Pesquisas indicam aumento no número de doutoras, que ainda não são maioria na docência

Pesquisas indicam aumento no número de doutoras, que ainda não são maioria na docência

Dados da Capes revelam que, em seis anos (entre 2013 e 2019), houve elevação de 61% de doutoras, superando o total de homens com a mesma formação

Agência Brasil

O chamado “efeito tesoura” se refere ao corte da presença de mulheres na ciência, pois existem doutoras, mas poucas ocupando vagas nas salas de aula

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Cada vez mais, aumenta o número de mulheres com doutorado no país. Contudo, a presença na docência universitária não acompanha o crescimento. Segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em seis anos (entre 2013 e 2019), houve elevação de 61% de doutoras a cada ano. No total, subiu de 8.315 para 13.419, superando homens; que passou, de 7.336 para 11.013, no mesmo período analisado.

Ainda que as mulheres com doutorado estejam em maior quantidade, elas não ocupam a maioria dos cargos como professoras nas universidades. Levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em conjunto com o Instituto Serrapilheira, de fomento à pesquisa, classifica essa discrepância como “efeito tesoura”. A expressão se refere ao corte da presença de mulheres na ciência, pois existem doutoras, mas poucas ocupando vagas nas salas de aula. Esse efeito se dá por fatores como maternidade, desigualdade de gênero e casos de assédio. Outro estudo do Serrapilheira, em 2020, mostra que a desigualdade racial se agrega ao problema: menos de 5% das docentes pesquisadoras são negras.

Luiz Agusto Campos, coordenador do Geema, argumenta que é preciso entender o efeito tesoura na ciência, para poder localizar onde se instala na carreira acadêmica. Em Ciências Agrárias, por exemplo, a pós-graduação conta com 51% de doutoras, sendo 25% mulheres, entre os docentes permanentes nas universidades brasileiras. Os índices mostram que as mulheres formadas não estão alcançando o topo da carreira. Já a área de Ciência da Computação tem uma das menores proporções de mulheres, tanto no corpo docente (cerca de 20%), quanto entre os doutores (18%).

Em outras áreas, como Arquitetura, História ou Artes, há equivalência entre doutoras e docentes. Há casos, ainda, como o de Ciências Biológicas: quase 50% de mulheres professoras, mas o percentual de doutoras intituladas chega a 70%. Assim, percebe-se sub-representatividade na área, com efeito tesoura no recrutamento docente. 
Para o coordenador do Gemaa, a inexistência do efeito tesoura não significa que há equidade. Por isso, é necessário desenvolver políticas para aumentar a representatividade das mulheres em discência e docência. 

Áreas com paridade de gênero no doutorado e na docência

  • Arquitetura e Urbanismo: com 53% de doutoras; e 51% de professoras permanentes.
  • História: 47% de doutoras; e 45%, professoras permanentes.
  • Artes: 48% de doutoras; e 51%, docentes permanentes.



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