Rio Grande do Sul mostra potencial na produção de energia eólica

Rio Grande do Sul mostra potencial na produção de energia eólica

Capacidade de gerar, porém, esbarra na falta de infraestrutura para distribuir

Mauren Xavier

Rio Grande do Sul mostra potencial na produção de energia eólica

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 A imagem dos grandes cataventos -  termo popularmente usado para denominar os aerogeradores, que têm mais de 100 metros de altura  que cobrem extensas faixas de terra, especialmente no Litoral, já integra a paisagem gaúcha. A relevância por trás do visual é ainda maior devido ao potencial que o Rio Grande do Sul reserva para a geração de energia eólica. Para se ter uma dimensão, o Estado é o único fora da região Nordeste do país com perfil para esse modelo energético. Além disso, a grandiosidade dos parques faz jus ao volume de investimentos que capta. São cifras milionárias, seguidas pela atração de outras empresas de apoio, geração de empregos e, principalmente, de impostos aos cofres públicos. Assim, em um pensamento lógico, no momento que o Estado enfrenta severas dificuldades financeiras, poderiam os ventos ajudar a economia a recuperar a sua importância.

Porém, um conjunto de limitações foi evidenciada quando os projetos gaúchos ficaram de fora do leilão que deveria ser realizado pelo governo federal em dezembro do ano passado. A desclassificação não ocorreu pela ausência de qualidade das propostas ou de empresários interessados em fazer os respectivos investimentos, mas pelo atraso de obras de linhas de transmissão, que são de responsabilidade da Eletrosul. A avaliação do Ministério de Minas e Energia (MME) foi simples: não adianta o Rio Grande do Sul ter condições de gerar, senão puder transmitir, especialmente para fora das fronteiras gaúchas. Segundo o secretário adjunto de planejamento e desenvolvimento energético do MME, Moacir Bertuol, ter capacidade de escoamento de energia é um pré-requisito essencial para cacifar os projetos gaúchos na disputa.

O impasse, que tentou ser revertido pelo governo gaúcho, se manteve até o final, em uma quase queda de braços. A boa notícia, porém, veio em seguida, com o cancelamento do leilão. Mesmo assim, agora o desafio é garantir a conclusão dos projetos de linha de transmissão em andamento para que o Estado possa participar de futuras disputas. O potencial gaúcho na geração de energia eólica é reconhecido pelo próprio Operador Nacional do Setor (ONS). Segundo o representante do ONS, Manoel Botello, a preocupação é porque a produção na região Sul do Estado não tem como ser escoada, o que compromete o sistema energético gaúcho. “Sem linhas de transmissão, o Rio Grande do Sul não tem margem de segurança. As maneiras atuais de ligação, poderiam provocar um colapso no sistema, em outras palavras, um blecaute”, explica.

À frente do assunto ao longo dos últimos dois anos, o ex-secretário estadual de Minas e Energia Lucas Redecker lamenta os atrasos nas obras de transmissão, que poderão comprometer os futuros projetos. “O Estado fez o seu papel, criando um ambiente favorável para os investimentos e para que não houvesse empecilhos nas obras. Infelizmente estamos sendo prejudicados por causa de atrasos de empreendimentos que não estavam sob nosso comando”, afirma ele, referindo-se em especial à situação das obras ligadas ao projeto do lote A.

Em 2015, a Eletrosul conquistou esse pacote de obras, que integrou o leilão da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) do ano anterior. Ele previa a construção de sete subestações, 14 ampliações e de 18 linhas de transmissão, em um investimento de R$ 3,2 bilhões. Concretizado, o projeto duplicaria o sistema elétrico do Estado. Ao reconhecer o atraso nas obras, o presidente da Eletrosul Centrais Elétricas, Francisco Zimermann, diz que soluções estão em tratativas, como a parceria com investidor chinês, a Shanghai Electric. A proposta é que a empresa assuma a continuidade do projeto e garanta agilidade na sua conclusão, que estava prevista inicialmente para o primeiro semestre de 2019. Porém, apesar das negociações, que começaram no primeiro semestre de 2016, ainda não houve a concretização oficial.

Dentro do panorama atual, o diretor do Sindieólica RS, Guilherme Sari, ressalta que os atrasos geram comprometimentos que vão além da participação do Estado na disputa de leilões, mas impactam no mercado livre, quando os contratos são realizados diretamente com os grandes consumidores, sem necessidade de concorrência pública. Ele reconhece que essa dificuldade (a de conexão) não é uma exclusividade local, já foi registrada no Rio Grande do Norte e na Bahia em momentos anteriores. Mesmo assim, ele é otimista. “Temos um incremento muito significativo de recursos para a próxima década e, com um pouco mais de estudos de conexão, eles deixarão o Rio Grande do Sul não somente superavitário, como se tornará um exportador de energia.” Um ponto positivo neste aspecto é a proximidade com os países do Mercosul, como Argentina e Uruguai, que poderiam ser potenciais clientes.

Essa perspectiva vai ao encontro do desenvolvimento econômico, como aponta o deputado estadual Frederico Antunes (PP). Segundo ele, o tema deve ser visto de maneira estratégica para o planejamento a longo prazo do Estado. “Para melhorar a musculatura financeira, evitar crise e atrair novos negócios, ter capacidade de geração de energia é uma questão fundamental. Porém, não ter condições de transmiti-la acaba por ser uma contradição.”

Apesar das dificuldades, a produção de energia eólica no RS cresceu 39% no ano passado, atingindo 519 MW médios. Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, o RS ocupa assim a quarta posição, ficando atrás do Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará. E as projeções são ainda maiores. Em boletim divulgado no início deste mês, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial projeta que o setor produzirá 30GW até 2025.

Matriz energética 

O avanço da produção eólica integra um processo que une potencial econômico e sustentabilidade. Economicamente, os projetos são fundamentais por representarem investimentos de cifras milionárias e ser fonte a mais de geração de energia. E, apesar dos incentivos por meio do governo federal desde o início da década passada, o segmento sofreu um golpe negativo no final de 2016, quando foi suspensa a realização do leilão de 19 de dezembro.

Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o cancelamento desestimula o setor, uma vez que, apesar de atrair muitas empresas, elas ficam ociosas com a ausência de contratações. “Grandes empresas não vão continuar no Brasil com suas fábricas vazias. Corremos grave risco de desmobilização de toda a cadeia produtiva”, comenta a presidente executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum. Ela lembra que o setor gerou 41 mil empregos em 2015 e, outros 30 mil, em 2016. A estimativa era de que a realização do leilão no final do ano passado viabilizaria mais de R$ 8 bilhões de investimentos e, pelo menos, 15 mil empregos na cadeia produtiva. “É desmobilizar uma indústria jovem, montada com investimentos altíssimos nos últimos anos.”

Segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a participação da geração eólica no sistema elétrico tem projeções positivas no país. A estimativa é que deverá passar de 3,7% (2014) para 11,6% (2024) do sistema total, o que representa aumento de 20 GW (gigawatts) a ser incorporado. Em outras palavras, isso significa que há espaço considerável para novos empreendimentos no Brasil. Além disso, seus projetos geram um efeito em cadeia positivo: quanto mais estimulada, menor se torna o custo de produção.

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