Projeto voluntário busca auxiliar pequenos empresários

Projeto voluntário busca auxiliar pequenos empresários

Raquel Janissek-Muniz, uma das coordenadoras, explica as ações e desafios dos empreendimentos

Mauren Xavier

Raquel Janissek Muniz destaca projeto desenvolvido na Ufrgs de apoio a empresários

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A pandemia da Covid-19 provocou impactos consideráveis na economia e alterou formas de consumo. Com o objetivo de auxiliar as pequenas empresas a enfrentarem esse
período, nasceu o projeto voluntário SOS-PME. Uma das coordenadoras da iniciativa é Raquel Janissek-Muniz. A professora da Escola de Administração da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e integrante da direção do Centro de Estudos e Pesquisas em Administração (CEPA) fala sobre o trabalho de apoio às empresas e as
descobertas desse projeto. A seguir, trechos da entrevista concedida ao CP.

Como começou o projeto SOS-PME, Rede de Assessoria Empresarial e qual é o objetivo da iniciativa?

Em março deste ano, em um grupo de professoras no WhatsApp que já existia, se começou a questionar sobre como a gente iria continuar nossa atuação como professores e pesquisadores. Especialmente no momento em que a universidade estava fechando para o público (em função das medidas de restrição pelo avanço da pandemia). A gente se inquietou muito no sentido de continuar entregando conhecimento e trabalhando. Foi a partir de uma inquietação, junto com um projeto de Extensão já existente na Ufrgs e com outras professoras que se envolveram na idealização do projeto. Ao todo, somos 12 professores. Começamos de maneira bem tímida, não esperávamos que o projeto tomasse essa dimensão (mais de 80 empresas se inscreveram e há 200 voluntários). O objetivo principal era de estabelecer uma ponte, um canal, para aproximar esse conhecimento que temos na academia, na universidade, do público que estava, de uma hora para outra, vivendo uma situação completamente desassistida. 

Neste momento inicial, já era possível identificar as dificuldades que essas pequenas empresas estavam enfrentando?

A gente percebeu que era um momento de pânico. Muitos empresários estavam paralisados e com um pouco de medo de continuar vendendo, continuar funcionando. Assim, a gente viu como uma forma de pegar pela mão esses empreendedores e donos de empresa e tirá-los desse pânico inicial. E o nome do projeto nasceu disso. Pensamos em um pronto-socorro, uma UTI empresarial. Não que a gente vá resolver todos os problemas do empresário, até porque esse não é o objetivo quando se vai a um pronto-socorro, a gente quer um atendimento imediato. Com o projeto, fomos nos aproximando desses empresários. Olhar para essas diversas problemáticas de forma coletiva. O projeto tem muito disso, é uma rede de assessoria que busca, por meio desse atendimento direcionado e personalizado, dar esse olhar de especialistas, de maneira multidisciplinar, sempre com um coordenador. Abrimos para receber a demanda da empresa. Selecionamos algumas, com critérios de priorização, como as que têm maior número de colaboradores. Essa assessoria dura de dez a 14 dias. São várias etapas desse atendimento, tem uma inicial de sensibilização, na qual acontece uma aproximação com os proprietários e responsáveis da empresa, e de identificação das principais dificuldades. A equipe envolvida tem olhar multifacetado, um com preocupação maior financeira, outra de comunicação, ou de recursos humanos. Então, realmente é uma equipe multidisciplinar que se engaja para fazer uma espécie de diagnóstico. 

Como é feito esse diagnóstico?

O diagnóstico busca mostrar quais são as principais dificuldades e o que a gente pode indicar como eventuais alternativas de encaminhamento. E daí acontece um momento muito interessante, em que todos entram com sugestões. Temos uma ampla reunião onde apresentamos essas sugestões e a empresa também reage e ajuda a especificar alguns pontos. Uma construção realmente coletiva. 

O que vocês têm identificado de problemas nesses empreendimentos? Ou melhor, quais as dificuldades que eles têm?

A gente tem de tudo um pouco. Chegam até nós situações realmente muito diversas. Há aquelas empresas que estão chegando até nós e que expõem os problemas. Eles passam dados, balancetes. A gente percebe que são empresas que, embora agora estejam mais vulneráveis por causa da pandemia, já tinham fraquezas anteriores, mas elas não estavam expostas. Eram problemas que vêm de longa data. 

A pandemia expôs mais? 

Isso. A pandemia expôs mais aquilo que já estava presente e muitas vezes as empresas não queriam reconhecer. Claro que empresas com boa saúde financeira e gestão adequada também estão sofrendo. Identificamos as mais diversas situações. O que estamos vendo é que, antes de sugerir alternativas, estamos precisando arrumar a casa. Mostrar que algumas coisas não estão bem feitas. Algumas vezes são coisas bem básicas. Controlar a entrada, a saída, não poder tirar dinheiro da conta da empresa quando querem, não poder pagar com o cartão de crédito da empresa uma coisa pessoal. Existe ainda algumas dificuldades em acessar todos os dados da empresa, o que prejudica a consultoria. Tivemos caso de empresas que se inscreveram, mas não queriam participar. Há um receio, acho, talvez por vergonha. Há uma questão psicológica por trás. Há impasses entre os sócios ou por grupo familiar, por exemplo. 

É óbvio que existe um apoio grande às empresas, mas o projeto também traz um ganho para o meio acadêmico? 

Então, começou como uma maneira de colocar os estudantes em um estágio real. Uma coisa é a teoria na sala de aula e outra é quando se pega um problema real. Agora, há várias ciências envolvidas. Embora todos (professores) tenhamos experiência em empresas, na academia a gente tenta trazer esse olhar mais da ciência, de pesquisa e estudo, e que pode ser replicado em várias realidades. A gente sabe que há uma distância entre teoria e prática, mas a gente acredita muito que há um vai e vem entre esses dois mundos. A teoria é construída no empírico, uma pesquisa da realidade. E é por isso que a gente acredita tanto nesse trabalho, porque é somente esse olhar coletivo que pode minimizar esse problema. 

O que as empresas devem fazer para sobreviver a este período? 

Só posso dizer que as empresas que vão ter continuidade são aquelas que não se deixarem paralisar pelo medo. A paralisia é a principal barreira. Elas precisam estar conscientes de tudo o que está acontecendo, olhar para o ambiente. É uma capacidade que todas as empresas precisam desenvolver. Ter habilidade. Buscar um diferencial. Esse diferencial pode ser uma presença mais digital ou investir em um contato mais humano. Essa questão humana tem aparecido muito. Entregar algo além do produto pode ser um diferencial. Uma questão humana junto com o produto. Eu chamo de um olhar de vizinhança. Esta é uma oportunidade gigante de essas pequenas empresas de bairro se mostrarem.  

Serviço

Quem tiver interesse em conhecer o projeto, participar ou ser voluntário no SOS-PME - Rede de Assessoria Empresarial pode acessar o link


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