O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elaborou um plano emergencial para prevenir instabilidades na rede elétrica que poderiam causar um apagão devido ao excesso de oferta de energia. O protocolo foi desenvolvido após um episódio crítico em que quase se esgotaram as manobras operacionais para evitar a sobrecarga do sistema.
O Plano de Gestão de Excedentes de Energia na Rede de Distribuição foi apresentado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta sexta-feira (31). O regulador agora analisará a proposta, podendo fazer ajustes e complementações. As diretrizes também serão enviadas às distribuidoras para contribuições que aprimorem sua aplicação prática. A expectativa, segundo o diretor de Operação do ONS, Christiano Vieira, é que o procedimento esteja pronto para uso até o fim do ano.
O sinal de alerta: Dia dos Pais
A necessidade de criar o protocolo ficou evidente no Dia dos Pais, 10 de agosto. Naquela data, a demanda por eletricidade estava baixa, combinada com uma elevada geração de fontes renováveis. A oferta de energia superou significativamente o consumo, especialmente no meio do dia, quando a produção solar é mais intensa. Essa situação exigiu intervenções severas do ONS, que precisou ordenar o corte de toda a produção possível de usinas hidrelétricas, eólicas e solares entre 13h e 13h30.
Embora não tenha havido outra situação tão crítica desde então, Vieira admite que o ONS monitora com atenção os feriados de fim de ano. Nesses períodos, a demanda tende a cair devido à redução da atividade econômica, o que, somado a temperaturas amenas e baixa nebulosidade (elevando a geração solar), poderia replicar o cenário do Dia dos Pais.
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O plano de contingência
O plano emergencial prevê que o ONS poderá acessar "recursos flexíveis" adicionais aos das usinas hidrelétricas, eólicas e solares, sobre as quais já consegue ordenar cortes. Esta medida será um recurso de última instância, caso todas as demais ações operativas disponíveis não garantam a estabilidade e segurança da rede.
Para isso, o Operador comunicará com antecedência às distribuidoras a possível necessidade de redução temporária da geração. Caberá à concessionária local comandar o eventual corte no volume necessário. Christiano Vieira explicou que existem cerca de 20.000 megawatts (MW) de potência instalada em usinas de pequeno porte (menos de 50 MW cada), supervisionadas por diferentes distribuidoras e classificadas tecnicamente como "tipo III". Cerca de 80% dessa capacidade está concentrada em estados como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Rio Grande do Sul.
Vieira ressalta que nem toda essa potência está disponível para corte, pois alguns ativos podem não estar operando ou não responder a comandos. Um inventário detalhado será analisado conjuntamente por distribuidoras e órgãos do setor para definir os detalhes da aplicação. O objetivo é garantir que todos os atores do processo estejam alinhados e confortáveis em um momento de operação crítica.