos para participação nas palestras. 

O nome de Paula Drumond Guedes também chegou recentemente ao MPF (Ministério Público Federal). Segundo denúncia dos deputados federais Elias Vaz (PSB-GO), Kim Kataguiri (DEM-SP), Lídice de Mata (PSB-BA) e Bira do Pindaré (PSB-MA), que enviaram uma representação contra o ministro da Economia, Paulo Guedes omitiu que a filha é diretora de uma offshore que ele mantém nas Ilhas Virgens Britânicas.

No documento, os parlamentares pedem investigação sobre a filha e a esposa do ministro quanto à atuação de ambas na offshore, cujo patrimônio, segundo eles, chega a R$ 50 milhões. Elias Vaz fez a denúncia com base em documentos enviados pelo ministro à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. O material demonstra, segundo Vaz, que Paula continuou na direção da offshore, mas Guedes não apresentou essa informação na Declaração Confidencial de Informações (DCI), exigida pelo governo.

Evento e outros projetos

De acordo com as informações do site oficial do evento, o encontro promovido em 2019 discutiu o “ecossistema brasileiro de tecnologia” e o Brasil como “origem de global tech”. A página informa que os participantes fariam um “diálogo sobre como políticas públicas podem ser implementadas para que o ecossistema de tecnologia esteja entre os top 3 globalmente até o ano de 2030”.

“A indústria de tecnologia convoca importância estratégica para qualquer economia no século 21. Empresas originalmente financiadas por fundos de venture capital representam 22% do PIB americano e 11% dos empregos do setor privado nos EUA. Por suas implicações políticas e econômicas, seria de interesse do governo federal que o ambiente de negócios no setor fosse melhorado, assim atraindo a indústria ao Brasil”, traz o site.

Já a página geral da IFL Dialogues classifica a organização como uma empresa que busca “estimular conversas construtivas e interessantes sobre temas complexos”. Além do Origem 2030, outros três eventos constam como parte dos projetos do instituto. As abas do site que mostram os membros da IFL Dialogues e como participar não estão disponíveis.

Além de ser fundadora da organização, Paula Drumond Guedes é presidente e CEO da Jobzi, empresa de inteligência de dados voltada para o mercado de trabalho e educação. Ela foi assessora e assistente do pai durante a campanha e o período de transição, entre março de 2018 e março de 2019, e contribui para o Instituto Millenium.

 


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