América Latina vai crescer menos com ônus da Venezuela, estima FMI

América Latina vai crescer menos com ônus da Venezuela, estima FMI

Fundo reduziu as expectativas para este ano no Brasil e no México

AFP

Venezuela está mergulhada em uma crise econômica colossal marcada pela hiperinflação, escassez de alimentos, entre outros

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A América Latina e o Caribe crescerão menos em 2019 e 2020 com o "ônus considerável" representado pela Venezuela, estimou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu último relatório "Perspectivas da economia global" divulgado nesta terça-feira. No relatório, conhecido como WEO por sua sigla em inglês, o FMI cortou sua previsão de crescimento para a região para 1,4% em 2019 e para 2,4% em 2020; 0,6 e 0,1 ponto a menos, respectivamente, do que as estimativas atualizadas de janeiro.

Além disso, reduziu as expectativas de crescimento para este ano no Brasil e no México, as duas maiores economias regionais, e projetou uma queda de 25% na volátil Venezuela. "A economia venezuelana deverá se retrair um quarto em 2019 e outros 10% em 2020, um colapso maior do que o previsto no WEO de outubro de 2018 e que gera um ônus considerável para o crescimento projetado para a região e para o grupo de mercados emergentes e economias em desenvolvimento nos próximos dois anos", afirmou o Fundo.

Vinte anos após a chegada à Presidência de Hugo Chávez, falecido em 2013, a Venezuela, país com as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, está mergulhada em uma crise econômica colossal marcada pela hiperinflação, escassez de alimentos e remédios, falhas de abastecimento de água e eletricidade e com a produção de petróleo reduzida à metade desde 2014.

"Neste momento é muito difícil fazer previsões para a Venezuela, por causa da crise humanitária, alimentar e de medicamentos", disse Oya Celasun, diretor do Departamento de Pesquisa do FMI. Em relação ao Brasil e ao México, os motores da economia latino-americana, o FMI destacou variações em relação às projeções de outubro do WEO. "Essas mudanças, em parte, refletem alterações nas percepções sobre a condução das políticas nos novos governos em ambos países", disse o WEO.

No Brasil, que ainda se recupera da recessão de 2015 e 2016, onde o ultra-direitista Jair Bolsonaro assumiu a presidência em 1º de janeiro, o Fundo estimou um fortalecimento do crescimento, de 1,1% em 2018 para 2,1% em 2019 e 2,5% em 2020. Mas para o México, governado desde 1º de dezembro por Andrés Manuel López Obrador, o FMI disse que a expansão permanecerá abaixo de 2% em 2019 e 2020, uma redução próxima de 1 ponto nos dois anos em relação ao WEO de outubro.

"Claramente, o México também foi afetado nos últimos anos por tensões comerciais com os Estados Unidos", disse Gian Maria Milesi-Ferretti, vice-diretor do Departamento de Pesquisa do FMI.

Bom prognóstico para a Argentina

Apesar de ter reduzido o crescimento da América Latina e do Caribe nesses anos, o FMI mostrou algum otimismo pela "estabilização financeira e recuperação" esperadas para a Argentina, terceira maior economia da região. O FMI está otimista com a Argentina - país que auxiliou no ano passado com a concessão de um empréstimo de 56 bilhões de dólares para enfrentar uma crise financeira e cambiária.

Esse montante é um recorde para a instituição que acordou com o governo de Maurício Macri em troca de um severo ajuste fiscal. Em seu relatório de abril, o Fundo disse que a economia argentina retrairá no primeiro semestre de 2019 "à medida que a demanda doméstica diminui com políticas mais rígidas para reduzir os desequilíbrios".

O organismo previu que o país voltará a crescer no segundo semestre do ano, à medida que a renda real se recupera e a produção agrícola é retomada após a seca de 2018. O PIB da Argentina vai recuar 1,2% em 2019, mas expandir 2,2% em 2020, segundo o Fundo.

Para a Venezuela, onde o WEO de outubro projetou uma hiperinflação sem precedentes de 10.000.000% para este ano, o Fundo manteve essa estimativa tanto para 2019 quanto 2020, após sinalizar uma inflação acumulada de 1.555.146% em 2018. Sobre o desemprego, a Venezuela também se destaca especialmente na região, com uma taxa estimada de 47,9% para 2020, acima dos 35% de 2018 e dos 44,3% de 2019, disse o Fundo.

Na Argentina, onde milhares de pessoas tomaram as ruas para protestar contra a implementação do acordo com o FMI, o Fundo projetou um desemprego de 9,9% para 2019 e 2020.


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