Lockdown assusta e empresários pedem flexibilização em Porto Alegre

Lockdown assusta e empresários pedem flexibilização em Porto Alegre

Presidente do Grupo de Líderes Empresariais, Eduardo Fernandez, sugeriu alternativas para que o modelo de distanciamento social não fique mais severo

Christian Bueller

Devido ao decreto municipal, parte dos comércios estão fechados em Porto Alegre

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A possibilidade de Porto Alegre entrar em lockdown, como medida para diminuir o impacto da Covid-19, está assustando os empresários. O prefeito Nelson Marchezan Júnior poderá decretar este modelo ainda mais rígido nos próximos dias, caso o isolamento social atual não seja suficiente para conter o avanço da doença na Capital. O Grupo de Líderes Empresariais (Lide-RS) elaborou um manifesto que pede uma flexibilização das atividades econômicas na cidade.

Segundo o presidente da entidade, Eduardo Fernandez, os estabelecimentos comerciais, indústrias e shopping centers adotaram protocolos sanitários e medidas de prevenção e segurança que não justificariam a mudança. “No entanto, o setor produtivo está sendo muito penalizado com o fechamento das atividades. O lockdown teria um efeito devastador para a nossa economia, já que temos um problema de crédito e liquidez atualmente”, frisou. O titular do Lide-RS salienta que o segmento não é o “culpado” pelo cenário causado pela pandemia. “Vemos uma série de outros serviços funcionando, inclusive, obras públicas”, reiterou.

Fernandez sugere alternativas para que o modelo de distanciamento social não fique mais severo. “Pode haver turnos inversos, horários reduzidos, mais medidas de proteção, estamos abertos para conversar. Já somos contra às paralisações feitas. Gostaríamos de uma imediata retomada das atividades”, propõe. O presidente do Lide-RS acredita que eventuais regras não obedecidas por algumas empresas vêm da “pura necessidade em sobreviverem”. “Pessoas trabalham de forma informal porque não conseguem mais ficarem fechados. Com o lockdown, muito vão burlar e pode, até, criar uma desobediência civil”, alerta Fernandez.

Um dos empreendedores contrários ao lockdown é o presidente das Lojas Lebes, Otelmo Drebes. Ele lembra que Porto Alegre foi uma das primeiras cidades a restringir as atividades econômicas. “Estamos há mais de cem dias nesta situação. Abre e fecha, abre e fecha. Se fosse a solução, nenhum empresário seria contra. Há serviços funcionando, mas o comércio lojista está vilão da história, o que não somos”, reclamou. Para Drebes, a responsabilidade pela saúde e infraestrutura na cidade é dos governantes em âmbitos municipal e estadual. “Prefeito e governador foram eleitos para tomar as providências necessárias. No início davam entrevistas no país, como exemplo. Por que agora, que o Brasil está abrindo, estamos atrasados?”, questionou.

Posição parecida tem o diretor de operação de varejo da Casa Masson, Luis Gustavo Maia. “O lockdown pode trazer danos irreparáveis aos negócios. A inadimplência aumentou e os impostos não deixaram de ser cobrados”, salientou. O dirigente teme uma alta no número de desempregados. “É uma conta a longa prazo difícil de ser paga. Existem poucas evidências que o bloqueio funcione”, opinou. Maia pede uma discussão que inclua empresários, sociedade e governos. “Algo que impacte menos na circulação e na vida das pessoas”, acrescentou.

Segundo a nota produzida pelo Lide-RS, “Muitos países não deixaram de pensar na saúde das pessoas, focando ao mesmo tempo o equilíbrio na economia. A maioria das nações sequer cogitou o fechamento total, ou seja, não sendo uma solução a ser considerada, optaram pela verticalização”. Outro trecho diz que “providências foram tomadas, testagens em colaboradores, disponibilizam máscaras e álcool gel, desinfecção de instalações e equipamentos. Todos os cuidados são conhecidos e implementados. As pessoas estão se preservando, os empresários estão atentos a estes cuidados. Difícil entender porque as nossas empresas e economia precisam definhar ou morrer, em vez de lutarem todos juntos por uma retomada”.

"É urgente frear a contaminação"

A Prefeitura de Porto Alegre entende que as medidas restritivas adotadas em março foram assertivas, caso contrário a estrutura de saúde já teria colapsado em abril e, consequentemente, o número de mortos seria bem maior.

Por nota, diz que “desde o início da pandemia, o prefeito Nelson Marchezan Júnior tem mantido uma agenda constante de diálogo com diversos setores da sociedade, especialmente com representantes de entidades empresariais e comerciais. Todas as cidades que não fecharam suas atividades no início dos primeiros casos registraram óbitos por Covid-19 acima da média de Porto Alegre”. 

A nota relata, ainda que, “o momento é preocupante, os hospitais estão no limite das suas capacidades de atendimento e é urgente frear a contaminação. Para abrir leitos de UTI não basta apenas espaço físico, mas profissionais habilitados, EPIs, medicamentos e equipamentos específicos. A falta de recursos humanos, principalmente devido à contaminação do novo coronavírus, é principal desafio das instituições de saúde”. 

O prefeito não busca o consenso, segundo a nota, mas sim apoio de diretores de hospitais e empresários para que incentivem o isolamento social da população por mais alguns dias. “A liberação das atividades agora pode ampliar de maneira descontrolada a propagação do vírus. Somente com a colaboração de todos será possível estabilizar a ocupação por leitos de UTI e retomar, de forma gradual e segura, as atividades econômicas”, conclui.

 

 


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