Na contramão do exterior, dólar cai 0,67% e termina semana com perda de 1,74%

Na contramão do exterior, dólar cai 0,67% e termina semana com perda de 1,74%

Ibovespa fechou o dia em baixa de 1,09%

AE

Moeda norte-americana fechou com alta de R$ 0,069 (+1,3%) nesta terça-feira

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No dia do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, os mercados adotaram forte postura defensiva, mas o mercado de câmbio brasileiro operou na contramão. Mesmo com o dólar operando majoritariamente em alta ante outras divisas pelo mundo, por aqui houve queda ao longo de praticamente todo o período.

Profissionais do mercado apontaram ainda fluxo positivo para o dólar e redução de posições em moeda estrangeira como fatores que motivaram o comportamento. No entanto, não acreditam em espaço para recuos significativos, levando em conta o cenário externo e a possibilidade de maior movimentação do cenário eleitoral doméstico.

Ao final dos negócios, o dólar à vista ficou cotado a R$ 5,0781, em baixa de 0,67%. Com esse resultado, o "spot" encerrou a semana com queda de 1,74%, acumulando perda de 1,86% em agosto.

No mercado futuro, o dólar para liquidação em setembro recuava 0,69% às 17h07, aos R$ 5,0825. O Dollar Index (DXY), que mede a variação do dólar ante uma cesta de divisas fortes, subia 0,32%.

Jerome Powell fez um discurso breve e direto, como ele mesmo sinalizou. Afirmou que a busca pela meta de inflação de 2% era incondicional e disse que famílias e empresas sentiriam "alguma dor" com os esforços do BC na condução da política monetária.

O chairman do banco central americano afirmou que restaurar a estabilidade dos preços nos Estados Unidos ainda levará "algum tempo", numa tentativa de refrear apostas em breve redução dos juros. Powell sinalizou que novos aumentos de juros serão feitos, mas que a magnitude dependerá de novos indicadores econômicos e perspectivas de mercado.

Para Bruna Centeno, especialista em Renda Fixa da Blue3, o tom de Powell surpreendeu mais pela mudança de tom do que propriamente pelo teor, que de certa maneira já estava precificado. "Powell mostrou um Fed muito preocupado com a inflação, mas também muito comprometido com a busca da meta, o que é um aspecto positivo. Falar em juros de 4% nos Estados Unidos assusta, e o Brasil precisa controlar aspectos importantes da sua economia sob pena de ver uma fuga de recursos e as suas consequências no câmbio e na inflação", afirma.

No cenário doméstico, o Banco Central divulgou nesta sexta que o resultado das transações correntes ficou negativo em maio deste ano, em US$ 3,506 bilhões. Este é pior desempenho para meses de maio desde 2014, quando o saldo foi negativo em US$ 6,691 bilhões. Em abril, o resultado foi superavitário em US$ 1,088 bilhão. Já os Investimentos Diretos no País (IDP) somaram US$ 4,483 bilhões em maio, segundo dos dados do BC.

Taxas de juros

Os juros futuros acabaram fechando a sexta-feira em queda, definida na última meia hora da sessão regular na esteira do maior alívio do câmbio, com o dólar chegando a até R$ 5,05 pouco antes do fechamento dos negócios. Mais cedo, chegaram a operar em alta acompanhando a reação inicial dos Treasuries ao discurso considerado "hawkish" do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, mas depois o mercado absorveu as declarações e o movimento perdeu força no começo da tarde.

Evento mais aguardado da semana, a participação de Powell no Simpósio de Jackson Hole não foi capaz de desempatar o quadro das apostas para a próxima reunião de política monetária, em setembro, que continua dividido entre elevação de 75 e 50 pontos-base. Internamente, nem agenda nem noticiário contribuíram para o desenho da curva, com a movimentação no cenário eleitoral mais uma vez em segundo plano.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,73%, de 13,72% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 encerrou na mínima de 13,08%, de 13,19% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 11,99%, de 12,12% na quinta, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,88% para 11,78%.

