Semana de quatro dias entra em fase de testes no Brasil

Semana de quatro dias entra em fase de testes no Brasil

No Reino Unido, 92% das companhias participantes da experiência seguirão com a iniciativa

Karina Reif

Comprometimento entre profissionais e empregadores permite nova prática

publicidade

Um projeto piloto global para testar a redução da jornada de trabalho já tem 21 empresas brasileiras inscritas. A ideia é melhorar a produtividade e o bem-estar no ambiente profissional, conforme preveem as duas organizadoras do projeto: 4 Day Week Global e Reconnect Happiness at Work. Na última semana, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, se posicionou favorável a essa experiência que já vem sendo implementada em outros países. “Eu acho que a economia brasileira suportaria”, assinalou, defendendo um debate mais amplo da sociedade sobre o assunto, inclusive no Legislativo. 

“A redução da jornada promove uma economia de tempo útil. O trabalhador vê sentido no tempo que ele dedica à empresa e isso aumenta a sua satisfação com o trabalho. Isso está muito claro em países que já adotaram a medida, com redução de casos de depressão e de burnout, o esgotamento causado pelo trabalho”, assinalou a professora de Gestão em Recursos Humanos da Fadergs e mestre em Administração, Janine Rocha. 

No Reino Unido, onde esse tipo de teste já foi realizado, 92% das 61 empresas participantes informaram que continuarão com a semana reduzida para quatro dias. Ao todo, 2,9 mil trabalhadores fizeram parte do projeto piloto e 51% deles disseram ter considerado fácil a conciliação da vida profissional com a pessoal. Houve o relato também de incremento de 1,4% da receita das organizações, além de outros benefícios.

A dinâmica de escalas com cinco dias e folgas aos sábados e domingos foi se construindo ao longo do tempo. A historiadora e doutora em Ciências Sociais, Naida Lena Menezes, observa que antes os ofícios se organizavam pelas demandas e pelos ciclos da natureza. Mais tarde, a partir da revolução industrial, o tempo começou a ser ditado pelas fábricas, por turnos e por dias livres muito bem definidos. Porém, a tendência é que essas rotinas sejam flexibilizadas.

Na avaliação da professora Janine Rocha, o que falta para a reprodução da prática de quatro dias é uma mudança de cultura. “As empresas ainda são mais apegadas à presencialidade do que às entregas. Isso leva a uma má gestão do tempo”, avalia. Para ela, a cobrança não deve ser feita no relógio-ponto, mas por comprometimento, produtividade e metas.

As empresas que se candidataram a testar o modelo estão reduzindo as jornadas dos trabalhadores em 20%, de 40 horas para 32 semanais, mas com compromisso de não alterar salários. Na prática, os funcionários ganham mais um dia de folga ou diminuem a jornada diária. Em troca devem manter a mesma produtividade em período menor. Para efetivar a equação 100-80-100, ou seja, 100% do salário em 80% do tempo para 100% da produtividade, é necessário confiança mútua e também reconhecimento de que há tempo ocioso na jornada de 40 horas, especialmente com o incremento de tecnologias que otimizaram o trabalho nas últimas décadas, conforme Janine.

Há dois meses, a Simpex, empresa de comércio exterior de São Leopoldo, começou a testar a diminuição das horas de trabalho dos cerca de 20 funcionários. Desde o início do ano o projeto vem sendo estudado e, por enquanto, ainda está em fase de adaptações. Mesmo assim, o diretor comercial e de Sistemas, Daniel Marchi, ressalta que benefícios já são percebidos. “A recepção foi muito boa e percebemos um engajamento e uma performance muito maior”, analisa. Conforme ele, foi necessário ajustar as equipes por escalas para suprir os dias da semana e assim não deixar de ofertar os serviços ao mercado.

Uma empresa no bairro Navegantes, em Porto Alegre, iniciou o planejamento para começar o projeto de redução da jornada. “É uma oportunidade para analisarmos de fato o que traz mais benefícios para a empresa e os colaboradores”, conta o CEO da Brasil dos Parafusos, Diogo Telli Fisch. Há 40 funcionários, incluindo compras, logística, financeiro, administrativo e comercial. “Deixamos os colaboradores livres para usufruir ou não do benefício”, explicou. “Não queremos sobrecarregar nenhum setor. Estamos analisando qual será o melhor formato, se em um, dois ou três dias na semana com quadro reduzido na empresa, redução na carga horária em todos os dias da semana ou meios períodos divididos”, detalha. Como resultado, ele espera que a oferta de mais tempo livre proporcione melhora na qualidade de vida e na saúde mental das pessoas. “Acreditamos que haverá um maior rendimento nas vendas e na produção”, prevê. Para a implementação deverá ser feito um acordo coletivo com o sindicato e um aditivo contratual especificando detalhes do piloto.

Segundo a professora Janine, ainda é necessário atualizar leis trabalhistas para implantar modelos como o de quatro dias na semana. “Hoje não há amparo legal. Precisa ser bem articulado entre empresas, trabalhadores e sindicatos”, destaca a professora. Janine lembra que a jornada das 8h às 18h gera necessidades pontuais de faltas para compromissos como reuniões escolares ou consultas médicas. “É um dia ou horário útil que o trabalhador ganha para colocar suas rotinas de saúde em dia, praticar esportes, fazer uma qualificação, mas de forma equilibrada entre vida pessoal e profissional”, concluiu. 


Empreendedor criou negócio para oferecer a receita ‘perfeita’ de xis em Porto Alegre

Quinta unidade inaugurada desde 2020 tem no cardápio lanches, petiscos e pratos

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895