Comunidade indígena de Cachoeirinha pede atenção e escola

Comunidade indígena de Cachoeirinha pede atenção e escola

Crianças da Escola Kuaray Rete, na aldeia indígena Tekoá Karanda’ty sofrem com a precária estrutura física para os estudos e a comunidade ainda enfrenta falta de atendimento e aporte do poder público

Daiana Garcia

Apesar de estarem instaladas na região desde 2021, apenas neste ano as crianças da comunidade tiveram acesso ao ensino

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Sem aulas em dias de chuva. E lições embaixo das árvores, quando tem sol. Além disso, falta merenda, água encanada e energia elétrica. Essa é a realidade dos alunos da Escola Kuaray Rete, da comunidade indígena Tekoá Karanda’ty, em Cachoeirinha, que se agarram como podem ao conhecimento, estudando em estrutura precária enquanto aguardam por melhores condições de acesso à educação de qualidade. A difícil situação foi exposta no dia 24 de março, após visita feita ao local pelo sindicato dos professores do Estado (Cpers).

Apesar de estarem instaladas na região desde 2021, apenas neste ano as crianças da comunidade tiveram acesso ao ensino. E, mesmo assim, ainda sem contarem com a devida matrícula regularizada na rede pública. As aulas só iniciaram devido à chegada do professor Mbya, Arlindo Ribeiro. “Fizemos todos os documentos necessários para oferecer as aulas de Educação Indígena, mas o poder público não faz nada. Vim para ajudar a comunidade e dar continuidade à educação na aldeia”, explica.

O professor conta que promove os trabalhos pedagógicos e leciona em modelo multisseriado, atendendo crianças de diversas idades e em anos escolares diferentes. Revela que as aulas são ministradas em Português e Guarani, para garantir a manutenção da língua e da cultura indígena. Arlindo comemora o fato de os alunos ficarem felizes quando têm aula, mas pondera que em dias de chuva não é possível lecionar, pois não existe espaço físico que abrigue a turma. Por isso, a comunidade pede melhores condições para que possa ser realizado o atendimento escolar e até lonas para reforçar a área coberta, que é improvisada.

O docente esclarece que é inscrito na Secretaria Estadual da Educação. Entretanto, ainda não assinou contrato. E a aldeia possui uma profissional responsável pela merenda, que também aguarda declaração da Secretaria para validar a inscrição.

A diretora do 22 Núcleo do Cpers, Letícia Gomes, que acompanhou a visita ao local, considera que a secretaria não demonstra interesse em resolver o problema, mesmo a aldeia apresentando estado de emergência. “É preciso, ao menos, uma estrutura. O Estado teria que promover isso. Se chove, não tem aula. A merenda não chega, mesmo a 28 Coordenadoria Regional de Educação (CRE) sabendo da existência de uma merendeira.” A diretora do Cpers Juçara Borges também lamenta a situação. “Elas precisam estar matriculadas. É um direito garantido no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Constituição.”

Já a presidente do Cpers/Sindicato, Helenir Schürer, aponta que “escola estando regulamentada ou não, é uma necessidade daquelas crianças o acesso à educação de qualidade”. Acrescenta que mesmo com um professor e uma merendeira no local, não existe, no espaço, “condição para produção de merenda”. E reforça a defesa e cobrança “para que seja dada estrutura possível para as crianças terem aula. Não se pode tirar elas da comunidade e simplesmente levar para outra escola. Seria medida desrespeitosa com os indígenas e sua cultura”. A dirigente lembra que “se os pais não mandam os filhos à escola, eles são punidos”. No entanto, ela questiona: “O que acontece quando o poder público não disponibiliza condições adequadas para as crianças irem à escola?”.

A situação está sendo acompanhada pelo Ministério Público do RS, que encaminhará providências. E, na próxima semana, deve ocorrer reunião entre Cpers e secretaria, quando este assunto será tratado, voltando a cobrar resoluções ao caso, que tem, até o momento, cerca de 40 pessoas da comunidade residindo no local.

Em nota emitida nesta semana, a Secretaria da Educação afirma: “Sobre a comunidade indígena guarani Tekoá Karanda’ty, localizada no município de Cachoeirinha, a Secretaria Estadual da Educação informa que trata-se de um assentamento novo e que já realizou, por meio da 28 CRE, uma visita ao local. Um processo administrativo para o atendimento dos estudantes já foi aberto e está sob análise para liberação de verbas e recursos humanos”.




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