Acesso à "pílula do dia seguinte" contra Aids pode ser ampliado

Acesso à "pílula do dia seguinte" contra Aids pode ser ampliado

Apenas RS oferta terapia pós-exposição nos serviços de emergência

AE

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A prescrição da "pílula do dia seguinte" para Aids pode mudar no Brasil. Para ampliar o acesso à terapia e com isso tentar reduzir o número de novas infecções no País, o Ministério da Saúde colocou em consulta pública um protocolo que torna único o tratamento com drogas antiaids indicado para pessoas expostas ao HIV, a chamada profilaxia pós-exposição.

Atualmente, a estratégia terapêutica muda de acordo com o grupo exposto ao vírus. Profissionais de saúde que tiveram contato com sangue ou secreções que possam ter HIV recebem um tratamento distinto de, por exemplo, mulheres vítimas de violência sexual ou de pessoas que tiveram uma relação sexual desprotegida. "Isso não é necessário. O tratamento único é igualmente eficaz, independentemente da forma de exposição", disse o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita.

Os protocolos distintos levam a uma redução na oferta dos antirretrovirais. "Centros especializados em acolhimento de mulheres vítimas de violência não se sentem autorizados a dispensar os remédios para uma pessoa, por exemplo, que tenha tido uma relação sexual desprotegida", relata Mesquita. "Com a uniformização, todos os centros vão poder atender todos pacientes. É uma forma de aumentar a rede de dispensação", completou.

Em 2014, 21.512 mil pessoas fizeram a profilaxia pós-exposição, um número considerado baixo por Mesquita. Do total, a maioria (40,8%) se expôs ao risco de contato com HIV em acidentes de trabalho. O segundo maior grupo foi o de pessoas que tiveram relações sexuais desprotegidas (33,2%), seguido por vítimas de violência (21,8%).

O tratamento sugerido em consulta pública é feito com a combinação de quatro drogas antiaids: tenofovir, lamivudina, atazanavir com ritonavir. A terapia tem de ser dada durante 28 dias. Uma outra mudança proposta pela consulta, que ficará 30 dias aberta para contribuições, é reduzir o tempo de acompanhamento dessas pessoas que fizeram a profilaxia pós-exposição de 6 meses para 3 meses. "Quando o protocolo havia sido feito, os exames não eram tão precisos e o risco de um falso negativo era maior", justificou o diretor.

Exemplo

Apenas o Rio Grande do Sul oferta atualmente a terapia pós-exposição nos serviços de emergência, que não fecham nos fins de semana ou à noite. A iniciativa, que faz parte de um projeto-piloto, deve ter os dados analisados até o fim deste ano. O plano é que, feita a avaliação, se estenda a iniciativa para todo o País. Para ter eficácia, o tratamento tem de começar 72 horas depois da relação de risco. "Não faz sentido as pessoas ficarem indo de serviço em serviço", disse o diretor.

Comportamento de risco

Pesquisas mostram que o comportamento de risco para aids aumentou entre brasileiros. Embora o nível de informação sobre a forma de transmissão do HIV seja alto, é baixo o uso de preservativo com parceiros casuais. "A terapia pós-exposição se transformou em uma opção que deve se juntar a outras formas de prevenção do HIV. O raciocínio é que é preferível tomar o medicamento por 28 dias do que durante toda a vida", afirmou o diretor.

Além de unificar a terapia, o governo quer ampliar os serviços que ofertam o tratamento. A ideia é acabar com o atendimento voltado a segmentos específicos e, na próxima etapa, prevista para 2016, estender a distribuição dos medicamentos aos serviços de emergência.

Depois da consulta pública, a proposta de mudança deverá ser avaliada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec).




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