No acumulado da semana, as taxas devolveram prêmios, mas como na ponta curta a redução foi pouco mais pronunciada, a curva acabou fechando a semana com leve ganho de inclinação.

O mercado esperou a semana inteira para ver se Powell endossaria a leitura dos dados fracos de atividade nos Estados Unidos que saíram nos últimos dias. A comunicação, porém, seguiu com tom prioritário à inflação.

Para o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, o discurso foi hawkish como o esperado, mas no curtíssimo prazo não há sinal claro sobre se é 75 ou 50, nem sobre o destino final da taxa. "A mensagem transmitida é de que não vão afrouxar enquanto não controlarem a inflação e vejo um quadro bastante confortável para que o Fed faça o que está dizendo que vai fazer. É um discurso crível", afirmou. "No price action, porém, hoje não fez muita diferença", completou, afirmando que com a credibilidade do Fed, o "tranco" de um discurso mais duro acabou sendo absorvido.

A reação inicial às declarações foi de alta nas taxas futuras no fim da manhã, alinhadas à aceleração do avanço dos Treasuries, mas no decorrer da tarde a pressão, em ambos os mercados, arrefeceu. Aqui, a aceleração da queda do dólar no fim da tarde deu o empurrão derradeiro para colocar os DIs em trajetória de baixa, após subirem nas duas últimas sessões. Nas mesas, operadores citam fluxo positivo em ambos os mercados.

No âmbito local, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostrou visão animadora sobre o comportamento das estimativas de inflação, nesta sexta em evento organizado pela 1618 Investimentos. "A gente vê as expectativas do mercado para a inflação deste ano caindo, um pouco pelas medidas do governo. A gente acha que as expectativas de inflação de 2023 e 2024 começaram a acomodar e vão começar a cair em algum momento", disse.

Bolsa

O Ibovespa acompanhou a cautela externa nesta última sessão da semana, na qual se confirmou o aguardado viés "hawkish" no discurso proferido em Jackson Hole pelo presidente do Federal Reservel. Ainda assim, a referência da B3 resistiu a um grau maior de correção, mostrando resiliência ao ajuste em andamento nos maiores mercados do exterior. Em Nova York, as perdas da sessão chegaram a 3,94% no Nasdaq e, ao longo da semana, o índice de tecnologia recuou 4,44%. Na Europa, o DAX, de Frankfurt, cedeu nesta sexta 2,26% e, na semana, 4,23%, enquanto em Londres o FTSE 100 caiu 0,70% nesta sexta-feira, retrocedendo 1,63% na semana. Na Ásia, o Nikkei, de Tóquio, sem conhecer ainda o tom de Powell, subiu 0,57% na sessão, mas perdeu 1% na semana.

Aqui, o Ibovespa fechou o dia em baixa de 1,09%, aos 112.298,86 pontos, entre mínima de 111.978,20 e máxima de 114.091,40 pontos - como na quinta chegando a se reaproximar dos melhores níveis intradia desde abril, vistos na semana anterior -, saindo de abertura nesta sexta-feira aos 113.532,54 pontos. Na semana, na contramão da maioria das referências externas, o índice da B3 conseguiu preservar leve ganho de 0,72%, vindo de perda de 1,12% na semana passada - a qual sucedera quatro semanas de avanço consecutivo. O giro ficou nesta sexta em R$ 26,2 bilhões. No mês, o Ibovespa avança 8,85%, com ganho no ano a 7,13%.

A sexta-feira foi de ajuste bem distribuído por ações e setores mais líquidos, com Petrobras (ON +1,00%, máxima do dia no fechamento; PN +1,08%) no lado oposto, em dia de alguma recuperação para o petróleo, em especial o Brent, negociado acima dos US$ 100 por barril. Na ponta negativa do Ibovespa, Natura (-6,73%), Usiminas (-6,67%), CSN (-5,95%) e Totvs (-4,66%). No lado oposto, Alpargatas (+7,18%), Pão de Açúcar (+3,02%), Cielo (+2,25%) e Petrobras PN (+1,08%).

