Alta dos combustíveis afeta motoristas por aplicativo e taxistas em Porto Alegre

Alta dos combustíveis afeta motoristas por aplicativo e taxistas em Porto Alegre

Motoristas reclamam que não houve ajuste nas taxas das corridas

Felipe Nabinger

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O aumento dos valores dos combustíveis nas distribuidoras na semana passada impacta diretamente o consumidor na hora de abastecer. Para quem roda diariamente tendo o carro como instrumento de trabalho, a situação preocupa. Motoristas de transporte por aplicativo e taxistas de Porto Alegre têm sentindo os reflexos no bolso e, alguns deles, pararam ou pensam em parar de exercer a função.

“Existe a procura pelo aplicativo, mas o custo da gasolina é muito alta. Muito mal se paga a manutenção do carro. No último ano já pensei em abandonar pois não compensa”, diz Romildo Brum, 56, que há quatro anos faz corridas por aplicativos. Ele diz que houve momentos em que conseguiu ter bons lucros. “Quando a gasolina era mais barata, há uns dois anos e meio, isso já rendeu”, afirma. 

Cleusa Cabral Fagundes, 56, dirige há dois anos. Ela era cozinheira, mas por questões de saúde precisou mudar de área, além de ver o mercado de trabalho formal fechar as portas para pessoas de sua idade. Ela teme perder seu veículo pelos impactos dos altos custos. “Comprei esse carro e tenho que pagar a prestação, mas não estou conseguindo. Não tem como. Estou desesperada e não sei o que vou fazer”, afirma. 

O presidente da Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos (Alma-RS), Joe Moraes afirma que o trabalho foi afetado tremendamente. “Com a gasolina neste valor, a tarifa mínima não cobre um litro de combustível. Estamos praticamente pagando para fazer as corridas. Às vezes conseguimos empatar”. Ele estima um gasto de R$ 150 a R$ 200 por dia com combustível por parte dos motoristas.  “Acaba tendo que trabalhar de 12h a 14h por dia para pagar as contas”, diz.

A plataforma 99 reajustou em 5% o quilômetro rodado e diz testar uma solução de subsídio para acompanhar automaticamente as flutuações dos combustíveis, tanto para cima quanto para baixo. A Uber sinalizou um investimento de R$ 100 milhões no país nas próximas semanas, além de reajuste temporário de 6,5% a partir de ontem (segunda). No entanto, essa situação não foi percebida por motoristas como Brum. “Nos informaram sobre um reajuste provisório, mas por enquanto a tarifa está igual a da semana passada”, garantiu.

Tarifa congelada diminui ainda mais ganho nos táxis

O presidente do Sindicato de Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), Luiz Nozari, lamenta a alta dos combustíveis aliada à manutenção da tarifa do táxi. “O aumento dos combustíveis faz com que reduza ainda mais o nosso ganho, que já era pouco diante da pandemia e da concorrência dos aplicativos. Estamos procurando uma forma de reajustar a tarifa para continuar prestando um serviço de qualidade com preço acessível”, afirma. 

Nozari lembra que o último reajuste da tarifa aconteceu há quase seis anos, ainda em 2016. “Nossa defasagem já passa de 70%. Realmente está ficando insustentável esta situação. Nos cabe continuar sobrevivendo”. Oloir Pereira, 57, taxista há 22 anos, corrobora a situação. “Sentimos bastante no bolso pois o nosso ganho é o mesmo. Então impacta muito pra fazer compras, ir a um mercado”, lamenta.

Aluguel de carros também teve aumento

No caso dos motoristas por aplicativo, outro problema está no reajuste de valores nas locadoras de automóveis, visto que muitos utilizam carros alugados para trabalhar. O presidente da ALMA_RS diz que os valores subiram entre 10% e 15% nesta semana e dá seu exemplo particular. “Subiu cerca de R$ 100 por semana. Pagava R$ 437 e passou para R$ 482”, afirma Moraes. 

Ele diz que diante deste cenário muitos motoristas já estão entregando os carros. “Sabemos que há muitos motoristas saindo do aplicativo, mas há outros tantos entrando por causa do desemprego. Está se tornando um círculo vicioso”, analisa.


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