Ação do MPF contra Samarco que cobra R$ 155 bilhões terá audiência em setembro

Ação do MPF contra Samarco que cobra R$ 155 bilhões terá audiência em setembro

Rompimento da barragem do Fundão deixou 19 pessoas mortas em novembro do ano passado

Agência Brasil

Rompimento da barragem do Fundão deixou 19 pessoas mortas em novembro do ano passado

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 A 12ª Vara Federal de Minas Gerais marcou para o dia 13 de setembro a primeira audiência de conciliação no processo onde o Ministério Público Federal (MPF) estima em R$155 bilhões os prejuízos causados pelo rompimento da barragem do Fundão, no município de Mariana, em novembro do ano passado. A audiência deverá ter participação de representantes da Samarco, de suas acionistas Vale e BHP Billiton, da União e do governo de Minas Gerais.

Por decisão da juíza Rosilene de Souza Ferreira, o governo do Espírito Santo foi excluído do polo passivo, sob a alegação de que o estado não tinha nenhum poder de fiscalização sobre a barragem, localizada em território mineiro.

Também foram excluídos do polo passivo diversos órgãos federais e estaduais indicados como responsáveis pelos promotores federais, entre eles a Agência Nacional de Águas (ANA), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema-MG). Segundo a juíza, deve haver "um mínimo de nexo causal entre a atividade ou omissão estatal e o dano, não havendo justificativa para a inclusão desta vasta lista de pessoas jurídicas de direito público, o que causará apenas atraso e tumulto no deslinde do feito, que já conta com mais de 11 mil páginas".

A ação do MPF foi ajuizada após os procuradores federais e estaduais se recusarem a participar do acordo firmado entre a Samarco, suas acionistas Vale e BHP Billiton, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo. As estimativas em torno do acordo apontavam para um gasto de R$ 20 bilhões ao longo de aproximadamente 15 anos. Para os procuradores federais, tais valores são bem inferiores à demanda real.

O acordo de R$20 bilhões chegou a ser homologado em maio pelo Tribunal Regional Federal de Brasília, em sessão presidida pela desembargadora Maria do Carmo Cardoso. No entanto, no início deste mês, a desembargadora Diva Malerbi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), suspendeu a homologação por considerá-la um desrespeito a uma decisão anterior do tribunal que definiu a competência da 12ª Vara Federal de Minas Gerais para analisar processos referentes à tragédia de Mariana. Diva também sugeriu a realização de debates mais amplos com cidadãos atingidos, representantes da sociedade civil organizada e membros da comunidade científica.

Responsável pela defesa da União, a Advocacia-Geral da União (AGU) é favorável a uma nova homologação do acordo de R$ 20 bilhões. Em manifestação entregue à juíza Rosilene de Souza Ferreira, a AGU considerou que a medida é a melhor solução para recuperar a bacia do Rio Doce. “A solução negociada, por ser global e holística, considera todas as comunidades, todos os municípios, dá tratamento privilegiado à população afetada e em especial àquelas comunidades onde houve perdas humanas e materiais”, destaca um trecho do texto.

O rompimento da barragem do Fundão deixou 19 pessoas mortas e é considerado a maior tragédia ambiental do país. Houve destruição de vegetação nativa e poluição das águas da bacia do Rio Doce desde Mariana até a foz, quando o rio deságua no mar em Linhares, no litoral norte do Espírito Santo.

Novo dique

Uma das principais divergências entre a Samarco e os promotores estaduais e federais envolve a eficácia das medidas de contenção dos rejeitos da barragem de Fundão. Cinco meses após a tragédia, o Ministério Público de Minas Gerais ajuizou uma ação com base em relatórios que atestavam ainda haver vazamento de lama para a bacia do Rio Doce, fato que a mineradora negava.

No mês passado, os escoamentos também provocaram uma cobrança do Comitê Interfederativo criado para supervisionar o cumprimento do acordo, que agora está suspenso. Para contornar a situação e evitar novos vazamentos, a Samarco pretende construir mais um dique, o S4. A mineradora considera urgente o início da obra para que possa concluí-la antes do período chuvoso. O Ministério Público é contra a medida.

Na opinião dos promotores estaduais, as políticas de segurança adotadas pela mineradora são paliativas e apenas emergenciais. Essa posição foi apresentada à comissão de deputados estaduais que monitora as consequências do desastre. A construção de um novo dique também enfrenta resistência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já que implicaria o alagamento de parte de um muro colonial, anexo a uma capela.

Na semana passada, o Ministério Público de Minas Gerais expediu também uma recomendação à Samarco para que submeta à aprovação dos órgãos ambientais estaduais competentes todas as medidas tomadas para controlar os danos à saúde e ao meio ambiente decorrentes do rompimento da barragem. O órgão também recomendou à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável que exerça poder de polícia ambiental e divulgue relatórios na internet semanalmente. Para os promotores responsáveis pela medida, a estratégia de controle de danos não pode ficar entregue à livre escolha ou definição da empresa que causou o desastre.

Projeto de Lei

Também na semana passada, representantes do Ministério Público estadual reuniram-se com o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Adalclever Lopes (PMDB). Durante o encontro, promotores entregaram a Lopes um projeto de lei de iniciativa popular cujo objetivo é garantir a efetiva segurança das barragens do estado que concentram rejeitos de mineração.

Construído a partir da campanha "Mar de lama nunca mais", o projeto obteve mais de 50 mil apoiadores, número bem superior ao necessário. Para dar início à tramitação no Legislativo mineiro, eram necessárias 10 mil assinaturas.

Entre as medidas sugeridas na proposta estão a proibição de implantação de novas barragens em áreas de risco para vidas humanas, a obrigatoriedade de auditorias técnicas de segurança e a priorização de ações voltadas para a prevenção e fiscalização.

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