O discurso de Powell, no Simpósio de Jackson Hole, sinaliza que o ciclo de aperto vai continuar e que a taxa de juros dos Estados Unidos permanecerá em nível elevado, avalia o Bradesco. Para o banco, a fala do presidente do Fed corroborou o cenário de aumento dos juros americanos a 4% até 2023. "Jerome Powell deixou claro que o Fed tem como objetivo trazer a inflação para o nível de 2% ao ano e que, para isso, a economia crescerá abaixo da tendência por alguns trimestres. Esse discurso está em linha com nosso cenário de continuidade de altas de juros nos EUA, atingindo 4% em 2023", dizem os economistas do Bradesco, em relatório.

Em Jackson Hole, Powell apontou que o processo de elevação de juros trará "alguma dor" para as famílias americanas, mas que o ajuste na política monetária é essencial para que o BC americano cumpra o mandato relacionado à inflação.

Mesmo com o tom duro indicado pelo BC dos Estados Unidos, o mercado aqui reduziu o pessimismo sobre o desempenho das ações na B3 no curtíssimo prazo, conforme o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 50% acreditam que a próxima semana será de alta para o Ibovespa, enquanto 30% disseram esperar perdas. Os que preveem estabilidade são 20%. Na pesquisa da semana passada, 36,36% responderam que o índice teria queda nesta semana, contra 27,27% que projetavam ganhos. Para outros 36,36%, a Bolsa teria variação neutra.

"A Bolsa teve uma recuperação muito forte de julho para agosto e, além de uma correção natural pelos ganhos que acumulou no intervalo, refletiu hoje sensibilidade ao que Powell disse. O sinal é 'hawkish', mas ainda não há consenso, não só no mercado mas aparentemente também dentro do Fed, sobre o quanto os juros vão ainda subir nos Estados Unidos, também em setembro", observa Edmar de Oliveira, operador da mesa de renda variável da One Investimentos, que, com o bom momento doméstico em relação ao que se vê no exterior, vê chance de o Ibovespa buscar os 120 mil pontos, uma vez que consiga enfrentar e se sustentar acima de resistência forte logo à frente, na faixa dos 114 a 115 mil pontos, e conte também com vetores externos mais favoráveis.

"Vale, por exemplo, teve hoje pressão vendedora quando chegou ali pelos R$ 71. O noticiário da China não tem contribuído para o setor de commodities. Veio corte de juros por lá, mas é preciso talvez um estímulo maior, pelo lado fiscal", diz Oliveira.

No fechamento, Vale ON mostrava nesta sexta queda de 1,50%, cotada a R$ 68,23, na mínima do dia no encerramento, com máxima da sessão a R$ 71,20 - na semana, avançou 1,90%, com ganho até aqui no mês a 2,54%, bem inferior ao visto em Petrobras ON (+22,30%) e PN (+20,70%) em agosto.

"Até a sessão desta sexta-feira, houve sequência de três dias de alta (para o Ibovespa), descolado até mesmo do mercado internacional. Powell veio firme, sinalizando que o Fed continuará elevando as taxas de juros e as deixará elevadas por um tempo maior para controlar a inflação, ainda que se tenha impactos negativos para os consumidores e as empresas", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

"Chegou a tão esperada sexta-feira de Jackson Hole e a fala rápida do Powell manteve a mensagem de que os juros seguirão altos para trazer a inflação para a meta. Mostrou tom mais duro e até um certo desconforto, principalmente com o momento, em que o mercado vem atuando em direção contrária. Fala 'hawkish', no sentido de que o Fed fará de tudo para trazer a inflação para o centro da meta", diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.

"Ainda tem uma grande parte do mercado que fica sempre torcendo para que o BC americano não suba tanto a taxa de juros e que comece a cortar o quanto antes, mas a mensagem há alguns meses já é essa: eles vão, sim, apertar as condições de liquidez", observa Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.


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