Guedes diz que “chinês” criou vírus e desenvolve vacinas piores que as dos EUA

Guedes diz que “chinês” criou vírus e desenvolve vacinas piores que as dos EUA

Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 70% das 57,9 milhões de doses de vacinas entregues no Brasil até agora são da Coronavac

AE

Ministro não sabia que estava sendo gravado quando deu declarações

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Sem saber que era gravado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça-feira que "o chinês" criou a Covid-19 e ainda produziu vacinas de eficácia mais baixa do que aquelas desenvolvidas por farmacêuticas dos Estados Unidos. Relatório sobre as origens da doença elaborado por especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) conclui, como os especialistas já haviam previsto ao final de sua missão na China em fevereiro, que é "extremamente improvável" que pandemia de coronavírus tenha sido provocada por um acidente ou fuga de patógenos de um laboratório.

A fala de Guedes, durante reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu), ecoa uma teoria bolsonarista difundida nas redes sociais de que a China desenvolveu o vírus em laboratório com interesses econômicos. Além dele, estavam na reunião do conselho os ministros da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, da Saúde, Marcelo Queiroga, e da Justiça, Anderson Torres, além de representantes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Nenhum dos dois ministros, incluindo o da Saúde, corrigiu Guedes.

Parte da reunião foi transmitida em redes sociais do Ministério da Saúde. O vídeo foi interrompido após os ministros perceberem a gravação. As imagens não estão mais disponíveis. Críticas semelhantes às feitas por Guedes levaram à queda de Ernesto Araújo do Ministério de Relações Exteriores. Ele ficou inviabilizado por prejudicar as relações com os chineses, principalmente no momento em que o País depende de vacinas e matérias-primas dos asiáticos.

Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, o ministro Ramos afirmou na reunião preferir a vacina de Oxford/AstraZeneca do que a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e entregue no Brasil pelo Instituto Butantan, órgão ligado ao governo de São Paulo.

As falas dos ministros ocorrem no momento em que o Senado realizava a primeira reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que vai investigar atrasos do governo federal na aquisição de imunizantes. Além disso, o Brasil é dependente da importação de insumos farmacêuticos ativos da China para a produção tanto da Coronavac como da vacina de Oxford/AstraZeneca, na Fiocruz. Polêmicas com os chineses envolvendo o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo foram apontadas como motivo para atraso do envio de produtos ao País.

Na reunião, Guedes também disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) é ineficaz e defendeu o uso da rede privada para atender pacientes de Covid-19. A reunião do Consu dita justamente regras ao setor coberto por planos de saúde. Já Ramos disse que tem estimulado o presidente Jair Bolsonaro a se vacinar. Aos 66 anos, Bolsonaro poderia se vacinar desde o começo de abril, quando o DF passou a distribuir doses para o público desta idade. Guedes, que tem 71 anos, foi vacinado no mês passado, com a Coronavac.

Ao aprovar o uso do imunizante chinês no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontou que a vacina é segura. Bolsonaro, porém, já desacreditou a Coronavac e disse que não compraria o produto pela origem chinesa. "Da China nós não compraremos. É decisão minha. Não acredito que ela transmita segurança suficiente a população pela sua origem, esse é o pensamento nosso", disse Bolsonaro, em 21 de outubro, em entrevista à Jovem Pan.

Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 70% das 57,9 milhões de doses de vacinas entregues no Brasil até agora são da Coronavac. Além disso, o insumo usado pela Fiocruz para produzir a vacina de Oxford/AstraZeneca é importado da China. Procuradas, Casa Civil, Economia e embaixada chinesa não se manifestaram até o fechamento deste texto.

 

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