Memórias bordadas: cooperativas inspiram e empoderam mulheres

Memórias bordadas: cooperativas inspiram e empoderam mulheres

Porto Alegre é a cidade com maior número de registros, com 233 empreendimentos

Nicole Silva

As 23 trabalhadoras da Univens se dividem entre as funções e etapas de produção

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O Rio Grande do Sul foi um dos primeiros estados brasileiros a ser cenário de experiências de economia solidária. A modalidade tem se apresentado como uma alternativa nos últimos anos, e compreende uma gama de práticas econômicas e sociais. Essas ações podem estar estruturadas como cooperativas, associações, empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário.

De acordo com a Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária (SenaesS), no Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários (Cadsol) há o registro de 2.107 empreendimentos no RS. As três cidades com maior número de empreendimentos cadastrados são Porto Alegre, com 233, Santa Maria, com 107, e Cruz Alta, com 63.

Um exemplo disso é a Cooperativa Educacional Nova Geração (Univens), situada na Vila Nossa Senhora Aparecida, em Porto Alegre, onde um grupo de mulheres é responsável pelo seu desenvolvimento e geração de renda através da costura. Suas histórias são atravessadas pela busca do sustento da família, luta por moradia e melhores condições de estrutura no bairro em que vivem.

| Foto: Nelsa Nespolo / Arquivo Pessoal / Reprodução - CP

A cooperativa nasceu em 1996 a partir de um estímulo coletivo, quando três mulheres, entre elas Nelsa Nespolo, decidiram que queriam ampliar o trabalho para mais pessoas da comunidade. O grupo soma 23 trabalhadoras que se dividem entre as funções e etapas de produção, além da gestão na comercialização das peças da Justa Trama – rede especializada em algodão agroecológico.

A rede está em cinco regiões do Brasil e vai desde o plantio do algodão, fiação, tecelagem, confecção e comercialização. A unidade gaúcha, por sua vez, fica responsável pela confecção de roupas, serigrafia, bordado e tingimento. A cooperativa faz parte dessa cadeia ecológica há mais de 20 anos.

Direção da Justa Trama | Foto: Arquivo / Justa Trama / Reprodução - CP

Em quase 30 anos de existência, perdura o senso de solidariedade, desenvolvimento coletivo e fortificação de laços. Foi nesse contexto que nasceu a Escolinha Nova Geração, que hoje atende crianças de toda a comunidade. A líder, Nelsa, relata que as mulheres da cooperativa muitas vezes não tinham com quem deixar seus filhos. “Elas precisavam trabalhar, mas muitas também eram responsáveis pelo cuidado de alguma criança.” Com a demanda, a iniciativa se estendeu para as demais crianças do bairro.

Moeda própria
Em 2016, com a criação do Banco Comunitário Justa Troca, surgiu a moeda do justo, que visa fortalecer a economia local. A moeda tem valor equivalente ao real e circula somente na vila, desenvolvendo a fidelidade dos clientes – já que o princípio é consumir nos comércios e serviços locais. O intuito é fomentar o microcrédito para que surjam mais pequenos negócios. As cédulas têm as imagens inspiradas nas ruas e na cultura da comunidade.

Cédulas têm as imagens inspiradas nas ruas e na cultura da comunidade | Foto: Nicole Santos / Especial / CP

Formalização, qualificação e conexões
As mulheres da Univens fizeram parte da história na luta por renda muito antes dos termos economia solidária e empreendedorismo serem popularizados, mas a proponente do projeto destaca os desafios de estar à frente do negócio: desde a preocupação com notas fiscais, qualificação nas áreas de controle e gestão financeira, entre outras necessidades. Para essas atividades, elas contam com o apoio de entidades como o Sicredi, instituição financeira cooperativa que atua em todos os estados há mais de 120 anos.

O Fundo de Desenvolvimento Social existe desde 2018 e através dele os associados destinam parte dos resultados da cooperativa para ajudar a sociedade, por meio de projetos que desenvolvam a cultura, educação, esporte, saúde, segurança e sustentabilidade. Após a pré-seleção todos passam por uma análise do comitê de cada região onde as ações serão implementadas.

Em 2023 foram contemplados 179 projetos oriundos de entidades sem fins lucrativos e associadas da Cooperativa, totalizando um investimento de 822 mil reais. Conforme Romeu Moreira, gerente regional de desenvolvimento do Sicredi Origens RS, o fundo se viabiliza quando o associado utiliza produtos e serviços da cooperativa e através da geração de mais resultado possibilita que os recursos sejam destinados para um número maior de projetos locais.

Os associados enquanto donos do negócio não só destinam parte do seu resultado para melhorar a qualidade de vida em suas regiões, como escolhem os representantes que irão participar ativamente da seleção de quais iniciativas serão contempladas e quanto será destinado para cada uma delas. “Todo recurso fica na comunidade”, sinaliza o gerente.

A entidade também promove cursos sobre educação financeira para todos os públicos, com o objetivo de levar conhecimento e boas práticas para melhorar a relação com o dinheiro. As ações consideram as diferenças entre públicos e, por isso, a linguagem, o conteúdo e os formatos são adaptados a cada perfil. São ações voltadas a pessoas físicas, microempreendedores, adolescentes e crianças.

As ações também contemplam as crianças. Em novembro de 2023, a instituição inaugurou um espaço de educação financeira inspirado na Turma da Mônica. Em um percurso de uma hora, as seis estações de aprendizagem contemplam atividades que estimulam o protagonismo infantil, ensinando educação financeira de forma lúdica e na interação com os personagens.

*Sob supervisão das jornalistas Simone Schmidt e Karina Reif


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